Há um mês, uma menina de 6 anos foi levada já sem vida ao Hospital Bom Pastor, em Igrejinha. Oito dias depois, sua irmã morreu de forma semelhante. Assim, o que parecia uma fatalidade, se transformou em um complexo caso de polícia.
A causa da morte das gêmeas Manuela e Antônia Pereira, de 6 anos, ainda é desconhecida, pois depende da divulgação dos laudos do Instituto-Geral de Perícias (IGP). A principal hipótese para a Polícia é que as meninas tenham sido envenenadas pela mãe, que está presa.
A mãe, Gisele Beatriz Dias, de 42 anos, estava na Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba. No último dia 21, ela foi levada para o Centro de Custódia Hospitalar de Charqueadas. O motivo da transferência não foi divulgado pela Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe).
A mulher foi presa de forma temporária no dia 15, data em que morreu a segunda filha. A prisão temporária foi decretada pela Justiça e tem validade de 30 dias, podendo ser prorrogada.
O pai das gêmeas, Michel Percival Pereira, de 43 anos, prestou mais de um depoimento na Delegacia de Igrejinha. Ele segue como testemunha e não é investigado. Conforme o delegado Ivanir Luiz Moschen Caliari, responsável pela investigação, não há indício de que o pai pudesse ter participado do suposto crime, pois não estava em casa no momento de nenhuma das duas mortes.
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Relatos de conduta “perversa” em relação às filhas
Gisele ficou internada na ala psiquiátrica do Hospital Bom Pastor em setembro e recebeu alta cerca de uma semana antes da morte de Manuela, que aconteceu no dia 7 de outubro. Após a morte das gêmeas, a Polícia ouviu servidores da casa de saúde, que relataram que a mulher tinha uma conduta “perversa” em relação às crianças.
“Somente demonstrava emoção e interesse em relação ao filho já falecido, demonstrando indiferença no que diz respeito às filhas, principalmente às meninas que conviviam com ela”, disse o delegado em um vídeo divulgado no dia 18 de outubro.
Indícios de que a mãe teve envolvimento com as mortes
Para a Polícia Civil, há indícios de que Gisele tenha cometido os homicídios. Entre eles estão a morte de três gatos que pertenciam às gêmeas. De acordo com a Polícia, três meses antes das mortes, os animais apareceram mortos misteriosamente no interior da casa da família.
A suspeita é de que tenham sido envenenados, pois não saíam para a rua. Para o delegado, o envenenamento dos bichos pode ter sido “um teste para uma posterior intoxicação junto às meninas”.
A filha mais velha, de 19 anos, disse à Polícia que não tinha boa relação com os pais, mas que Michel era afetuoso com as meninas. Já quanto à Gisele, a jovem disse que acredita que ela possa ter cometido o crime.
A Polícia também ouviu testemunhas que disseram que o casal discutia com frequência. “Por ciúmes da mãe em razão da boa relação do pai com as filhas”, diz Caliari.
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Avô diz que mãe é inocente
O pai de Gisele, Manoel Dias, 65 anos, alega que a filha é inocente. “Ela tinha muito amor pelas filhas e dava muito carinho a elas”, declarou à reportagem do ABCmais no mês passado. Até o momento, a mulher ainda não contratou advogado de defesa. Ela é representada pela Defensoria Pública do Estado, que disse que “irá se manifestar somente nos autos do processo”.
Idas e vindas do casal
O casal, entre diversas idas e vindas, tem um relacionamento de mais de 20 anos. Michel é natural de Igrejinha e Gisele, de Taquara. Os dois se mudaram para Santa Maria, cidade onde as gêmeas nasceram. Eles tiveram quatro filhos. O mais velho, Michel Percival Pereira Júnior, foi assassinado dentro de casa com tiros à queima-roupa em novembro de 2022. A única filha viva é a jovem de 19 anos, que ainda mora em Santa Maria.
Nos últimos três anos, as meninas residiram em quatro cidades. Em Santa Maria, Xangri-lá, Taquara e Igrejinha. Elas passaram por atendimento no Conselho Tutelar.
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Em nota, o Conselho Tutelar de Xangri-lá afirma que fez um atendimento em 17 de dezembro de 2021 e entrou em contato com a avó materna, que morava em Taquara. Desta forma, os avós buscaram a adolescente e as gêmeas.
“Deixamos claro que a denúncia da época era somente sobre a irmã mais velha das infantes e não sobre elas”, afirma no comunicado.
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O Conselho Tutelar de Taquara confirma que as meninas vieram através de Xangri-lá, devido à denúncia de uma suposta agressão do pai contra a filha adolescente. Na sequência, os pais teriam se separado e a mãe e as filhas foram para Santa Maria.
“Meses depois o CT [Conselho Tutelar] de Santa Maria fez contato conosco para saber se havia familiares aqui em Taquara, pois a mãe havia se envolvido em uma situação na cidade. Logo, os avós maternos acolheram as netas aqui em Taquara.”
Durante o tempo que elas permaneceram com os avós, os conselheiros realizaram visitas e elas estavam bem. Posteriormente, o pai conseguiu a guarda. O período em que os fatos aconteceram não foram informados.
O Conselho de Taquara diz, ainda, que “alguns meses depois a mãe retornou para Taquara e fez uma denúncia de uma suspeita de abuso por parte do pai com as gêmeas na DP de Igrejinha”. A Polícia Civil recebeu a denúncia em 2023. A mulher confessou que fez essa denúncia com o intuito de ficar com a guarda das filhas.
Já o Conselho Tutelar de Santa Maria esclarece que o atendimento às crianças Antônia e Manuela foi prestado de forma pontual no ano de 2022. “Após o acolhimento inicial, as crianças foram transferidas judicialmente para o município de Taquara, onde o caso seguiu sob responsabilidade das autoridades locais.”
Em Igrejinha, o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (Comudica) informou no dia 17 de outubro que foi instaurada uma comissão especial para apurar questões relacionadas a morte das gêmeas Manuela e Antônia Pereira, de 6 anos.
Conforme a nota, o comitê pretende acompanhar e analisar a atuação da rede de atendimento da cidade “visando identificar se houve falhas na prestação de serviços e na proteção das infantes nas diversas frentes de atuação”.
A reportagem procurou o Comudica, que afirma que ainda não há atualizações sobre o caso.
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