Uma reportagem publicada nesta terça-feira (22) pelo site UOL coloca o ex-prefeito de Canoas e atual deputado federal Luiz Carlos Busato (União Brasil) como citado em delação envolvendo o caso Gamp, que foi polêmico na cidade entre 2016 e 2018.
Por meio de nota, o deputado diz que “trata-se de uma gravação de origem desconhecida e de conteúdo falso a respeito de um processo em que não sou citado e não sou réu”. Informa ainda que já contratou advogado e está estudando “todas medidas cabíveis para tratar na Justiça deste tema que surge, curiosamente, na última semana da eleição”.
Busato é um dos principais apoiadores da campanha do vereador Airton Souza (PL), que disputa a Prefeitura de Canoas ao lado de Rodrigo Busato, filho do deputado. A chapa foi a mais votada no primeiro turno e tenta vencer neste domingo (27) a disputa contra Jairo Jorge (PSD).
Segundo a reportagem do UOL, que foi repercutida também no jornal O Estado de S.Paulo, o médico Cássio Souto dos Santos, que estava à frente da Gamp na época, entregou áudios ao Ministério Público Federal (MPF) mostrando uma suposta negociação de propina pelo então prefeito. As gravações ambiente teriam sido feitas pelo próprio médico.
Em um dos áudios, uma voz atribuída a Busato negocia valores de uma suposta propina. “Se estamos aumentando R$ 4 milhões, R$ 5 milhões, acho que tem condições de o Gamp pegar uma parte e colaborar conosco”, cita o áudio atribuído ao então prefeito.
A mesma voz aparece pressionando para que a propina seja paga em dia, cita valores na ordem de R$ 800 mil, reclama do que considera proposta indecorosa de parcelar a propina e até faz pouco caso de investigações da Polícia Federal.
Em um trecho das gravações supostamente entregues ao MPF o médico diz que “está difícil andar com dinheiro por aí” e a voz atribuída a Busato responde. “O que me interessa é o nosso acordo. Não podemos ficar indefinidamente na esperança de ‘ah, agora tem a Polícia Federal, tem não sei o que'”.
Segundo a reportagem do UOL, o acordo de delação entre o médico e o MPF foi firmado em 2020, já durante a pandemia. As gravações teriam sido feitas em 2018, segundo ano do governo Busato em Canoas. A Gamp havia sido contratada ainda por Jairo Jorge, no fim de 2016, para prestar serviços na área da saúde em Canoas.
Em 2018, o Ministério Público do Rio Grande do Sul revelou suspeitas de superfaturamento e sobrepreço nos contratos entre a Prefeitura e a Gamp. A organização recebia em torno de R$ 10 milhões por mês pelos serviços prestados em Canoas.
No fim de 2018, uma operação do Ministério Público prendeu três pessoas ligadas à organização, incluindo o médico que fez as gravações e a suposta delação. Ele era suspeito de peculato e lavagem de dinheiro. Na época o MPF informou que o prejuízo aos cofres públicos seria de quase R$ 23 milhões.
Logo após a operação, o caso acabou passando para o Ministério Público Federal (MPF), pois envolvia recursos federais destinados para a área da saúde. Segundo o UOL, a delação do médico foi feita na Procuradoria-Geral da República por envolver políticos com foro privilegiado.
Ainda segundo a reportagem, a delação foi homologada pela ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Nancy Andrighi em 2002. Neste período teria sido iniciada a investigação de um possível “núcleo político” do caso Gamp.
Foram abertos 46 inquéritos, todos sigilosos. Destes, 17 já viraram ações penais. Segundo o MPF, ainda há investigação em curso. Além do então prefeito, secretários municipais da época também são citados nos diálogos gravados.
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