Para as duas amigas que estavam no Corolla onde o motoboy Rafael Gonçalves dos Santos, 25 anos, foi morto durante perseguição policial em Novo Hamburgo, houve negligência no socorro. Elas e o motorista afirmam que o jovem levou o tiro na cabeça, sentado no banco traseiro, quando o carro já tinha parado. “O Rafa caiu do meu colo”, conta uma adolescente de 17 anos.
Segundo a amiga Paula Monique, 21, foi um desespero ouvir Rafael pedir socorro, pouco após a meia-noite do feriado municipal de 5 de abril, na Rua Floresta, bairro Santo Afonso. “Mandaram a gente ficar de costas para o rio e não deixaram ver ele. Mas dava para ouvir ele implorando por um médico. Os policiais nos diziam que não era grave, que o tiro tinha acertado o ombro. Também disseram para não pegar o celular, que não era para ligar para ninguém, nem para a mãe da (nome da adolescente), mesmo sendo uma menor.”
Conforme ela, a ambulância foi chamada 30 minutos depois. “Quando chegou, já tinha passado quase uma hora. Eles não estavam preocupados com o Rafael.” De acordo com o Hospital Municipal, a vítima deu entrada por volta de 1h45 e morreu às 14h35 do mesmo dia.
“Ainda está na minha memória quando começaram os tiros, e o Rafa disse ‘abaixa, ruiva’, para mim”, recorda Paula Monique, que estava no banco da frente, ao lado do motorista, João Mader, 23.
Moradores do bairro Arroio da Manteiga, em São Leopoldo, Rafael e o amigo de infância João foram buscar as hamburguenses para sair, pouco depois da meia-noite. João estava com o Corolla de um outro amigo.
“Peguei as gurias e segui meu trajeto. Daí estou indo e a polícia, que estava parada, veio atrás. Ligou a luz vermelha da viatura, mas não fez sinal para parar. Segui e escutei um disparo. Me assustei e continuei. Mais para frente, quando parei o carro, deram o tiro no Rafael. Passou pelo para-brisa de trás e pegou na cabeça dele.”
Em nota, Brigada diz que abriu inquérito
Já a Brigada Militar relutou em passar informações até o fim da noite de sexta, quando se manifestou, após pedidos da reportagem, por meio de uma nota. O comunicado não entra em qualquer circunstância do homicídio. Diz, em síntese, que “foi instaurado inquérito policial militar para elucidar os fatos e eventuais responsabilidades”.
A Delegacia de Homicídios de Novo Hamburgo analisa imagens. A chefe do órgão, delegada Marcela Ehler, diz que não pode revelar detalhes para não prejudicar a investigação. Ela não informa se as armas dos policiais foram apreendidas para perícia.
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