CASO JOÃO COUTO
Médico é indiciado pela morte de três pacientes em Novo Hamburgo
Um ano depois de operação policial contra João Couto, faltam outros 39 inquéritos de homicídio e 114 de lesões corporais
Última atualização: 11/12/2023 20:49
Há um ano, um dos médicos mais requisitados do Vale do Sinos era proibido de fazer cirurgias, por decisão judicial, sob acusação de mortes e mutilações de pacientes. Hoje, João Batista do Couto Neto não está mais impedido de operar, mas passou de investigado a indiciado. A 1ª Delegacia de Novo Hamburgo concluiu três inquéritos com o enquadramento dele no crime de homicídio doloso. As peças estão com o Ministério Público, que analisa se faz ou não a denúncia. Couto se diz inocente.
FIQUE BEM-INFORMADO: ENTRE NA NOSSA COMUNIDADE NO WHATSAPP
Segundo o titular da 1ª DP, Tarcísio Kaltbach, os indiciamentos são pela morte de dois homens e uma mulher, todos com idade superior a 60 anos. “Foram coletados depoimentos dos familiares das vítimas e de testemunhas, juntados laudos e documentos. Nesse conteúdo probatório, chegamos à conclusão que de fato houve homicídio com dolo eventual, ou seja, que ele assumiu o risco de produzir a morte.”
Silêncio
Couto foi intimado para interrogatório sobre os três casos no dia 22 de novembro. Acompanhado de advogado, se reservou ao direito de só falar em juízo. Os inquéritos foram enviados ao fórum no último dia 30. A reportagem apurou que o MP denunciará o médico. Se o Judiciário aceitar, o cirurgião irá a júri popular.
Faltam ainda outros 39 inquéritos de homicídio e 114 de lesões corporais. “É muito documento, que demanda análise profunda e complexa. Não podemos fechar um inquérito sem os laudos do Instituto-Geral de Perícias (IGP). Na medida em que chegam, são avaliados com outros elementos já apurados de cada caso”, declara Tarcísio. Segundo ele, até então, as perícias foram conclusivas contra o médico.
Outros 16 inquéritos estão em fase de conclusão
Laudos do IGP sobre outras 16 mortes chegaram nos últimos dias à 1ª DP, que está prestes a concluir o inquérito de cada uma delas. “Estamos analisando esses documentos, junto com os demais elementos, para decidir se é caso ou não de indiciamento.” Couto será chamado para depor em todos os inquéritos.
Ele informou endereço de Novo Hamburgo e São Paulo para as intimações. Entre as denúncias contra o profissional, estão perfurações de intestino, pâncreas e aorta, além de pulmão "colado" à pele e retirada indevida de umbigo.
Defesa diz que ainda não sabe das decisões
O advogado do médico, Bruno de Lia Pires, não se posiciona sobre os indiciamentos sob argumento de que ainda não tomou conhecimento. “A defesa não teve acesso a nenhum relatório de inquérito e desconhece essa informação, até o presente momento”, declarou ele, no fim da tarde desta segunda-feira (11). Pires afirma que o cliente não está atuando na sua especialidade. “Embora autorizado, ele não está realizando nenhuma cirurgia.”
Policiais foram à casa, consultório e hospital
Couto foi alvo de operação na tarde de 12 de dezembro do ano passado. Os agentes cumpriram três mandados de busca e apreensão (MBAs) - no consultório, situado no Centro Clínico Regina, no Hospital Regina, onde concentrava as operações, e na casa, um apartamento de alto padrão no Centro da cidade.
Computadores, celulares e prontuários médicos foram recolhidos para perícia.
Na residência, o médico foi comunicado da suspensão de cirurgias por 180 dias. “Pautei toda minha vida profissional com ética e respeito aos meus pacientes”, declarou à reportagem, logo depois da operação. A medida judicial foi renovada por mais quatro meses em junho. O prazo chegou ao fim no dia 21 de outubro e não houve nova proibição. Atuando em São Paulo desde fevereiro, conforme revelado pela reportagem, ele afirma que está somente no atendimento clínico.
O Hospital Regina sustenta que o médico não tinha qualquer vínculo empregatício ou de prestação de serviços com a instituição. Observa que ele apenas usava as dependências para as cirurgias, assim como outros profissionais.