A história da colonização alemã no Brasil é um verdadeiro divisor de águas. Conforme o historiador Martin Norberto Dreher, a colonização iniciou em 1824, quando o País buscava a independência. Para isso, o exército brasileiro precisaria ser formado por tropas confiáveis. “Foi por isso que Leopoldina e José Bonifácio de Andrada e Silva, pouco antes de proclamarem a independência, enviaram à Europa o ajudante de ordens de Leopoldina com a incumbência de recrutar soldados que deveriam vir misturados a famílias de agricultores, como disfarce, pois a exportação de soldados estava proibida após a derrota de Napoleão Bonaparte”, explica o historiador.
“Enquanto os soldados ficariam no Rio de Janeiro para formar batalhões de estrangeiros, as famílias seriam enviadas para o Sul do País, onde formariam colônias. Em períodos de paz seriam agricultores, em tempos de guerra atuariam como soldados”, continua. Porém, Dreher acrescenta que os primeiros alemães a frequentarem o País não eram oriundos da colonização: no século 16 já havia a presença de falantes da língua alemã no Brasil.
Naquela época, a Alemanha estava devastada pelo resultado das guerras napoleônicas. A abolição da servidão feudal fez com que diversas famílias fossem expulsas do campo. Nas cidades, os artesãos perdiam seus empregos devido à Revolução Industrial. Com isso, a única alternativa para alguns povos foi atender ao chamado do Brasil para imigração e reconstruírem suas vidas em outro continente.
Porém, nada viria sem sangue, suor e lágrimas. Em veleiros com 30 metros de comprimento, as pessoas vinham em espaços apertados e com recursos limitados, o que ocasionou muitas doenças e revoltas. No dia 25 de julho, chegaram a São Leopoldo as nove primeiras famílias, que totalizavam 39 imigrantes.
Era necessário construir moradias e iniciar plantaões onde havia matas
Enquanto aguardavam suas terras, eles foram abrigados na área da antiga Feitoria do Linho Cânhamo. Como forma de homenagem ao santo de devoção da Imperatriz Leopoldina, o presidente da Província do Rio Grande do Sul, José Feliciano Fernandes Pinheiro, nomeou a colônia alemã de São Leopoldo. Em reconhecimento a isso, o Imperador Dom Pedro I concedeu-lhe o título de nobreza de Visconde de São Leopoldo.
Nos contratos estabelecidos com o Império, os primeiros colonos deveriam receber cerca de 75 hectares de terra, instrumentos agrícolas, moradia, sementes e dinheiro para a aquisição de alimentos. Porém, o diretor da Real Feitoria do Linho Cânhamo só recebeu ordem para receber a primeira leva seis dias antes de sua chegada. No final de 1824, as terras para onde os colonos seriam encaminhados ainda não estavam medidas.
Quando os territórios finalmente começaram a ser distribuídos, houve colono que recebeu parte do Rio dos Sinos. Além disso, o administrador vendia alimentos a alto custo e, não raramente, pedia “favores” para as mulheres em troca de suprimentos. Seis anos após a chegada dos primeiros imigrantes, o Parlamento retirou todo o auxílio para imigração e colonização.
Sobrevivência
Largados à própria sorte, os povos alemães precisaram aprender a sobreviver sozinhos. Para isso, desbravaram a mata, construíram suas moradas e prepararam a terra para o plantio. Tudo enquanto lidavam com situações que não conheciam até então: clima diferente, insetos perigosos e animais selvagens. Na ausência de animais para criação, a alimentação deles consistia basicamente em milho, fubá, batata inglesa, abóbora e feijão.
Para permanecer no País, os imigrantes precisavam lutar em todas as guerras e defender o território brasileiro-português. Entre os conflitos que demandaram seus serviços estavam a Guerra da Cisplatina (ocorrida entre 1825 e 1828), a Guerra do Paraguai (realizada entre 1864 e 1870) e a Revolução Federalista (que aconteceu entre 1893 e 1895).
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