A aposentada Anna Gonchoroski, 66 anos, foi atropelada na RS-239, em Sapiranga, quando estava indo providenciar tratamento de saúde, no início da manhã desta terça-feira (24). O motorista fugiu. O corpo da idosa ficou na rodovia. Por meio de imagens de câmeras de segurança, a Polícia chegou ao condutor. É um médico e político, que acabou sendo preso em flagrante no consultório de um posto de saúde em Parobé.
Foto: Isaías Rheinheimer/GES-Especial
“O que nos deixa mais tristes, nessa tragédia que tirou a vida da minha mãe, é essa questão envolvendo um médico, que deveria ter parado para prestar os primeiros socorros”, lamenta a comerciante Eliete Gonchoroski Dias, 41. “Minha mãe era uma pessoa querida por muita gente. Trabalhou por muitos anos como cuidadora de crianças.”
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Moradora do bairro São Luiz, em Sapiranga, Anna foi atropelada quando atravessava a RS-239, por volta das 7 horas. Ela tinha como destino um laboratório no Centro, onde marcaria exames pelo SUS. ”Em função da idade, para não ficar muito tempo parada em casa, na frente da televisão, ela era orientada a caminhar. E gostava”, comenta a filha.
Os socorristas do Samu encontraram a pedestre caída na rodovia, rodeada de populares. Já estava morta. Ninguém sabia informar o modelo do veículo que atingiu a idosa. Somente que era de cor clara. Começava uma caçada, de policiais civis e militares, ao motorista que fugiu.
Carro foi encontrado e condutor confessou
Câmeras flagraram o carro suspeito quando já estava em fuga na rodovia. Era uma SUV Mitsubishi ASX de cor prata, encontrada às 10h54 abandonada na frente da Unidade Básica de Saúde (UBS) Jardim, em Parobé. Estava com o lado dianteiro direito amassado da lataria ao para-brisa.
Foto: Polícia Civil
Na UBS, os policiais foram informados que o carro provavelmente seria do “doutor Saulo”, que havia chegado de manhã cedo e pego carona com outro médico para atender em outra UBS de Parobé, no bairro Vila Nova. E lá, no consultório, o médico foi abordado pelos agentes. “Após primeiramente negar, ele confessou que havia atropelado uma mulher na RS-239 e evadido do local”, declara o delegado Rafael Sauthier.
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O clínico geral foi conduzido à delegacia. Conforme Sauthier, não foi necessário uso de algemas. A Mitsubishi, com banner de propaganda eleitoral afixado no para-brisa traseiro, foi recolhida para perícia.
Delegado enquadrou homem em três crimes
O delegado autuou o médico em flagrante pelos crimes de homicídio culposo de trânsito consumado, omissão de socorro e fuga do local de acidente. O nome não foi informado, mas a reportagem apurou que é o clínico geral Saulo Moisés Lopes Martins, 59 anos.
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“É o segundo envolvimento do indivíduo como motorista em crime de homicídio culposo de trânsito”, disse o delegado. O médico foi encaminhado ao Núcleo de Gestão Estratégica do Sistema Prisional (Nugesp), em Porto Alegre, onde passará por audiência de custódia. Na delegacia, o clínico alegou que não parou para prestar socorro porque sabia que a vítima estava morta. A defesa não foi localizada pela reportagem.
Indiciado já foi candidato a prefeito e vereador
Foto: reprodução
Natural de Porto Alegre e atualmente morador de Canoas, o médico fez carreira política na cidade de Butiá, na região carbonífera. Foi candidato a prefeito pelo PSDB em 2012 e a vereador pelo PP em 2020. O nome na urna: Doutor Saulo. Nunca foi eleito, mas sempre participou ativamente da política, por diferentes partidos, agora também na região metropolitana e vales do Paranhana e Sinos.
Doutor Saulo atua na saúde pública e privada, por meio de contratos em diferentes cidades. A prefeitura de Parobé emitiu nota: “Tendo em vista a notícia que foi recebida, o prefeito Diego Picucha prontamente solicitou o afastamento do médico, que é contratado do hospital São Francisco e que presta serviço ao Município”.
Aposentada será enterrada nesta quarta-feira
A aposentada será enterrada às 10 horas desta quarta-feira no Cemitério Parque Municipal de Sapiranga. Natural da cidade catarinense de São Miguel do Oeste, morava há quase 40 anos em Sapiranga com a família.
Foto: Arquivo pessoal
O marido, abalado, não conseguia falar. “A gente ainda está tentando assimilar. Não vai trazer minha mãe de volta, mas que esse médico seja punido”, comenta a filha Eliete.
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