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CASO INTERNACIONAL

"Vivia de golpe em golpe", afirma delegado sobre suspeito de lavagem de dinheiro em Nova Petrópolis

Argentino abriu o estabelecimento em maio deste ano e já responde processo desde 2022, quando foi preso pela Polícia Federal

Fernanda Steigleder Fauth
Publicado em: 16/09/2024 às 13h:44 Última atualização: 16/09/2024 às 16h:00
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“Ele dá uma pequena entrada, faz um contrato, ludibria as pessoas, entra na residência e pega dinheiro emprestado com funcionários do restaurante prometendo situações que não existem mais.” A afirmação do delegado da Polícia Civil de Nova Petrópolis ao ABCmais diz respeito ao proprietário de um restaurante temático argentino na cidade, alvo de operação contra lavagem de dinheiro realizada nesta segunda-feira (16)

Veículo foi apreendido na Operação Tango Gaúcho, em Nova Petrópolis



Veículo foi apreendido na Operação Tango Gaúcho, em Nova Petrópolis

Foto: Polícia Civil

A ação que cumpriu dois mandados de busca, denominada Tango Gaúcho, teve como objetivo desmanchar esquema de lavagem de dinheiro, inclusive a nível internacional. O argentino Guillermo Saul Ameri, dono do estabelecimento, foi preso em 2022 pela Polícia Federal, pelo mesmo crime, e responde na Justiça federal ação penal. Na época, foi encontrado com US$ 18 mil e R$ 15 mil dólares em espécie, sem comprovação de origem lícita.

Início da investigação

As informações chegaram até a Delegacia de Nova Petrópolis a partir do fato de que diversos intermediários estariam sendo cooptados para receber valores – remessas internacionais – em casas de câmbio de Caxias do Sul e Porto Alegre. Desde então foi feito o levantamento e foi encontrado que o investigado já havia sido preso anteriormente por esse fato, por aplicar golpes no Paraguai. 

Conforme reportagem do Ministério Público do Paraguai, Ameri estaria foragido naquele país após aplicar golpes relacionados à venda de títulos falsos de uma herança de origem brasileira, o que causou prejuízos para mais de 300 pessoas. Ele seria um dos principais líderes. Além dele, outros quatro estariam envolvidos nesses crimes no exterior.

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O grupo solicitava uma quantia de US$ 1 mil dólares, para ingressar em um grupo de WhatsApp e acompanhar os trâmites administrativos. Uma vítima chegou a pagar mais de 200 milhões de guaranis paraguaios, o equivale a mais de R$ 140 mil. Os crimes ocorriam, pelo menos, desde 2019.

Na cidade da Serra gaúcha, uma série de problemas começaram a surgir, principalmente com contratos de promessas vazias, de compra e venda de imóveis. “Ele dá uma pequena entrada, faz um contrato, ludibria as pessoas, entra na residência, pega dinheiro emprestado com funcionários do restaurante prometendo situações que não existem mais”, explica o delegado Fabio Peres.

Apesar de ser considerado líder de um grupo no exterior, outros membros citados pelo Ministério Público paraguaio não aparecem nas ações da Serra. “Existe um nome de um paraguaio que não foi encontrado, teria voltado para o Paraguai. Ele ficava junto com o restaurante e era quem ia nas casas de câmbio para sacar valores em espécie através de terceiros, o que é crime, é lavagem de dinheiro. Vinham as remessas do exterior e para não usar o nome dele, usava de terceiros para esconder a origem”, revela o responsável pela DP. 

Ainda conforme Peres, o suspeito vive de golpes. O argentino chegou a morar em Gramado, por alguns meses, de locação, em um condomínio de alto padrão. Saiu e não pagou os aluguéis. “E assim ele vai, de lugar em lugar. Aqui [Nova Petrópolis], ele se fixou um pouco mais, abriu o restaurante em maio, bem no período das chuvas, e usava isso como desculpa para pegar valores emprestado. Ele está dando prejuízo em vários setores, comércio, prestadores de serviço, fornecedores”, conta. 

Em Picada Café, chegou a fazer contrato de compra com imobiliária de uma casa. Deu sinal de R$ 20 mil para entrar na residência, com a promessa de R$ 1 milhão em dezembro. “Esse sinal de entrada é oriundo de um funcionário dele, que emprestou o dinheiro, com a promessa que o tornaria sócio do restaurante. Ele vivia de golpes e ganhou muito dinheiro no exterior entre 2019 e 2020. Até pagou locação, por exemplo, do local, mas era dinheiro já desses golpes no Paraguai”, pontua o delegado. 

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“Ele nunca esteve no ramo alimentício. Vive iludindo as pessoas pelas cidades. E aí ia morar nessa mansão, aproveitar o status e tentar angariar outros empresários, pois vivia assim, de golpe em golpe. E ele estava se preparando já para sair da cidade, para ir embora”, frisa. 

Próximos passos

Os mandados cumpridos de busca e apreensão ocorreram no restaurante e na residência do suspeito e um veículo Mercedes foi apreendido, assim como um passaporte de terceiros e diversos documentos e celulares. 

Depoimentos ainda são colhidos pelas equipes de investigação. A partir de agora, todo o material será analisado para possíveis aproveitamentos de provas. A Polícia Civil também deve verificar como está a questão processual de 2022, que está na esfera federal e, a partir de possíveis evidências, novas medidas cautelares podem ser solicitadas. 

Ainda de acordo com o delegado Fabio, o caso poderá ser declinado para a Justiça federal, devido à ação que já está vigente. 

“A operação foi importante para frear os crimes da cidade e para que pessoas de bem não fiquem lesionadas, pois tem uma série de prestadores de serviço e terceiros que estavam sendo prejudicados”, finaliza Peres. 

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