A nebulosa perseguição policial que resultou na morte de um jovem em Novo Hamburgo, na madrugada de sexta-feira (5), ganha contornos ainda mais intrigantes. Conforme testemunhas, o motoboy Rafael Gonçalves dos Santos, 25 anos, estava no banco traseiro de um carro em fuga quando levou o tiro fatal na cabeça. Era um Corolla, conduzido por um amigo. Os brigadianos envolvidos na ocorrência, segundo a delegada de Homicídios, Marcela Ehler, serão ouvidos nos próximos dias.
“Acreditamos que o rapaz não parou para abordagem porque estava sem carteira de habilitação e o carro era de terceiro. Essa perseguição durou menos de duas quadras. Se fosse o Rafael o motorista, teria parado na hora”, declara um parente, que pede para não ser identificado. De acordo com ele, além da vítima e do condutor, estavam duas amigas no Corolla. “Isso não foi uma abordagem. Foi um crime”, desabafa outro familiar, que também pede o anonimato.
Pontos obscuros
A delegada não informa se as armas dos policiais foram apreendidas para perícia. “Dado sigiloso referente à investigação”, observa. Ela também não diz em quais ruas do bairro Santo Afonso os fatos ocorreram. Os principais pontos a serem elucidados é como aconteceram a tentativa de abordagem e a perseguição até o desfecho com o tiro. Também não está esclarecida a quantidade de disparos dos policiais. Marcela frisa que tudo é apurado.
Rafael deu entrada no Hospital Municipal de Novo Hamburgo por volta de 1h45 da sexta. Morreu às 14h35. Morador do bairro Santa Marta, em São Leopoldo, foi enterrado na cidade na tarde de sábado, no Cemitério da Piedade, no Arroio da Manteiga.
Corolla foi recolhido para perícia
A Brigada Militar só se manifesta por meio de uma nota. Diz, em síntese, que “foi instaurado inquérito policial militar para elucidar os fatos e eventuais responsabilidades”. Não esclarece sequer onde no bairro Santo Afonso se deu a ocorrência. O motorista, que foi liberado no mesmo dia, após o registro da ocorrência, também deve ser ouvido na Delegacia de Homicídios. O Corolla ficou apreendido.
Motoboy estava à espera da segunda filha
Caminhoneiro de profissão, Rafael estava trabalhando como motoboy. Tinha uma filha de três anos, com quem compartilhava passeios e brincadeiras nas redes sociais. Seria pai de outra menina, no sétimo mês de gestação. Solteiro, era visto como liderança jovem no Santa Marta.
Na última Páscoa, organizou entrega de presentes para crianças do bairro e arredores. “Era um rapaz trabalhador, divertido. Difícil acreditar que morreu desta forma. Há poucos dias estava distribuindo pacotinhos para a criançada”, comenta um amigo. “A gente quer saber o que realmente aconteceu. Por que atiraram nele. Isso não era necessário”, acrescenta um parente.
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