ESPOSA MORTA

"Ele agiu rápido": Amigo de médico do Samu atestou infarto e carro de funerária já estava pronto para pegar o corpo

Segundo o delegado Arthur Hermes Reguse, o profissional disse não ter encontrado evidência que não indicasse morte natural da esposa de emergencista em Canoas

Publicado em: 30/10/2024 14:13
Última atualização: 30/10/2024 14:51

Durante a entrevista coletiva, organizada pela Polícia Civil, na manhã desta quarta-feira (30), foram esclarecidos vários pontos em torno da investigação sobre a morte de Patrícia da Rosa dos Santos, 41 anos.

Os delegado Arthur Hermes Reguse e Rafael Soares esclareceram pontos da investigação nesta quarta-feira (30) Foto: LEANDRO DOMINGOS/GES-ESPECIAL


O marido da enfermeira, André Lorscheitter Baptista, 48 anos, acabou preso pela Polícia Civil, na tarde desta terça-feira (29), por suspeita de matar a mulher, dosando remédios de uso restrito contra a vítima.

Segundo o delegado Arthur Hermes Reguse, titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Canoas, chamou atenção que, ao chegarem na cena do crime, os policias encontraram o Samu com um laudo já atestando a morte por “infarto agudo do miocárdio”.

“Apuramos e descobrimos que o médico que assinou o laudo conhecia e era amigo do suspeito do crime”, explica. “Ele foi ouvido e no depoimento disse que não encontrou evidência que não apontasse morte natural e não imaginava haver crime.”

O médico foi liberado, mas caso surja uma nova evidência durante o inquérito, ele pode ser chamado novamente para depor, avisa, Reguse. A suspeita acabou levantada porque ambos se conheciam.

“Não existem elementos que garantam a suspeita que o médico colaborou com o crime até agora, mas caso surja algum indício de que sabia o que aconteceu, vamos atrás dele novamente”, avisa.

Conforme a Polícia, até o carro de uma funerária já estava em frente ao apartamento no momento em que chegaram os policiais. Caso eles demorassem mais um pouco, talvez o crime não fosse descoberto.

“Ele agiu rápido”, observa. “Se não houvesse agilidade para atender a ocorrência, ele teria se livrado das evidências a tempo e possivelmente conseguiria fingir que houve a morte natural”, acrescenta.

 

Entenda o caso

Foi na manhã do dia 22 de outubro que a irmã de Patrícia procurou a Polícia Civil para denunciar o caso. A denúncia serviu de combustível para que a Polícia Civil corresse ao local e chegasse na casa da vítima, instantes antes do corpo ser recolhido por uma funerária.

Patrícia teve o óbito registrado pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) por ataque cardíaco, no entanto, os policiais encontraram na casa indícios que ela havia sido assassinada, explica o delegado.

"Para começar, ele tinha estranhamente removido o corpo do sofá para o colchão no quarto", esclarece. "Depois, não conseguia responder coerentemente às perguntas dos policiais. Além disso, achamos uma mochila cheia de medicamentos que ele teve dificuldade em explicar por que tirou da casa."

O trabalho da perícia e a consequente apuração revelou que o homem vinha dopando a vítima por meio de medicação colocada no sorvete. Com Patrícia dormindo, dosava medicação para induzir o ataque cardíaco, revelaram os laudos.

"Foi tudo premeditado para matar a mulher e escapar impune", afirma. "Se a irmã não tivesse o lampejo de correr até a polícia, o laudo de ataque cardiorrespiratório seria aceito. Só que ela era uma jovem enfermeira sem nenhum histórico cardíaco."

Reguse observa não estar clara a motivação por trás do crime. O marido teria tentado convencer a mulher a um aborto há pouco mais de dois anos, porém não havia histórico de violência ou brigas na relação, segundo relatos de parentes e vizinhos.

"Eles diziam que era um cara estranho, mas nada que levasse a crer que pudesse premeditar a morte da mulher" diz. "Falam até que era carinhoso com o menino, então não temos nada de concreto a dizer sobre a motivação por trás do crime."

Caso Bernardo

A Polícia Civil aponta que o medicamento Midazolam encontrado na mochila do suspeito é apontado como responsável pela morte era de uso restrito de hospitais.

"É o mesmo medicamento usado no caso Bernardo", lembra o delegado Rafael Soares, diretor do Departamento Metropolitano de Homicídios. "Ele inclusive dava injeções no pé da vítima, e não no braço, para que ninguém achasse a prática a um primeiro olhar."

A reportagem tenta contato com a defesa do médico. O espaço está aberto para manifestação.

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