Ré por duplo feminicídio pela morte das próprias filhas, Gisele Beatriz Dias, presa há mais de 90 dias, afirma ter sofrido agressões físicas e verbais por policiais penais. Detida ainda em outubro do ano passado, após as filhas gêmeas Manuela e Antônia, de 6 anos, morrerem, ela diz que o caso teria acontecido antes da audiência de custódia, realizada em 16 de outubro de 2024.
Segundo a mulher, entre os xingamentos, ela teria recebido tapas no rosto que ocasionaram a perda de um dente. Cerca de cinco a sete homens teriam a levado para uma sala e praticado os atos violentos, usando um objeto que ela descreveu como sendo “comprido” e “mole”.
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Além de confirmar que estavam com uniformes e coletes pretos, ela não soube informar detalhes de como os supostos agressores eram nem onde estavam — justificando que foi forçada a ficar de cabeça abaixada. Apesar disso, desconfia que o ataque tenha ocorrido no Núcleo de Gestão Estratégica do Sistema Prisional (Nugesp), em Porto Alegre.
Ainda conforme a denúncia de Gisele, os agentes a teriam ameaçado para que ela não contasse sobre as agressões e por isso ela não comentou o caso na audiência de custódia. O suposto episódio só teria vindo à tona após ela contar ao pai, que então teria denunciado.
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Procurada pela reportagem, a Corregedoria-Geral do Sistema Penitenciário informou que “há processo apuratório sobre a denúncia em questão, todavia não é possível detalhar as informações tendo em vista que o procedimento está em andamento”. Gisele está presa na Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba.
O que diz a defesa de Gisele
Advogado de Gisele, José Paulo Schneider define o caso relatado pela cliente como um “escândalo”. Segundo ele, ela foi chamada para falar sobre o caso em uma audiência de provas, realizada on-line, com a 1ª Vara Judicial da Comarca de Igrejinha no começo de novembro do ano passado.
“Então o juiz oficiou a Susepe [Superintendência dos Serviços Penitenciários] para que investigasse. Até agora não veio nada para os autos, de que a Susepe tenha investigado ou não. Me parece que a Susepe não fez nada, pelo menos não tem isso no processo e o juiz mandou mandar quando tivesse. E o Ministério Público estava presente na audiência e não se manifestou, não pediu abertura de investigação”, disse. “É um absurdo que isso tenha acontecido”, completou sobre as agressões.
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Em nota enviada pelo advogado após o Ministério Público aceitar a denúncia que levará Gisele a responder pela morte das gêmeas na Justiça, ele diz que “a defesa técnica recebeu com surpresa a revelação da denúncia feita sob absoluto sigilo para as partes envolvidas”.
“O advogado lembra que o caso foi amplamente divulgado na imprensa até a acusada não ter defesa constituída. O sigilo máximo foi decretado após a audiência em que a ré revelou ter sofrido agressões e ameaças por agentes públicos, antes da audiência de custódia”, afirma o texto.
O caso
Moradoras de Igrejinha, Manuela e Antônia Pereira, de 6 anos, morreram em um intervalo de oito dias, entre 7 e 15 de outubro do ano passado, com sintomas similares. A mãe foi presa ainda no dia 15 de outubro, na época ainda suspeita de ter cometido os crimes.
A autópsia de Manuela, que morreu primeiro, apontou “hemorragia pulmonar penetrando nos espaços aéreos com insuficiência respiratória, com um afogamento atípico por sangue, indicando como causa da morte ‘insuficiência respiratória’ e hemorragia pulmonar”, causada por meio cruel (asfixia).
Já a ficha de atendimento ambulatorial de Antônia indicava “pupilas fixas, sangramento efusivo pela traqueia por suspeita de intoxicação por veneno de rato, causada por meio cruel (asfixia)”.
A suspeita é que elas tenham sido envenenadas, mas os resultados das análises do Instituto-Geral de Perícias (IGP) ainda não foram conclusivos sobre a causa dos óbitos.
A Justiça aceitou a denúncia contra Gisele Beatriz Dias, por duplo feminicídio, nesta quinta-feira (16).
A defesa dela afirma que “não há qualquer prova científica que confirme a hipótese acusatória de que as gêmeas tenham sido mortas por envenenamento ou intoxicação”, pontuando que “tudo será meticulosamente contestado nos autos durante o curso do processo, sobretudo as condutas que colocam em xeque a imparcialidade judicial”.
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