A quatro meses das eleições municipais, muitos se perguntam qual o impacto que a tragédia climática do Rio Grande do Sul terá na escolha dos prefeitos e vereadores dos 497 municípios gaúchos. Destes, 475 foram afetados pelas enchentes, mais de 90% do total de cidades, segundo levantamento do governo do Estado.
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Há quem aposte na influência direta das históricas chuvas que atingiram o RS entre o final de abril e todo o mês de maio em alguns projetos individuais de reeleições e/ou sucessões políticas na região.
Ou ainda, na mudança de composições de chapas à majoritária, dadas como certas. Inclusive, com trocas de nomes lançados pelas siglas como pré-candidatos e outros tantos, antes apontados com potencial na disputa pelos s votos dos eleitores, perdendo espaço para personalidades que estão ganhando destaque devido ao trabalho desempenhado no enfrentamento à tragédia. “Há um impacto importante da catástrofe climática no rumo das eleições, é evidente”, avalia o cientista político Everton Rodrigo Santos, professor da Universidade Feevale.
O fato é que a população está atenta à eficiência da resposta governamental à tragédia (tanto no Legislativo como no Executivo), à eficácia das ações de emergência e ao suporte oferecido às vítimas. O mesmo vale para quem busca pela reeleição, como quem pretende entrar no jogo político.
“Alguns atores estão na linha de frente, aparecem mais e acabam se tornando opção, justamente devido ao fato de como eles lidam com essa catástrofe e isso vai impulsionar suas candidaturas, sem dúvida nenhuma”, avalia o professor.
Dois lados
Mas aí entra a ambiguidade da catástrofe. Quem é visto com coletes e galochas, carregando donativos ou em barcos atuando nos regastes às vezes é taxado por parte do eleitorado com oportunista da tragédia. No entanto, a ausência também pode ser um problema. “A apatia de políticos e pré-candidatos a cargos eletivos será posta na balança durante o pleito”, analisa Santos.
Em tempos de crise, a capacidade de agir de forma rápida e eficaz pode determinar sucesso ou o fracasso. “Os gestores serão cobrados nas urnas por aquilo que eles fizeram para população, pelo que entregaram efetivamente, enquanto Prefeitura, enquanto articulação com os governos estadual e federal. Claro, os gestores não serão os únicos cobrados, o empenho das lideranças locais, o trabalho destes pré-candidatos, estará em análise”, observa.
Interferência nas urnas
Defensor do adiamento do pleito para 2025, presidente estadual do União Brasil, o deputado federal Luiz Carlos Busato, aponta o aumento considerável da pressão da opinião pública sobre as autoridades como fator danoso para as eleições. “Até outubro, tendem (prefeitos) a se tornar heróis ou vilões aos olhos do eleitor”.
Na análise do político, o desastre natural abriu margem para ação de oportunistas. “Infelizmente vimos muitos oportunistas nesta história. Eu vi políticos e pré-candidatos pegando barco e saindo como herói. Mas não podemos nos esquecer de quem está trabalhando nos bastidores, nas articulações, em trazer recursos e soluções efetivas para a população”.
Ponto que também foi levantado pelo consultor em marketing político Fufa Azevedo (PT). “Se o governo é ruim em tempos normais, será pior ainda em uma enchente. Se o governo é bom, tende a atuar bem em uma catástrofe como a que vivemos aqui. O que não é admissível, é o oportunismo. O uso do sofrimento das pessoas para se promover eleitoralmente”.
Busato observa ainda que a lisura do pleito pode ficar comprometida a partir do momento em que os eleitores votam por emoção. “Todo mundo quer achar um Cristo pra crucificar, e sendo bem realista, infelizmente essa tragédia vai afetar sim o resultado das urnas.”
Argumento que é contraposto por Azevedo: “O povo sempre votou por afinidade e por se identificar com as propostas. O que a tragédia ampliou foi a visibilidade, a atuação de políticos e lideranças junto às comunidades.”
Impacto prático
O deputado estadual Del. Zucco (Republicanos) entende não ser “momento para embates políticos” e um adiamento da eleição seria adequado, em virtude do debate eleitoral afetar a recuperação do Estado. Cita a descompatibilização de secretários para concorrer como “fator preocupante”. “Nos preocupa muito ver que alguns pré-candidatos estão pensando em deixar seus cargos para concorrerem, visando só seus projetos pessoais, enquanto o Estado passa pela maior catástrofe climática e econômica da sua história.”
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Adiamento do pleito já foi descartado
A possibilidade de um adiamento das eleições já foi rechaçada em duas instâncias no último mês. Tanto o desembargador Voltaire de Lima Moraes, presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RS), como o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, descartaram a mudança. Voltaire deixa claro que as eleições serão mais desafiadoras. “Estamos adotando todos os procedimentos necessários para que elas possam ocorrer normalmente, em que pese as dificuldades.”
Novidade inesperada
Entre as mudanças de composição está a pré-candidatura do exdeputado federal e atual secretário estadual da Agricultura, Giovani Feltes à prefeitura de Campo Bom. O diretório local do partido, trabalhava com três nomes de possíveis pré-candidatos ao cargo, entre eles o do atual vice, Paulo Gomes e o vereador João Paulo Berkembrock.
Cotado pelo MDB para concorrer a prefeito de Novo Hamburgo, Feltes anunciou na última semana está “voltando pra casa”. “A notícia pegou a todos de surpresa, nem as pessoas mais próximas sabiam da minha decisão. Mas, acredito que posso colaborar com a cidade, a qual tenho uma ligação muito forte e fraterna”, admitiu Feltes em entrevista. Até quinta (6) ele deve deixar a pasta estadual para concorrer