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DELAÇÃO

Queimados em churrasqueira: Acusado de matar casal de Cachoeirinha revela detalhes do caso em delação antes de ir a Júri

Cláudia de Almeida Heger e Andrew Heger Ribas serão julgados no dia 27 de novembro

Juliano Piasentin
Publicado em: 18/11/2024 às 16h:36 Última atualização: 18/11/2024 às 16h:36
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Está próximo do fim a agonia de familiares e amigos do casal Rubem Heger, 85 anos, e Marlene Stafford Heger, 53, que desapareceram há quase 3 anos em Cachoeirinha, na região metropolitana. A filha e o neto de Rubem, Cláudia de Almeida Heger, 53, e Andrew Heger Ribas, 30, foram presos em maio de 2022, suspeitos de matar o casal.

Mãe e filho viraram réus neste caso depois que a Justiça aceitou a denúncia feita pelo Ministério Público (MPRS). Os dois serão julgados ainda este ano, no dia 27 de novembro, na Comarca de Cachoeirinha. Andrew e Cláudia respondem por duplo homicídio, ocultação de cadáver e maus-tratos aos animais (pela morte do cachorro do casal).

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Rubem e Marlene Heger foram levados de casa  | abc+



Rubem e Marlene Heger foram levados de casa

Foto: Arquivo pessoal

Cláudia está na Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba e Andrew no Instituto Psiquiátrico Forense (IPF), em Porto Alegre. No momento da prisão, a Polícia Civil identificou o sangue de Rubem em uma parede na residência em que ele morava com Marlene, no bairro Carlos Wilkens. Além disso, cães farejadores também sentiram o odor de putrefação [processo de decomposição de matéria orgânica], no veículo de Cláudia.

Mesmo sem nunca ter encontrado os corpos, estes elementos foram utilizados como provas no inquérito policial, concluindo que o idoso e a esposa foram assassinados. A filha e o neto de Rubem nunca admitiram o crime. Apesar disso, em 13 de novembro, a homologação de uma Colaboração Premiada foi anexada nos autos do processo.

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Colaboração Premiada revela a violência do crime

O depoimento de Andrew ao MP gaúcho traz detalhes de como o casal teria sido assassinado em 27 de fevereiro de 2022. Os detalhes do documento foram revelados pelo advogado Bruno Baum, que representa Rafael Heger, neto de Rubem.

“Ele afirma que se sentiu coagido pela mãe”, diz Baum. Além disso, Andrew explicou a maneira que o casal foi morto. “Segundo a delação, o casal ingeriu, durante o almoço, misturada na comida, uma substância que ele não soube especificar o que era e começaram a adormecer.” Na sequência, Cláudia foi questionada. “O Andrew conta que avisa a mãe sobre a situação e ela afirma que eles não acordariam mais.”

Rubem e a esposa Marlene  | abc+



Rubem e a esposa Marlene

Foto: Arquivo pessoal

Foi então que, conforme a delação, o carro, um Ford Fiesta utilizado por mãe e filho, é estacionado de ré na garagem, colchões são colados em frente, impedindo a visualização da rua e os corpos são transportados. O neto de Rubem nega o uso de violência.

Investigação

Segundo a investigação da Polícia Civil, Rubem e Marlene não estavam esperando ninguém para o almoço naquele domingo de calor, no entanto, por volta das 11 horas a filha e o neto do idoso apareceram de surpresa.

Câmeras de monitoramento da vizinhança (veja o vídeo abaixo) mostram quando Marlene vai até o portão da residência. Ela abre o portão, autorizando a entrada de Cláudia e Andrew, que manobram o veículo algumas vezes até estacionar no gramado da residência.

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Perícia encontrou sangue de Rubem Heger em parede que fica em peça anexa aos fundos da casa dele em Cachoeirinha | abc+



Perícia encontrou sangue de Rubem Heger em parede que fica em peça anexa aos fundos da casa dele em Cachoeirinha

Foto: IGP

Na sequência, o carro é mais uma vez movimentado, desta vez com a intenção de estacionar na garagem da casa. Um colchão é colocado na entrada da garagem, impedindo a visualização de quem passa em frente à residência. Cláudia também alcança uma garrafa de cachaça para o vizinho do lado. A mãe do homem afirmou que o filho tinha problemas com álcool e dormiu após ingerir a bebida.

