A Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre confirmou, na manhã desta sexta-feira (1º), que uma investigação interna do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) apontou que um medicamento foi furtado durante o plantão do médico André Lorscheitter Baptista.
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O médico de 48 anos acabou preso pela Polícia Civil, na tarde de terça-feira (29), suspeito de matar Patrícia da Rosa dos Santos, 41, dosando remédios de uso restrito contra a vítima.
Conforme a apuração, foi dada baixa em um frasco de Midazolam, um dos medicamentos que teriam sido usados contra a vítima, fato atestado por laudo emitido pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP).
Em nota, a Secretaria da Saúde informou que o suposto furto aconteceu por volta de 7 horas, na véspera da morte de Patrícia, no momento em que o médico faria a troca de plantão.
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“O Samu da capital mantém um controle rigoroso de estoque, o que possibilita a detecção de irregularidades, incluindo furtos”, defendeu a nota encaminhada pela secretaria.
Segundo o diretor do Departamento Metropolitano de Homicídios, Rafael Soares, a Polícia Civil vem recebendo colaboração da diretoria do Samu para conduzir a investigação.
A polícia sabe que houve desvio, porém é necessária a materialidade de como o médico do Samu levou para casa os medicamentos restritos que acabaram causando a morte precoce da esposa.
“Sabemos dos desvios, mas não temos a informação ainda de como todos os remédios estavam com ele”, resume. “Recebemos, por enquanto, essa primeira informação graças a uma apuração interna do Samu.”
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Suspeita
“Descobrimos que o médico que assinou o laudo conhecia e era amigo do suspeito do crime”, explica. “Ele foi ouvido e no depoimento disse que não encontrou evidência que não apontasse morte natural e não imaginava haver crime.”
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Justiça
Na manhã deste sábado (2), Dia de Finados, haverá uma caminhada, pedindo por Justiça, no bairro Marechal Rondon. O ato é organizado por parentes e amigos de Patrícia da Rosa dos Santos.
Os manifestantes irão se encontrar na esquina da Rua Dr. Sezefredo Azambuja com a Açucena, para então partirem caminhando, todos de branco, com camisetas personalizadas, até a sede da Polícia Civil em Canoas.
“É muito importante a mobilização do maior número de pessoas”, afirma a irmã, Bruna Santos. “Este crime não pode ser esquecido. Ela não pode ser mais uma vítima para estatísticas.”
Tristeza
A morte da enfermeira encerra ciclo de quase dois anos sem o registro de um feminicídio em Canoas, segundo dados da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) de Canoas.
“Infelizmente, não conseguimos chegar a dois anos sem a morte de uma mulher”, lamenta a delegada Angélica Giovanella Marques, titular da DP da Mulher. “Lamentamos o que houve e é muito triste saber o que aconteceu”.
Entenda o caso
Foi na manhã do dia 22 de outubro que a irmã de Patrícia procurou a Polícia Civil para denunciar o caso. A denúncia serviu de combustível para que a Polícia Civil corresse ao local e chegasse na casa da vítima, instantes antes do corpo ser recolhido por uma funerária.
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Patrícia teve o óbito registrado pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) por ataque cardíaco, no entanto, os policiais encontraram na casa indícios que ela havia sido assassinada.
O trabalho da perícia e a consequente apuração revelou que o homem vinha dopando a vítima por meio de medicação colocada no sorvete. Com Patrícia dormindo, dosava medicação para induzir o ataque cardíaco, revelaram os laudos.
“Foi tudo premeditado para matar a mulher e escapar impune”, afirmou o delegado Arthur Hermes Reguse. “Se a irmã não tivesse o lampejo de correr até a polícia, o laudo de ataque cardiorrespiratório seria aceito. Só que ela era uma jovem enfermeira sem nenhum histórico cardíaco.”
Nota da defesa
Por meio de nota, a defesa de André Lorscheitter Baptista alega a “veiculação de notícias imprecisas e especulações sobre a morte de Patrícia Rosa dos Santos”. O advogado Luiz Felipe Mallmann de Magalhães diz que seu cliente é “absolutamente inocente das graves imputações que estão sendo feitas”.
Além disso, “assegura que o que ocorreu com Patrícia foi uma tragédia, mas jamais um crime de homicídio”.
Finaliza afirmando que “qualquer especulação que presuma a culpabilidade do investigado, sem as provas necessárias, viola o princípio constitucional da presunção de inocência”.