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"Quando eu parei o carro, deram o tiro no Rafael", relata amigo de jovem morto em perseguição policial

Motorista e as duas amigas que estavam no veículo denunciam conduta da Brigada Militar em Novo Hamburgo

Publicado em: 10/04/2024 21:25
Última atualização: 10/04/2024 22:11

O motorista e as duas jovens que estavam no carro com o motoboy Rafael Gonçalves dos Santos, 25 anos, quando ele foi baleado na cabeça durante perseguição policial no bairro Santo Afonso, em Novo Hamburgo, trazem um relato perturbador para a segurança pública. O homicídio aconteceu no feriado municipal da última sexta-feira (5).

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Corolla foi fotografado por testemunhas, já isolado para perícia, após o crime na Rua Floresta Foto: Arquivo pessoal

Os três afirmam que o automóvel já tinha parado no momento em que o amigo, sentado no banco traseiro, levou o tiro fatal. Ainda segundo os jovens, os policiais dispararam pelo menos uma vez antes, sem sequer ligar a sirene. As duas amigas salientam que os brigadianos demoraram para chamar ambulância. Rafael morreu no Hospital Municipal de Novo Hamburgo.

Moradores do bairro Arroio da Manteiga, em São Leopoldo, Rafael e o amigo de infância João Mader, 23, foram buscar as hamburguenses para sair, pouco depois da meia-noite. João estava com o Corolla de um outro amigo.

“Peguei as gurias e segui meu trajeto. Daí estou indo e a polícia, que estava parada, veio atrás. Ligou a luz vermelha da viatura, mas não fez sinal para parar. Segui e escutei um disparo. Me assustei e continuei. Mais para frente, quando parei o carro, deram o tiro no Rafael. Passou pelo para-brisa de trás e pegou na cabeça dele.”

“Fiquei sem chão”

João diz que não parou por dois motivos. “Eu não tinha carteira de habilitação e não fizeram sinal. Não havia razão para atirar. Não tinha arma, droga, nada de errado no carro, que está com a documentação em dia.” A perseguição, segundo ele, ocorreu em curto trajeto na Rua Floresta. “Quando olhei para o Rafael, fiquei sem chão. O próprio delegado falou que não podiam ter atirado. Saí da delegacia depois das 6 da manhã e fui para o hospital.” O amigo morreu às 14h35.

“Está todo mundo me julgando, mas as pessoas não imaginam o que estou sofrendo por ele. O amor que eu tinha por ele era enorme. Era como um irmão. A mãe dele sabe disso.” Comerciante do ramo de alimentação, João responde em liberdade pelo crime de roubo. “Isso foi em 2020. Faz mais de um ano que tenho firma registrada em meu nome. Não tenho nada a esconder. Trabalho para criar meu filho de seis meses. Se não fosse por ele, a depressão já tinha me destruído pela perda trágica do meu amigo.”

"Ali a rua não tem saída"

As duas amigas corroboram a versão do comerciante. “O João e o Rafael vieram buscar eu e minha amiga para irmos à casa deles comer churrasco. Fomos de pijama”, conta a manicure Paula Monique, 21, que estava no banco da frente. A outra jovem é uma adolescente de 17 anos. Ela sentou ao lado de Rafael.

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“Logo que a gente saiu, tinha um Corolla da Brigada, que foi atrás de nós. O João começou a andar mais rápido e deram o primeiro tiro, que não acertou o carro. Aí ligaram a luzinha vermelha da viatura. Veio um segundo tiro, que deu de raspão no pneu. Pedimos para o João parar, mas ele acelerou, porque não tem carteira de motorista. A gente estava com muito medo de morrer. Esse Corolla é velho. Não tinha como escapar da viatura. E balearam o Rafa quando o carro já tinha parado, porque ali a rua não tem saída”, narra a manicure.


Rafael Foto: Reprodução/Redes Sociais

Delegacia de Homicídios analisa imagens

Câmeras na Rua Floresta e arredores, de empresas e casas, teriam captado a perseguição. A Delegacia de Homicídios analisa imagens. A chefe do órgão, delegada Marcela Ehler, diz que não pode revelar detalhes para não prejudicar a investigação. Ela não informa se as armas dos policiais foram apreendidas para perícia.

Já a Brigada Militar relutou em passar informações até a noite da sexta-feira, quando se manifestou, após pedidos da reportagem, por meio de uma nota. O comunicado não entra em qualquer circunstância do homicídio. Diz, em síntese, que "foi instaurado inquérito policial militar para elucidar os fatos e eventuais responsabilidades".

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