Corpos queimados com lenha e carvão em churrasqueira

Ainda de acordo com o advogado Baum, na delação premiada, Andrew detalhou sobre a ocultação dos cadáveres. “Os corpos foram levados primeiramente para Canoas, onde mãe e filho moravam.” A casa, no bairro Niterói, teria sido utilizada para a primeira parte da tarefa.

“Segundo a delação, os corpos do Rubem e da Marlene foram incinerados na churrasqueira, um depois do outro.” O local não era grande, no entanto, Andrew diz que os corpos das vítimas não foram desmembrados.

Durante audiência de instrução, vizinhos teriam confirmado à Justiça que a churrasqueira permaneceu acesa por três dias. “Ele conta que quando os corpos haviam sido transformados em cinzas, a Cláudia pegou uma pá e colocou estes restos em potes plásticos.” Apesar de admitir a participação na ocultação, Andrew reitera que era a mãe que abastecia a churrasqueira com lenha e carvão.

As cinzas do casal foram depositadas na região metropolitana, entretanto, Baum não revela o local. “Isso não posso falar, para não atrapalhar o processo e em respeito aos outros advogados.”

Defesas se manifestam

A reportagem do Grupo Sinos contatou os representantes legais dos réus. O advogado André Von Berg, que atua na defesa de Andrew, não quis falar porque o caso está em segredo de Justiça.

Já defesa de Cláudia, representada pela advogada Thais Félix, reiterou a inocência da cliente. “Existe uma verdade, e nós estamos ao lado dela. Na próxima semana, mostraremos à comunidade de Cachoeirinha, sem qualquer intermediário, a inteireza dos fatos.”

As advogadas Priscilla Marmacedo Haizernreder e Sara de Oliveira Dal Más, que representam Clóvis de Almeida Heger, filho de Rubem e irmão de Cláudia, reforçaram o compromisso em representar os interesses legítimos das vítimas e de suas famílias. A dupla trabalha também na assistência da promotoria.

Nota defesa Cláudia de Almeida Heger

“Existe uma verdade, e nós estamos ao lado dela. Na próxima semana, mostraremos à comunidade de Cachoeirinha, sem qualquer intermediário, a inteireza dos fatos. Confiamos na sabedoria da instituição mais democrática do Brasil: o Tribunal do Júri.

Quanto às acusações do filho, Andrew, contra a própria mãe, Cláudia, é um descalabro o Ministério Público gaúcho entabular uma colaboração premiada em que se rifa a sorte de outro corréu com um denunciado inimputável. Ou seja, alguém que não compreende a ilicitude de sua conduta em razão de enfermidade mental.

Enfim, esse instituto, a delação premiada, deita raízes no fatídico episódio em que, após um acordo com o “cidadão de bem” de Iscariotes, levou-se à condenação do carpinteiro de Nazaré. No caso Heger, acreditamos que a consciência do povo cachoeirinhense fará uma justiça muito superior à que faria qualquer profissional jurídico do Tribunal rio-grandense.”

Nota das representantes de Clóvis de Almeida Heger

“Como advogadas atuando na assistência de acusação no processo criminal que está com Júri marcado para o dia 27/11/2024 na Comarca de Cachoeirinha, manifestamos nosso profundo respeito à memória das vítimas e à dor dos familiares, que enfrentam um momento de imensa angústia enquanto aguardam a realização da justiça!

Diante disso, expressamos nosso repúdio ao vazamento de informações com a intenção de atrair a mídia. Ressaltamos que, até o momento, não houve intimação formal de todas as partes para que tomem ciência dos termos dessa delação. Tal postura, além de desrespeitar o devido processo legal, contribui para a ampliação do sofrimento dos filhos do casal.

Reforçamos nosso compromisso em representar os interesses legítimos da vítima e de sua família, sempre pautadas pela ética, pelo respeito e pela busca da verdade. Continuamos confiantes que a justiça será feita com serenidade, responsabilidade e respeito aos familiares.”

O que é delação premiada?

A deleção premiada é um instrumento jurídico utilizado quando o réu colabora com a Justiça em troca de benefícios locais.

Regulamentada pela Lei nº 12.850/2013, a delação pode conceder a diminuição de pena do colaborador, perdão judicial em casos excepcionais e proteção em caso do delator ter ameaçada sua integridade física.

Para ser válida, precisa ser feita de maneira voluntária com o Ministério Público e as informações oferecidas sejam significativas para o andamento do processo.

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