Mais de 20 jovens ostentavam armas, algumas de grosso calibre, e avançavam pela rua como um pelotão de guerrilha.
A cena assustou moradores, apesar de acostumados com a rotina do tráfico na Vila dos Tocos, bairro Rio dos Sinos, em São Leopoldo, na noite de quarta-feira (13).
O grupo se preparava para um confronto no submundo do crime, mas acabou enfrentando a Brigada Militar.
Um foragido foi morto e 18 acabaram presos, entre eles três baleados. Os policiais apreenderam um verdadeiro arsenal. Nenhum PM ficou ferido.
“Como chegou a informação ao nosso setor de inteligência de que havia um grupo numeroso armado, em movimento na vila e exibindo armas, tomamos o cuidado de nos deslocarmos com três equipes da Força Tática, no total de 12 policiais”, relata o major Juliano Giboski, subcomandante do 25º Batalhão de Polícia Militar de São Leopoldo.
Os policiais se depararam com o bando no beco que fica ao final da Rua Portão: “Atiraram contra nós, arremessaram até coquetel molotov na nossa direção”, conta.
Segundo ele, um criminoso que tomava a frente, com fuzil 762 a tiracolo, correu para um casebre e começou a disparar por uma janela.
O homem de 27 anos, que era procurado da Justiça e dono de vasta ficha criminal, foi atingido pelos PMs e morreu no local.
Três supostos comparsas foram baleados nos arredores do imóvel. “Graças a Deus, nenhum dos nossos policiais foi atingido.”
“Não atira”
Diante da ofensiva policial, outros 15 decidiram se entregar. Jogaram as armas no chão e se deitaram. “Não atira”, repetiam alguns para os soldados.
Todos foram levados à delegacia e autuados em flagrante. No total, 18 detidos: 13 adultos, entre eles uma mulher de 19 anos, e cinco adolescentes.
A área foi isolada para perícia. O corpo do morto, que não teve o nome informado, foi encaminhado para necrópsia. “Ou era líder da área ou o melhor atirador, com a arma mais potente”, observa o major.
“Não estamos no Rio de Janeiro”
O subcomandante não esconde a surpresa com a movimentação do tráfico flagrada na Vila dos Tocos.
“A gente sabe que os criminosos daqui têm fuzis, mas não ao ponto de exibir as armas de grosso calibre em grupo e na via pública. Não estamos no Rio de Janeiro”, comenta o major, em comparação ao domínio do tráfico nos morros cariocas.
Segundo ele, os indícios são de que o bando estava saindo para uma vingança.
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“Apreendemos duas motos e é possível que embarcariam em alguns veículos. Não acreditamos que seria contra facção rival, pois na região é uma que domina o tráfico, mas um conflito oriundo de algum racha interno. Seria pesado. Pelo molotov apreendido, a suspeita é que incendiariam o local atacado”, explica.
Armas de grosso calibre, farta munição e até arma química
Enquanto uma equipe algemava os presos no chão, outras recolhiam as armas. Além do fuzil que ficou junto ao cadáver, foi apreendido outro, de calibre 556.
O bando ainda tinha uma espingarda semiautomática calibre 12, oito pistolas 9 milímetros, uma pistola calibre 40, um revólver calibre 38, 326 munições de diversos calibres, 14 carregadores de pistolas, dois carregadores de calibre 12 e três carregadores de fuzil.
Uma pistola estava equipada com kit rajada, que a transforma em uma metralhadora.
O coquetel molotov, arma química incendiária de expressivo potencial de destruição, não se restringiu à porção arremessada contra os policiais. Havia mais na casa onde o foragido foi morto, com cinco litros de gasolina. Foram ainda apreendidos dois pares de placas balísticas, uma porção de maconha e duas motos.
Os presos foram levados à delegacia em um ônibus da Brigada.
Na tarde de quinta, a corporação usou o mesmo veículo, em apoio à Polícia Civil, para conduzir os indiciados ao Núcleo de Gestão Estratégica do Sistema Prisional (Nugesp), em Porto Alegre, onde passarão por audiências de custódia.
“Meu filho precisa de atendimento digno”
A mãe de um baleado nega envolvimento do filho com tráfico e a participação dele no confronto. O jovem de 19 anos levou um tiro no abdômen e dois nas nádegas.
“Meu guri tinha que estar em observação no hospital. Passou por cirurgia e nem esperaram passar a anestesia para levá-lo à prisão. Chegou à delegacia todo enfaixado, agachadinho, com fralda. Meu filho precisa de atendimento digno.”
Segundo ela, o rapaz foi ao beco para uma festa de aniversário. “Eu não conhecia o beco. Fui lá para ver meu filho, mas não deixaram entrar. Estava tudo escuro. Só deu para ver o monte de gente no chão.” Conforme ela, é a primeira prisão do filho.
“Uma vez só tinha ido à delegacia porque estava em carro roubado. Mas não estava dirigindo e não sabia que era roubado. Foi logo solto. Nunca entrou em um presídio. Estou muito preocupada com ele agora no Nugesp.”