A Polícia Civil remeteu à Justiça o inquérito envolvendo o caso da enfermeira Patrícia da Rosa dos Santos, 41 anos, encontrada morta no dia 22 de outubro em Canoas.
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O inquérito foi concluído com o indiciamento do médico do Samu, André Lorscheitter Baptista, 48 anos, pela prática do crime de feminicídio consumado pelo “emprego de veneno ou outro meio insidioso”.
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Ele também acabou indiciado por furto qualificado, pela subtração de medicação usada para matar a vítima, alteração da cena do crime e falsidade ideológica, por mentir para a polícia o endereço onde estaria uma pistola registrada em seu nome.
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O processo também incluiu o médico do Samu que atendeu a ocorrência naquela manhã do dia 22; o enfermeiro que estava na ambulância; e o motorista do veículo credenciado pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência.
Os três acabaram indiciados pelo crime de alteração de local especialmente protegido, previsto no artigo 166 do Código Penal, já que modificaram o local onde estava a vítima.
Segundo o delegado Arthur Hermes Reguse, titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Canoas, não ficou comprovada a falsidade ideológica do médico que atestou o laudo apontando parada cardíaca.
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“O que concluímos é que o André manipulou a todos para garantir que ninguém descobrisse que ela não havia morrido de ataque cardíaco”, explica. “Até porque um dos envolvidos na chamada até confirmou que conhecia a Patrícia muito bem.”
O delegado chama a atenção que os envolvidos permaneceram no interior da casa entre 6h40 e 8 horas da manhã daquele fatídico dia 22 de outubro, tempo considerado excessivo e usado para manipular o “cenário” no interior da residência.
“Eles passaram muito tempo na casa, mexendo no corpo, no pote de sorvete, etc”, reforça. “E quando os dois policiais mais experientes da DP chegaram ao local, encontraram uma série de incongruências que apontavam nitidamente para a tese de feminicídio”, reforça.
Motivação
Reguse aponta que o indiciamento do médico se dá sem que esteja clara uma motivação por trás do crime. Isso porque embora todas as perícias relacionadas ao caso estejam concluídas, resta uma apuração em andamento.
“Há um procedimento aberto para averiguar a relação que o André mantinha com o filho, mas, fora isso, não temos claramente algo que possa ter sido determinante para que ele tenha planejado a morte da esposa.”
Ex-namorada
O delegado também aponta que a investigação sobre o suspeito revelou idas e vindas constantes a São Paulo. Tudo por conta de uma ex-namorada que o médico mantinha sem que a mulher soubesse do caso.
“Tentamos encontrar esta ex-namorada, mas acabamos não conseguindo contato”, esclarece.
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Remédios
Também não houve a confirmação de onde o médico tirou todos os medicamentos apontados pela investigação. A prova de que furtou um frasco de Midazolam da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre atesta que houve desvios.
“Por meio da Saúde de Porto Alegre descobrimos que ele pegou um frasco de Midazolam no dia anterior ao crime. Deve ter desviado outras medicações de algum jeito. Só não conseguimos descobrir como.”
Entenda o caso
Na manhã do dia 22 de outubro, a Polícia Civil foi acionada devido a uma suposta parada cardíaca que havia vitimado Patrícia da Rosa dos Santos.
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A denúncia da irmã de Patrícia serviu de combustível para que a Polícia Civil corresse ao local e chegasse na casa da vítima, instantes antes do corpo ser recolhido.
Patrícia teve o óbito registrado pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência por ataque cardíaco, no entanto, os policiais encontraram na casa indícios que ela havia sido assassinada.
“Para começar, ele tinha estranhamente removido o corpo do sofá para o colchão no quarto”, esclareceu Reguse. “Depois, não conseguia responder coerentemente às perguntas dos policiais. Além disso, achamos uma mochila cheia de medicamentos que ele teve dificuldade em explicar por que tirou da casa.”
O trabalho da perícia e a consequente apuração revelou que o homem vinha dopando a vítima por meio de medicação colocada no sorvete. Com Patrícia dormindo, dosava medicação para induzir o ataque cardíaco.
“Foi tudo premeditado para matar a mulher e escapar impune”, afirma. “Se a irmã não tivesse o lampejo de correr até a polícia, o laudo de ataque cardiorrespiratório seria aceito. Só que ela era uma jovem enfermeira sem nenhum histórico cardíaco.”
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O que diz a defesa do médico
A reportagem entrou em contato com a defesa do médico, o advogado criminalista Luiz Felipe Magalhães, que volta a reforçar a inocência do cliente.
“O André nega as acusações”, informou. “A defesa ainda não teve acesso ao inquérito, mas irá se manifestar por meio de nota para a imprensa assim que tiver”.
O que diz a defesa do condutor da ambulância
Em nota, o advogado Maurício Ricardo Alves, que defende o motorista da Samu que atendeu a ocorrência, afirma que o seu cliente foi ouvido na condição de testemunha e discorda do indiciamento.*
“O sistema jurídico trata de maneira diferente a condução do interrogatório e o depoimento de
testemunhas. Em nenhum momento o condutor foi advertido sobre seu direito constitucional ao silêncio
e sobre o direito de estar assistido por um advogado”, declara.
* Atualização: manifestação do advogado de defesa do condutor da Samu foi adicionada à reportagem no sábado (9), às 11h48.
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