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CATÁSTROFE NO RS

O que diz recrutador de voluntários sobre missão de remover armas da Taurus no aeroporto

Empresário e funcionária da indústria bélica são acusados de inventar resgate de crianças para atrair grupo de amigos na arriscada missão

Publicado em: 20/05/2024 às 06h:34 Última atualização: 20/05/2024 às 10h:53
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Acusado de inventar um resgate de crianças nas enchentes para atrair voluntários civis à arriscada remoção de armas no Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, um empresário de 32 anos nega envolvimento na trapaça. Ele usa um argumento megalomaníaco: “Recrutei milhões de pessoas e salvamos milhões de pessoas. Sobre o resto não faço ideia”.

Grupo de amigos participou da remoção de 156 caixas com fuzis e pistolas pela água | abc+



Grupo de amigos participou da remoção de 156 caixas com fuzis e pistolas pela água

Foto: Reprodução

A insólita retirada de 3,5 mil artefatos da empresa Taurus armazenados no terminal de exportação, entre fuzis e pistolas, revelada pela reportagem na última quinta-feira (16), ganhou repercussão internacional. O Washington Post, dos Estados Unidos, e a Euronews, sediada na França, estão entre os jornais que ecoaram o fato. 

Áudios e imagens atestam a participação do homem e de uma funcionária da Taurus na trama para enganar voluntários. O recrutador, que é de Canoas e se apresenta como empresário bem-sucedido na área de investimentos imobiliários, não quer falar. Apenas responde, por meio de mensagens evasivas, que não se envolveu na retirada de armas. “Não faço ideia. Quem lida com arma é polícia”, desconversa.

“Me ajudou um monte essa guria”

O empresário admite que conhece a empregada da Taurus, mas não deixa claro se sabe onde ela trabalha. “Gente finíssima. Me ajudou um monte essa guria. Resgatou bastante gente na Rio Branco (bairro de Canoas). Agora não sei onde ela está, porque a casa dela também foi tomada de água.”

A reportagem confirmou, na primeira matéria, que a mulher é funcionária da fabricante de armas de São Leopoldo. A própria empresa corrobora a informação, mas observa que ela não tem “qualquer cargo de gestão”. Quanto ao recrutador, a Taurus responde: “Não conhecemos”.

A mulher ocupa a função de técnica de processos e se identifica, nas redes sociais, como estudante de engenharia química. Não quer se manifestar. Assim como o empresário recrutador, demonstra fascínio pela Disney. Tanto que o homem é chamado de “Mickey” pelos voluntários, por ter se apresentado no dia do resgate com roupas cheias de estampas do personagem. 

No Instagram, os dois ostentam fotos na Disney. Cada um com sua família. O empresário também aparece em ambientes luxuosos, principalmente nos Estados Unidos e Europa, pilotando automóveis como Ferraris e degustando vinhos requintados. Se diz “abençoado” e com “mais de 47 países visitados”. Os nomes não são informados porque não há qualquer sinalização, até o momento, de investigação policial contra a dupla.

“Não há dúvida que são eles”

O investidor Nicolas Vedovatto, 26 anos, primeiro voluntário atraído pela mensagem de salvamento de crianças, reafirma a participação da dupla. “Os áudios dos pedidos de resgate são dele. Quando chegamos ao local combinado para saber onde estavam as crianças a serem salvas, ele nos recebeu com essa mulher, que se apresentou como funcionária da Taurus e disse que o resgate seria de armas, em operação sigilosa. Não há dúvida que são eles”, reitera.

Nicolas, Isaac e Igor ficaram em abrigo em Gravataí | abc+



Nicolas, Isaac e Igor ficaram em abrigo em Gravataí

Foto: Reprodução

Nicolas, o analista de sistemas Igor Garcia de Oliveira, 26, e o empresário Isaac Freire Lopes, 25, afirmam que foram coagidos a participar da arriscada operação. Uma médica de 31 anos e o namorado dela, um empresário de 30, que pedem para não ser identificados, corroboram a denúncia de coerção.

Sensibilizados com a chamada para resgatar crianças, os cinco voluntários, que moram em Capão da Canoa, montaram uma logística para a missão. Conseguiram dois barcos e equipamentos, além de um caminhoneiro para o transporte do material e um barqueiro. Não imaginavam que seriam colocados na linha de frente em operação para remover armas visadas por uma facção criminosa.

Entenda o caso

Já envolvido em ações voluntárias nas enchentes, o grupo chegou às 7 horas do dia 9 a um posto de combustíveis em Canoas, onde seria informado sobre o local do socorro às crianças. Foi o primeiro contato pessoal com o homem que havia chamado para a operação. Ele estava com a mulher, que veio com a surpresa:

“Trabalho na Taurus. O resgate que vocês vão fazer não é mais de crianças, e sim de armas”. Nicolas denuncia: “A gente relutou, mas nos disseram que agora estávamos sabendo de algo muito sigiloso e não podíamos voltar atrás”. E assim, das 9 horas até o fim da tarde, o grupo ajudou a transportar 156 caixas de armas do aeroporto alagado até um caminhão. Ele frisa que fizeram o trajeto da primeira leva, com nove caixas, sem nenhuma escolta policial. E acrescenta que os voluntários pediram coletes balísticos, mas não receberam.



A Taurus e a Polícia Federal, por meio de notas, dizem que não têm conhecimento da participação de civis na remoção das armas. Segundo a PF, a notícia do arsenal ilhado no terminal de exportação já tinha vazado para uma facção criminosa, que estaria planejando ousado ataque. Era preciso remover com urgência o arsenal das instalações alagadas.

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