Política
O futuro de Jairo Jorge: "Não há convite para exercer cargo no Governo Federal"
Em entrevista, o ex-prefeito diz que está cuidando da saúde e da vida pessoal. Jairo se coloca à disposição para ajudar na captação de recursos para Canoas
Última atualização: 17/01/2025 12:05
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Jairo precisou superar o afastamento do cargo público e uma inundação como nunca vista antes durante seu último mandato como prefeito de Canoas. Após a derrota nas urnas, o prefeito encontra tempo para respirar e retomar o fôlego para encarar novos desafios.
Em entrevista para o Diário de Canoas, ele trata do passado, do presente e do futuro, deixando claro que nada está definido em sua jornada política e profissional. “Sempre disse que sou jornalista, estava Prefeito”, observa.
DC - Em retrospectiva, 2024 foi o ano mais difícil que já enfrentou ou, pelo menos, um dos mais difíceis?
Jairo - Foi extremamente desafiador o ano de 2024. Canoas foi a cidade mais atingida, na maior tragédia climática da história do Rio Grande e do Brasil. Foi muito difícil ver e sentir as perdas que 150 mil canoenses tiveram, mas também foi emocionante assistir a ação de milhares de voluntários e o trabalho das forças policiais e militares, bem como a resiliência e a força do nosso povo na reconstrução das suas casas e de suas vidas.
DC - O senhor destaca que Canoas a primeira cidade a retirar as águas?
A ação da Prefeitura foi fundamental. Não foi obra do acaso que Canoas tenha sido a primeira cidade a retirar as águas, a primeira a limpar a cidade e a primeira a recuperar 70 prédios públicos nas áreas da educação, saúde e assistência social. Enquanto em Porto Alegre retiraram 92 mil toneladas de resíduos, em Canoas foram 400 mil. Tivemos 40 escolas reformadas e recuperadas. Fomos também a cidade que implantou e garantiu aos seus cidadãos a maior rede de proteção e apoio social e econômico entre os municípios atingidos, com a distribuição de 343.960 cestas básicas, do auxílio reconstrução municipal de R$ 2 mil reais que beneficiou 5 mil famílias, o passe livre no transporte durante oito meses e ajuda com R$ 12,5 milhões para 1.500 microempresas e MEIs.
DC - Surgiram críticas à sua administração. Como avalia isso?
Jairo -É natural que qualquer governo ao assumir faça um balanço. Um prefeito é eleito para resolver problemas, buscar soluções, e não jogar a culpa nos outros. Assumi a Prefeitura em 2021 com um déficit financeiro de R$ 281,4 milhões (R$ 360 milhões em valores atualizados pela inflação) e um déficit orçamentário de R$ 250 milhões (R$ 320 milhões atuais). Em 2024, minha administração deixou um déficit financeiro de R$ 166 milhões e um passivo em razão da enchente de R$ 127 milhões, somando, portanto, um déficit de R$ 293 milhões, menor que o déficit de 2020, que chegou a R$ 360 milhões. O déficit orçamentário de 2025, pela primeira vez previsto na Lei Orçamentária, é de R$ 364 milhões, portanto, próximo do déficit de 2021. O simples confronto do que deixamos, ou seja, R$ 657 milhões, com o que recebemos, no valor atualizado de R$ 680 milhões, mostra de forma inequívoca que, apesar de todas as dificuldades, impedimos a ampliação do déficit. Inclusive, quero me colocar à disposição da nova administração para irmos juntos à Brasília para garantir os recursos que Canoas aguarda do Governo Federal. Pedimos R$ 253 milhões, mas recebemos R$ 155 milhões, faltam R$ 98 milhões para saldar a dívidas com a limpeza da cidade, locação de motobombas e compras de alimentos. Se esses valores tivessem sido repassados, nosso déficit financeiro seria de R$ 195 milhões. Somos uma oposição responsável e propositiva.
DC - Houve rumores que o senhor assumiria a direção da Trensurb; que mudaria de partido; e que concorrerá a um cargo como deputado federal. O que é verdade?
