abc+

Fachada rural

Sítio no Vale do Sinos era base de quadrilha especializada em furto de veículos pesados e extorsão

Saiba como Polícia Civil encontrou maquinário que havia sumido de obra pública na BR-116, avaliado em R$ 300 mil

Publicado em: 17/12/2024 às 06h:15 Última atualização: 17/12/2024 às 06h:43
Publicidade

Um sítio conhecido pela criação de gado, porcos e galinhas no bairro Arroio da Manteiga, em São Leopoldo, se tornou a base de uma quadrilha que vem causando prejuízos milionários a transportadoras e construtoras. Os criminosos, que furtam caminhões e até maquinário pesado de obras públicas, estavam guardando os veículos na extensa propriedade rural. Eles cobram resgate para devolvê-los.

CLIQUE AQUI PARA RECEBER NOSSA NEWSLETTER

Agentes recuperaram minicarregadeira de R$ 300 mil | abc+



Agentes recuperaram minicarregadeira de R$ 300 mil

Foto: Polícia Civil

O reduto do grupo, que age da grande Porto Alegre à Serra, foi descoberto e desarticulado pela 1ª Delegacia de Polícia de Novo Hamburgo na manhã de 29 de outubro, com a prisão do dono do sítio, de 49 anos, e de um ajudante, de 23 anos. Agora surge a preocupação de que a base seja reativada, porque o “patrão” ganhou liberdade provisória na última quarta-feira (11), concedida pela 4ª Vara Criminal de São Leopoldo. O funcionário já tinha sido solto no dia seguinte à prisão, na audiência de custódia em Porto Alegre.

CONFIRA: Como entrar para as comunidades do WhatsApp do ABCmais e dos jornais do Grupo Sinos

O delegado da 1ª DP hamburguense, Tarcísio Kaltbach, afirma que as investigações continuam. Além da proliferação dos furtos e extorsões nos últimos dois anos, existe a suspeita de que a quadrilha tenha vínculo com a facção do Vale do Sinos que domina o tráfico de drogas na maior parte do Estado. Tarcísio destaca a quantidade de material apreendido no sítio.

R$ 74 mil em dinheiro

“Encontramos, em um matagal dessa propriedade, uma minicarregadeira furtada de uma obra na BR-116, em Esteio”, declara Tarcísio. Em uma gaveta na residência, estavam guardados R$ 74 mil em dinheiro, possivelmente oriundos de extorsão.

“Apreendemos ainda, escondidas nessa casa, sete armas e farta munição.” Eram três revólveres calibre 38, duas pistolas calibre 9 milímetros, uma espingarda calibre 12, uma garrucha, sete carregadores e 850 munições de diferentes calibres. Três celulares e um caderno com a contabilidade da quadrilha também foram recolhidos.

O dono e o ajudante foram autuados em flagrante por extorsão, receptação e posse irregular de arma de calibre restrito. Para o delegado, a desarticulação da base da quadrilha foi decisiva para a diminuição desse tipo de crime na região metropolitana. A 1ª DP recebe denúncias pelo WhatsApp (51) 99913-3694.

Dinheiro, armas, munições e objetos do bando apreendidos | abc+



Dinheiro, armas, munições e objetos do bando apreendidos

Foto: Polícia Civil

Produtor rural tem condenação por tráfico e é pai de conhecido ladrão

O delegado revela que o dono do sítio, além de já ter condenação por tráfico de drogas junto com lideranças da facção do Vale do Sinos, é pai de um dos principais ladrões de caminhões e máquinas no Estado. “Pedimos mandado de busca e apreensão no sítio, que foi deferido pelo Judiciário. Temos conhecimento da atuação deles. Esperávamos encontrar entorpecentes lá, mas o material apreendido trouxe elementos ainda mais expressivos à investigação.”

Moradores da região confirmam que costumavam comprar produtos rurais no sítio, principalmente carnes de animais abatidos, e apontam que o dono participava diretamente das atividades. Pode até ser verdade, segundo a Polícia, mas o real propósito era servir de fachada para o crime organizado.

Além de tráfico, o dono já tinha histórico de extorsão, receptação, furto e organização criminosa. O funcionário não possuía antecedentes. Os nomes não são publicados por conta da lei de abuso de autoridade.

“Pediram R$ 60 mil para nos devolver a minicarregadeira”

A minicarregadeira de três toneladas, que custa R$ 300 mil, foi furtada por volta das 16 horas de 4 de agosto. Estava no canteiro de obras em trecho isolado da BR-116 para a retirada de passarela. É de uma empresa de Canoas, contratada pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).

Segundo o dono, os trabalhadores saíram do local às 15 horas e o segurança chegou somente duas horas depois. “Certamente os ladrões levaram em um guincho, pois seria improvável rodar com a máquina, que anda a 20 quilômetros por hora, em plena luz do dia na rodovia”, comenta um gerente.

Por volta das 20 horas, o dono recebeu o primeiro telefonema da quadrilha. “Pediram R$ 60 mil para devolver a máquina. Ficaram ligando durante dois dias, mas o patrão decidiu não aceitar com medo de pagar e não receber.” A ocorrência foi registrada na mesma noite na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento de Canoas e encaminhada à delegacia de Esteio, mas foi uma investigação da 1ª DP de Novo Hamburgo que acabou chegando ao equipamento e à quadrilha.

A minicarregadeira estava “esfriando” no sítio em São Leopoldo, enquanto os criminosos tentavam envolvê-la em algum negócio. “Voltou inteira para a empresa, só com umas ‘sinaleirinhas’ quebradas e os adesivos retirados.”

Vítimas negociam direto com criminosos

Boa parte dos casos pelo Estado acaba não sendo investigada pela pressão sofrida pelas vítimas em negociar diretamente com os criminosos. O alto valor de caminhões e máquinas de obras é um trunfo das quadrilhas. “Paguei e assim diminui o prejuízo, pois não tinha certeza se a polícia resolveria”, diz o dono de uma construtora do Vale do Sinos.

Ele conseguiu baixar a pedida inicial de R$ 70 mil para R$ 40 mil ao rever um caminhão munck avaliado em R$ 400 mil furtado do pátio fechado de uma obra à margem da RS-122, em Bom Princípio, na madrugada de 9 de janeiro. Ele recorda que os ladrões passaram com o veículo pesado pelo pedágio da RS-240, em Portão, e o levaram ao esconderijo. Três dias depois, entraram em contato com o construtor, por telefone, para negociar a devolução.

Publicidade

Matérias Relacionadas

Publicidade
Publicidade