Desde o início dos anos 90, com a popularização da Internet, as redes sociais têm deixado a corrida eleitoral cada vez mais digital. No pleito de 2024, não seria diferente. Entre as principais novidades da campanha deste ano estão as normas estabelecidas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre uso de Inteligência Artificial (IA) – tecnologia com capacidade de criar, quase sem auxílio humano, peças de campanha como slogans, vídeos, jingles, propagandas e até mesmo planos de governo.
A Corte liberou a utilização de IA na campanha, em contrapartida, criou medidas para regulamentar o uso da ferramenta, garantir a transparência e a equidade no processo eleitoral e evitar que seja usada para criar desinformação ou na tentativa de manipular a opinião do eleitor.
“A gente tem que aprender a verificar a informação e não simplesmente usar a credibilidade daquela pessoa que é próxima, que está nos repassando, como uma forma de verificar”, alerta o doutor em Ciência da Computação e professor do Departamento e Tecnologia da Informação da Universidade Feevale, Rodrigo Rafael Villarreal Goulart.
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A ferramenta não é novidade, mas o modelo chamado de generativo, capaz de criar elementos como imagens e textos, se popularizou em 2022 com o ChatGPT. No início deste mês, a Open AI, criadora da tecnologia, anunciou que a versão gratuita ganhou a função de criar imagens, acendendo o alerta sobre o uso nocivo da IA.
“Basta pedir ao ChatGPT para criar uma imagem para uma apresentação, personalizar um cartão para um amigo ou mostrar como algo se parece”, diz a publicação da empresa no X, antigo Twitter.
Mas como saber se o conteúdo é verdadeiro ou sofreu manipulação? Conforme o especialista, a receita é simples e conhecida há gerações: “A melhor maneira de identificar se a informação é falsa é consultar fontes que fazem a investigação, como os jornais e portais com credibilidade”, orienta Goulart.
Na outra ponta da balança, profissionais que atuam em campanhas afirmam ser possível fazer bom uso das tecnologias como ferramenta de marketing político. Integrante do Instituto de Pesquisa da Cultura Digital da Unisinos, Gustavo Fischer aponta a agilidade e, sobretudo, o chamado microtargeting, o direcionamento de conteúdo específico para diferentes setores como fatores favoráveis na construção de campanha.
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“É possível processar vários comentários nos perfis dos candidatos usando as próprias redes sociais e identificar demandas que possam nortear propostas dos candidatos ou gerar os seus discursos. Isso eu acho interessante: conseguir compilar informação para tomada de decisão e a inteligência artificial pode ser uma colaboradora neste sentido”, pondera.
Após experiências nocivas com as recentes disputas eleitorais na Argentina e nos Estados Unidos, ainda em curso, onde a inteligência artificial foi utilizada para a propagação de notícias falsas, o especialista observa necessário “estar cientes das regras e utilizar a tecnologia de maneira ética e transparente para garantir a integridade do processo eleitoral”. “É um caminho para gerar conteúdo, mas não perdendo o foco que é o compromisso público com o eleitor”, conclui.
Como se proteger?
Mas como identificar se o vídeo foi modificado por meio de IA? “Até o momento, é uma questão que depende da empresa que está disponibilizando a informação, que informe que o conteúdo foi produzido ou modificado com IA. Ainda não existe tecnologia ou ferramenta que permitam essa verificação”, explica Goulart.
A Corte liberou a utilização das ferramentas para produção de conteúdos, mas com ressalvas: as peças publicitárias geradas por inteligência artificial devem sempre estar acompanhadas de um alerta sobre a utilização do recurso em qualquer modalidade de propaganda eleitoral.
Além disso, os candidatos não poderão usar aplicativos para simular conversas deles com quem quer que seja (pessoas reais ou inventadas), o que é chamado de chatbots e avatares. Há também proibição do uso de deepfake: conteúdo produzido por IA que reproduz falsamente voz e imagem de pessoas reais.
Como denunciar
Irregularidades relacionadas ao uso de IA na campanha eleitoral podem ser denunciadas à Justiça Eleitoral através do aplicativo Pardal, disponível para dispositivos Android e iOS. Além disso, o TSE oferece o Sistema de Alertas de Desinformação Eleitoral, que permite reportar casos de desinformação, ameaças, incitação à violência, uso inadequado de IA e outras irregularidades.
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