Bem avaliado pela população e com chances de ser reeleito, o prefeito Júlio Campani (PSDB) surpreendeu e confirmou o que tinha afirmado ainda em 2020: não vai tentar o segundo mandato na prefeitura de São Sebastião de Caí nas eleições de outubro. A posição, porém, foi definida por uma série de eventos dos últimos quase quatro anos.
ELEIÇÕES: Conheça os candidatos à Prefeitura de São Sebastião do Caí
O gestor segue no cargo até 31 de dezembro e na sequência se aposenta da carreira política. A decisão, confirmada no início deste mês, muda o cenário da sucessão municipal na cidade. Se Campani tentasse se reeleger, era esperada uma polarização entre ele e o ex-prefeito Darci Lauermann (MDB), que foi favorito em 2020 e acabou perdendo para o atual prefeito por uma diferença de 3.406 votos.
SAIBA MAIS: Como descobrir se fui selecionado para ser mesário? Conheça funções e benefícios
“É minha posição de contrariedade à ideia da reeleição. Falei sobre isso em 2020 e reafirmei ao longo do último ano”, declara, para justificar a decisão. Segundo ele, a sua retirada da disputa eleitoral pode “abrir espaço para novas lideranças”.
“Enxergo que o Caí precisa ter lideranças jovens que possam pensar a cidade para daqui a 10, 20 anos e nós temos nomes que estão apresentando um bom trabalho. Precisamos abrir espaço para essas lideranças”, argumenta.
Pandemia e as recorrentes enchentes
Na balança, além da contrariedade à reeleição outro fator influenciou diretamente na definição do chefe do Executivo caiense. A gestão da crise sanitária da pandemia de Covid-19, posteriormente agravadas pelas 12 enchentes registradas na cidade no período de um ano foram determinantes para a aposentadoria.
LEIA TAMBÉM: Campanhas eleitorais já ganham forma e materiais na região
Aos 72 anos ele afirma não ter condições “físicas e emocionais” de administrar o município de mais de 24 mil habitantes por mais quatro anos. “As enchentes, principalmente a de novembro de 2023 e a de maio deste ano, geraram um desgaste físico e emocional incalculável’, revela, visivelmente emocionado.
Na semana em que a cidade completou 149 anos de emancipação aconteceu a maior enchente da história do município, com o nível do Rio Caí atingindo os 17,6 metros na noite de 2 de maio de 2024. A cota de inundação é de 10,50 metros.
“Quem está de fora enxerga de uma forma, mas que está vivendo esse processo, é muito desgastante e precisa de muita serenidade para tomar decisões rápidas e assertivas em um cenário de crise nunca visto. Naquele momento nós precisávamos salvar vidas e foi nisso que foquei”, observa ao relembrar os dias de trabalho ininterruptos.
VIU ESSA? Como será a disputa nos municípios com apenas um candidato a prefeito
“Toda enchente que vem, além do estrago, prejuízo econômico, ela traz junto prejuízo social e emocional muito grande. E como se gasta energia com isso. É o retrabalho, ele estaca o trabalho de desenvolvimento da cidade”.
Metas para cumprir até dezembro
A decisão de Campani deixou os seus aliados preocupados com a dificuldade de encontrar uma candidatura forte para manter o grupo no poder. Mas ele afirma que deixa o governo municipal com a “consciência tranquila e sentimento de dever cumprido”.
“De quatro anos de governo, eu só tive dois – os outros dois foram de pandemia e enchentes -, o que normalmente se faz em quatro anos, nós tivemos que fazer em dois anos. Diante de todas essas dificuldades, eu saio muito tranquilo, eu fiz minha parte”, avalia.
No entanto, o clima não é de “fim de expediente” na Rua Marechal Floriano Peixoto, 426, sede do Centro Administrativo. Por lá, o trabalho segue em ritmo acelerado. A meta do prefeito é concluir ou dar encaminhamento a uma série de obras e ações governamentais em análise no cerca de 140 dias que restam de mandato.
“A reconstrução do Caí, assim como todo o Estado, vai levar ainda de dois a três anos. No rescaldo das enchentes, tem muita coisa a ser feita e neste curto espaço de tempo eu não vou conseguir fazer, mas o que puder ser feito, será”, admite.
Luta no pedágio
Entre as obras que devem ser entregues pelo gestor está a pavimentação de um trecho de mais de 1,7 quilômetro da Estrada do Passo da Taquara. A via é a principal alternativa de desvio do pedágio do quilômetro 4 da RS-122, localizado no bairro São Martim.
Ele foi um dos grandes críticos da implantação do sistema de cobrança, que dividiu a cidade e motivou rompimento político entre Campani e o governador Eduardo Leite (PSDB). “Lutamos muito, diante da teimosia do governo do Estado e da própria concessionária que insistiam em instalar o pedágio aqui. Não posso dizer que fui vencido, o governo cedeu, conseguimos protelar o início da cobrança e antecipar a instalação do sistema free flow, o que evitou uma série de desapropriações”, detalha.
Futuro ainda em análise
Campani, adianta que ao final do mandato provavelmente deve voltar para a iniciativa privada, “talvez eu abra escritório de advocacia”, disse, sm se preocupar com os próximos passos, desta vez longe da política.
LEIA TAMBÉM
“É uma coisa não está me preocupando neste momento, minha prioridade é encerrar bem o mandato”, declarou, descartando a possibilidade de disputar outras eleições, para outros cargos políticos. “Isso não passa pela minha cabeça”.