Durante três meses, um aposentado de 67 anos abusou de uma vizinha de 11 anos em Estância Velha. A menina mora com a avó, ex-companheira do estuprador. A mãe é falecida. O pai, ausente, justifica que o trabalho exige constantes viagens.
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Além de ganhar lanches e dinheiro do abusador, a criança tinha medo de denunciar. O crime só foi descoberto porque ela contraiu uma Doença Sexualmente Transmissível (DST). O acusado fugiu e foi preso há duas semanas, em uma agência bancária de Alvorada, pela Polícia Civil de Estância Velha. O processo corre em segredo de justiça. O nome não é publicado para preservar a vítima.
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Os abusos eram quase diários, na casa do indiciado, em um bairro perto do Centro, de janeiro a março de 2023. O estuprador sabia que estava infectando a criança. É o que mostram áudios dele para o celular da menina. “Tá doendo a boca, bebê?”, era uma pergunta repetida do aposentado, referindo-se às feridas que se disseminavam na vítima.
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“Homem de família”
Ninguém desconfiava. O aposentado passava a impressão de “homem de família”. Nas redes sociais, postava fotos com filhas, filhos e netos. Até que uma prima da vítima estranhou o hábito da menina de cobrir o rosto com um lenço. Pediu para ela tirar o pano. A menina relutou, mas acabou aceitando. “É gripe”, desconversou a criança. Percebendo as feridas na boca e no nariz, a parente foi pesquisar na Internet e verificou que poderia ser herpes.
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A prima contou para sua mãe, tia da vítima. A criança foi levada ao Hospital Municipal Getúlio Vargas, onde um pediatra confirmou ser herpes e receitou remédios. A menina estava tensa, apreensiva. Roía as unhas. Mulheres da família estavam preocupadas com a origem da doença, enquanto a vítima silenciava.
As provas no celular e o relato da vítima
À noite, ao notar que o celular da criança estava quase sem bateria, a tia pediu para ela deixá-lo em sua casa para carregar. Perto da meia-noite chegaram mensagens. Eram áudios do vizinho, pedindo para que a criança fosse à casa dele. E perguntou: “Como está a tua boca, bebê?”
Pela manhã, a mulher respondeu, passando-se pela sobrinha: “A tia [nome] me deu um carregador”. E o homem respondeu que não precisava deixar de visitá-lo só porque tinha conseguido a peça.
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A tia foi falar com a sobrinha. Disse que ela podia contar qualquer coisa, porque queria ajudá-la. Pôs a mão no coração da criança e perguntou se alguém passava a mão nela. A menina desabou a chorar. Detalhou os abusos e também o medo que sentia. O homem dava dinheiro para ela não denunciar. Ele dizia que seria preso se alguém ficasse sabendo, dando a entender que se vingaria.
A tia foi à Polícia, na noite de 10 de março do ano passado, e fez boletim de ocorrência. Entregou o celular. A menina passou por perícia física e psicológica. A herpes foi curada, mas o trauma ficou. Recebe tratamento especializado para crianças vítimas de abuso sexual.
“Era prioridade capturar esse homem”, declara delegado
Três meses depois do registro e com as provas reunidas, principalmente os laudos periciais, o delegado de Estância Velha, Rafael Sauthier, indiciou o aposentado por estupro de vulnerável e pediu a prisão preventiva, decretada pelo Judiciário.
Segundo Sauthier, o idoso percebeu que havia sido descoberto já na época do registro da ocorrência, pelas reações da família da ex-companheira. “Tentamos prendê-lo, mas ele tinha fugido primeiro para Dois Irmãos. No decorrer das investigações, apuramos que estava sacando a aposentadoria do INSS em Alvorada.”
O delegado define o crime como “repugnante”. “Era prioridade capturar esse homem.”
Sauthier conta que a “armadilha” foi montada quando os agentes constataram que o endereço no cadastro bancário do idoso estava desatualizado.
“Para receber, não poderia sacar no caixa eletrônico. Teria que procurar atendimento pessoal. Pedimos ao gerente daqui de Estância que contatasse o colega de Alvorada para que fôssemos avisados quando o foragido tentasse regularizar a situação. Isso se concretizou agora no dia 25 de outubro e fomos lá cumprir a prisão preventiva.”
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