Jairo - Nada disso é verdade. Escolhi o PSD, um partido de centro, que tem uma das maiores bancadas na Câmara Federal, a maior bancada no Senado e foi o partido que mais elegeu prefeitos e prefeitas no Brasil em 2024. Um grande partido que tem um grande líder como presidente. Tenho uma relação de admiração e respeito por Gilberto Kassab e total fidelidade a ele. É o partido que escolhi para o meu futuro. Não há convite para exercer cargo no Governo Federal. Se ocorrer uma eleição suplementar em Canoas em 2025, ouço de uma parte da população o desejo que eu volte a concorrer. Se isso não acontecer, algumas pessoas defendem que, em 2026, eu seja candidato a deputado estadual por Canoas, por estarmos há duas legislaturas sem representante na Assembleia Legislativa. Irei avaliar isso no tempo certo, na minha opinião é muito cedo para qualquer definição.
DC - O senhor disse várias vezes ter sido o político gaúcho mais investigado da história. O processo continua? Existe receio que volte a ser implicado em alguma investigação?
Jairo -Minha vida foi revirada, todos os meus atos como Prefeito foram investigados. Eu realizei mais de 2 mil licitações e mesmo nos três processos licitatórios questionados na Operação Copa Livre, não há nenhuma evidência de dolo ou danos ao erário público. Ao contrário, os três contratos tiveram valores menores do que eram praticados anteriormente. Portanto, houve economia e não prejuízo. Sequer a denúncia foi aceita, portanto, não há julgamento em andamento. Tenho a consciência tranquila e serenidade.
DC – Qual a sua avaliação sobre a última eleição? Acha que a tensão criada pelo afastamento imposto e o desgaste de sua relação com o vice Nedy de Vargas Marques impactaram o resultado?
Jairo - Fui o candidato a prefeito mais votado no lado oeste e se dependesse da população atingida pela enchente eu seria o eleito. Ocorreram muitas interferências no processo eleitoral, especialmente com a divulgação massiva de fake news. É claro que a perseguição e os afastamentos injustos que sofri também prejudicaram. Mas respeito o resultado eleitoral. Procurei trabalhar até o ultimo dia. Deixei um legado de 512 obras entre 2021 e 2024. Nos meus três governos foram 1.347 obras realizadas. Deixei 22 obras em andamento para a nova gestão, que tenho certeza que irão continuar.
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DC - Além da perda de vidas e a consequente destruição causada pelas cheias, o ex-prefeito já mensurou o quanto a tragédia que atingiu Canoas em maio afetou a sua imagem? Como avalia sua atuação?
Jairo -Infelizmente, pessoas inescrupulosas inventaram mentiras e as propagaram. Naquele momento, entendi que o mais importante era trabalhar e não ficar respondendo aos ataques nas redes. Procurei fazer o melhor, mas nem sempre conseguimos fazer tudo que é necessário em meio a uma tragédia com esta dimensão. É muito fácil agora ser profeta do acontecido. O mais interessante é que alguns líderes da oposição, que hoje são governo, me criticaram por pedir a evacuação dos bairros naquele momento, e depois, nas eleições, me atacaram dizendo que não pedi a evacuação. Mas vou olhar para frente e trabalhar pela cidade.
DC - Ainda sobre a última eleição, o senhor guarda ressentimento de aliados que se afastaram?
Jairo -Não guardo nenhum ressentimento. Os políticos e os partidos tomaram suas decisões e fizeram suas escolhas. A democracia é assim. É preciso saber perder para poder ganhar. Se iniciarmos uma disputa entre o presente e o passado, corremos o risco de perder o futuro, já nos ensinava Winston Churchill.
DC - O senhor explicou ter trabalhado até o dia 31 de dezembro. Houve metas que não conseguiu alcançar?
Jairo -Trabalhamos muito e não diminuí o ritmo depois da eleição. Fico feliz por Canoas ter sido a primeira a cidade a começar as obras do cinturão de diques e de eu ter entregue a primeira delas. Gostaria de ter tido tempo para colocar a saúde em ordem. Entre setembro e novembro de 2023, estávamos organizando um recadastramento das demandas de cirurgias, exames e consultas com especialistas. Infelizmente, ficou incompleto esse trabalho. Os canoenses podem ter certeza que, mesmo diante das dificuldades, me esforcei muito para fazer o melhor como prefeito de todos os canoenses.
DC - O que o Jairo anda fazendo? Conseguiu desligar um pouco?
Jairo -Estou procurando colocar tudo em ordem. Diante dos desafios de 2024, priorizei o trabalho como prefeito de Canoas, deixando a vida pessoal e familiar em segundo plano. Estou procurando cuidar da saúde, caminhar, ler e estudar. Estou focado em desenvolver novas ideias para projetos de comunicação. Sempre disse que sou jornalista, estava Prefeito. É a minha profissão e tenho muito orgulho dela.