Uma marcha de traficantes para vingar um comparsa assassinado, seguida de tiroteio, arremesso de coquetel molotov contra policiais e um foragido morto. Uma casa invadida por oito homens fardados e dois moradores fuzilados. O violento confronto e o duplo homicídio, ocorridos no intervalo de 22 dias em março e abril deste ano no Vale do Sinos, tiveram desdobramentos nesta quinta-feira (25) com cinco prisões.
Segundo o delegado de Estância Velha, Rafael Sauthier, que coordena a investigação, foram capturados os principais articuladores do esquema. São três moradores da Vila dos Tocos, no bairro Santos Dumont, em São Leopoldo, conhecidos como Mamute, Tonel e Gordo Bruno. Foram ainda recolhidos na área dois matadores da quadrilha.
Marcha do crime e dois fuzilados: Cinco são presos por tráfico e execuções no Vale do Sinos.
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— Jornal NH (@jornalnh) July 26, 2024
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Acordados em casa ao amanhecer, por 79 policiais civis e 19 brigadianos, os cinco compõem a cúpula de um grupo que age com manobras paramilitares e armamento pesado na guerra do narcotráfico. De 37, 35, 30, 24 e 18 anos de idade, todos já tinham sido presos por venda de drogas. Possuem históricos no sistema prisional que incluem ainda os crimes de homicídio, roubo, furto, receptação, porte ilegal de arma e ameaça, entre outros.
Material apreendido
Dois foram capturados por meio de prisões preventivas e três em flagrante com drogas e armas. Dois procurados não foram localizados. Os policiais apreenderam 60 trouxas de crack, uma sacola com pequena quantidade de cocaína e diversos materiais do tráfico, principalmente para embalar e pesar drogas.
Também foram recolhidos aproximadamente R$ 4 mil em dinheiro, celulares, uma pistola calibre 9 milímetros, 74 munições e dois carregadores, além de duas réplicas de revólver e uma de pistola. Informações nos bairros próximos apontam que a quadrilha estava se restabelecendo depois dos prejuízos com a enchente. Perdeu armas e drogas. Membros do grupo criminoso tiveram casas alagadas e ficaram em abrigos.
O revés na noite da vingança
A ofensiva da DP de Estância Velha contra o bando sediado em São Leopoldo recebeu o nome de Operação GTA. A sigla é como um traficante da região era conhecido. Ele foi morto a tiros na noite de 9 de março, durante discussão pela venda de uma casa no bairro Santos Dumont.
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Os matadores, que recém tinham se mudado para a área, jogaram o corpo no Rio dos Sinos. Eles, que também lidavam com drogas e roubos, fugiram para Estância Velha antes da localização do cadáver. Sabiam que seriam caçados pelos comparsas da vítima. GTA tinha boa circulação entre diferentes quadrilhas do Vale do Sinos.
A retaliação foi organizada para servir de lição. Mais de 20 jovens estavam reunidos em um beco na Vila dos Tocos, na noite de 13 de março, com armas de grosso calibre. Com fuzis a tiracolo, avançavam pela rua como pelotão de quadrilha. Parte deles se preparava para vingar GTA. Iriam em pelo menos dois carros.
A movimentação, porém, acabou chegando ao conhecimento da Brigada Militar. Conforme a corporação, os policiais foram recebidos a tiros e até com uma bomba caseira do tipo coquetel molotov. Um procurado de 27 anos, que tomava a frente, correu para um casebre, começou a disparar por uma janela e foi morto pelos brigadianos.
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Outros três soldados do tráfico foram baleados e 15 decidiram se entregar. Jogaram as armas no chão e se deitaram. “Não atira”, repetiam alguns para os soldados. No total, 18 detidos: 13 adultos, entre eles uma mulher de 19 anos, e cinco adolescentes.
Um arsenal foi apreendido. Além do fuzil que ficou junto ao cadáver, foi recolhido outro, de calibre 556. O bando ainda tinha uma espingarda semiautomática calibre 12, oito pistolas 9 milímetros, uma pistola calibre 40, um revólver calibre 38, 326 munições de diversos calibres, 14 carregadores de pistolas, dois carregadores de calibre 12 e três carregadores de fuzil. Uma pistola estava equipada com kit rajada, que a transforma em uma metralhadora.
Um rival foi assassinado na frente do filho de 7 anos
Mesmo com o revés, o bando não desistiu da vingança. Na madrugada de 4 de abril, oito homens com trajes camuflados, coletes balísticos, boinas militares, fuzis e pistolas, invadiram uma casa na Rua Euclides Monteiro, no bairro Rincão dos Ilhéus, em Estância Velha. Era onde se escondiam Mateus de Brito Lopes, 26, e José Cristiano Garcia, 43, jurados de morte pelo homicídio de GTA.
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O bando agiu com precisão. Arrombou o portão do terreno e subiu uma rampa em direção à casa alugada. “É a Polícia. Abre a janela”, gritaram. Quebraram a porta da sala e foram direto aos dois homens. Mateus dormia no quarto com a mulher, de 28 anos. José assistia a um filme em outro dormitório com a namorada de 18 anos, irmã de Mateus.
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“Tiraram o Mateus da cama, botaram de costas no chão, com as mãos para trás, e o arrastaram até a sala, onde o mataram”, narra uma testemunha. O filho dele, de 7 anos, viu tudo. A companheira da outra vítima chegou a baixar o volume da televisão ao ouvir a gritaria dos invasores. “O José ficou de joelhos e foi empurrado até a rua, na frente da casa. Lá atiraram nele”, completa a testemunha.