TRÁFICO E LAVAGEM DE DINHEIRO
Políticos com influência no futebol são presos em operação contra facção do Vale do Sinos
Ministério Público cumpre 132 mandados em Novo Hamburgo, Campo Bom, Canoas, Estância Velha, Porto Alegre, São Leopoldo e Três Passos
Última atualização: 15/08/2024 23:45
Em mais uma operação contra a facção do Vale do Sinos que explora o tráfico de drogas na maior parte do Estado, pelo menos 19 foram presos nesta quinta-feira (15). A grande maioria com antecedentes criminais. Os nomes não são revelados, mas a reportagem apurou que um deles, morador de Novo Hamburgo, tem influência política. Já ocupou cargos em órgãos públicos de diferentes cidades. Não é o único investigado do meio.
A Operação Tentáculos, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público, empregou mais de 300 agentes, ao amanhecer, para cumprir 36 mandados de prisão preventiva e 96 de busca e apreensão. Além de Novo Hamburgo, as ordens judiciais foram executadas em Campo Bom, Canoas, Estância Velha, Porto Alegre, São Leopoldo e Três Passos, com apoio da Brigada Militar e Polícia Civil.
O total de capturados, assim como de drogas, armas, dinheiro e carros apreendidos, não foi informado. “A investigação prossegue com a análise de todo o material coletado, tudo com o objetivo de apurar o total de valores oriundos da lavagem de dinheiro, principalmente veículos, imóveis e contas bancárias”, declarou o coordenador do Gaeco, promotor de Justiça André Dal Molin.
Eleição e futebol
A influência da facção, que financia candidatos em várias cidades, não está restrita à política. Conforme o Gaeco, um líder de torcida organizada do Grêmio integra a cúpula do tráfico. Já o chefe do esquema tem base no bairro Roselândia, em Novo Hamburgo, e está preso. É considerado um dos principais articuladores de sangrenta disputa por território, especialmente entre Porto Alegre e o Vale do Sinos.
Gaeco destaca a localização de provas
De acordo com o Gaeco, foram encontradas provas da lavagem de dinheiro, como documentos e celulares. O órgão frisa que, somente após a análise do material, será possível ter uma ideia do capital movimentado mensalmente pelo grupo. “Atingir a cúpula da organização e atacar as finanças da facção”, conforme a Promotoria, são as duas principais metas da operação. As buscas contaram com o cão farejador Tobias, da raça pastor-belga-malinois.
Organização toma casas para vender drogas
O Gaeco aponta que a facção intensificou uma estratégia de opressão a moradores de várias cidades para expandir a venda de drogas. Famílias vêm sendo expulsas de casa para ceder o imóvel ao narcotráfico. “Sempre mediante ameaças e agressões”, frisa o órgão, que cita um caso extremo na Roselândia, onde recentemente um industriário foi assassinado por não aceitar a entrega da propriedade. As casas são tomadas para servir de depósitos de armas e drogas, além de esconderijo para membros da facção.
Mansões e empresas de fachada são identificadas
Enquanto se apropriam de casas de inocentes, os líderes da facção, conforme frisa o Gaeco, vivem em mansões em cidades menores da região metropolitana. “Em todos os casos, verdadeiras fortalezas, e, em alguns, são sítios isolados que contam com grande aparato de segurança.”
Ainda segundo a investigação, foram identificadas seis empresas vinculadas à facção, de diversos ramos, consideradas as mais importantes, montadas para serem utilizadas na lavagem de capitais. Uma delas fica em Três Passos, no noroeste do Estado. O Gaeco pediu o sequestro dos bens.