Nos últimos 20 anos a economia gaúcha teve um crescimento pífio, abaixo de 2% ao ano. Para tentar virar este cenário, o governo do Estado apresentou nesta quarta-feira (30) o Plano de Desenvolvimento Econômico, Inclusivo e Sustentável. O documento, que teve sua apresentação oficial realizada na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, traz um diagnóstico sobre a situação da matriz econômica gaúcha e traça planos para que nos próximos seis anos o estado tenha um crescimento anual do Produto Interno Bruto (PIB) de 3% ao ano.
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Considerada uma meta bastante ousada e otimista até mesmo pelos integrantes do governo, o plano se baseia em três pilares: desenvolvimento econômico, inclusão e sustentabilidade. Dentro destes pilares foram traçadas cinco prioridades estratégicas de investimento: capital humano, inovação, ambiente de negócios, infraestrutura e recursos naturais.
A apresentação oficial aconteceu pela parte da tarde, com a participação do governador Eduardo Leite (PSDB). Contudo, durante a manhã, o vice-governador, Gabriel Souza (MDB), e alguns secretários realizaram uma apresentação para jornalistas detalhando os aspectos do Plano.
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O planejamento começou a ser feito antes das enchentes de maio que alteraram drasticamente o cenário econômico do estado e levou à paralisação temporária do diagnóstico. Passado o momento mais crítico da crise, a construção do Plano voltou a ser feita com a participação de cerca de 500 pessoas, incluindo lideranças do governo, do setor privado e da academia. Todo o processo teve a consultoria da empresa McKinsey.
Diagnóstico: baixa produtividade e déficit populacional
Uma das constatações do levantamento foi que a baixa no PIB gaúcho é consequência direta da baixa produtividade dos setores econômicos aliado com a perda de pessoas em idade de trabalho para outros estados e países.
Nos últimos anos, o Rio Grande do Sul viu partirem cerca de 700 mil pessoas, que buscaram outros. Tornar o estado atrativo para pessoas de outros estados e mesmo para que os gaúchos permaneçam aqui está entre os desafios.
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“Acho que o fator mais fundamental (para atrair e manter pessoas) é o emprego, mas claro que tem outros fatores, que é a comunicação não só para as empresas mas para as pessoas que o Rio Grande do Sul é um bom lugar para morar”, pontuou o sócio fundador da McKinsey, Sérgio Canova Júnior.
Como a taxa de natalidade gaúcha estabilizou e a tendência das próximas gerações é não termos um crescimento demográfico, essa comunicação é considerada necessária para atrair pessoas de outros locais. Os cálculos apontam que é preciso a chegada de aproximadamente 800 mil imigrantes no estado para viabilizar os projetos econômicos. “A gente nunca se vendeu como um lugar legal para morar”, complementa Canova.
Mas além da dificuldade quando o tema são recursos humanos, o Rio Grande do Sul também enfrenta problemas no resultado de produtividade, isto é o quanto os setores econômicos conseguem produzir com menos, que caiu ao longo dos anos.
Um dos exemplos é o agronegócio, que segue como principal setor econômico do Estado. Porém, mesmo sendo um dos mais fortes do país, o campo ainda ocupa muitas terras com resultados piores por hectare do que outros estados das regiões Sudeste e Centro-Oeste. “O que está no Plano é o aumento a produtividade, enquanto outros estados ainda estão no focados no crescimento na mão de obra, vamos estar um passo à frente”, aponta o secretário-chefe da Casa Civil, Artur Lemos.
Projetos e financiamento
O Plano adota como método a proposta de investir “as fichas no lugar certo”. Isso significa apostar nos produtos já destacados no Estado com maior potencial para agregar valor nos próximos anos. Neste sentido, o estudo apontou que o estado tem o potencial para ganhar espaço na cadeia agropecuária e na transição energética.
Para efetivar as propostas, o governo aposta na criação da Agência de Desenvolvimento Invest RS. A entidade privada já inicia com financiamento público de R$ 17 milhões, com a missão de divulgar para outros estados e países as oportunidades de negócios no Estado, algo parecido com o que é feito em nível nacional pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex).
Durante a tarde, o governador Eduardo Leite confirmou o nome do ex-diretor do Tecnopuc, Rafael Priklandnicki, como primeiro presidente da Invest RS. O financiamento dessas atividades será feito, em parte, pelo Fundo do Plano Rio Grande (Funrigs), criado para guardar os recursos economizados com a suspensão do pagamento da dívida do Estado com a União nos próximos três anos.
Estimado em R$ 6,5 bilhões, o Funrigs tem como objetivo principal a reconstrução da estrutura destruída em razão das enchentes. Mas Leite e outros integrantes do Executivo já apontaram que esse dinheiro também será utilizado para garantir investimentos no Estado.
Leite também destacou a necessidade de continuidade do Plano, mesmo que o comando do governo troque de mãos. “Não podemos deixar que a democracia seja uma armadilha de eterno recomeço”, afirmou o governador em relação à continuidade do planejamento mesmo após o fim do governo.
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