Onda de violência

Há quatro facções disputando espaço em apenas um bairro de Canoas; saiba quais

Adolescente acabou assassinado com dez tiros neste domingo (24); Guajuviras já soma metade dos 30 homicídios cometidos no ano

Publicado em: 25/03/2024 11:49
Última atualização: 25/03/2024 11:49

Um adolescente de 16 anos acabou sendo executado a tiros, na madrugada deste domingo (24), no bairro Guajuviras, em Canoas. Foram, pelo menos, dez tiros, segundo a polícia. O crime aconteceu na Rua 1A, no Setor 1, no início da madrugada.

Crime cometido no bairro Guajuviras neste domingo (24) soma nova vítima a lista de mortos no bairro Foto: POLÍCIA CIVIL/DIVULGAÇÃO

Segundo a Polícia Civil, a vítima estava em uma casa invadida por criminosos armados. Os vizinhos ouviram os tiros e, minutos depois, viram dois suspeitos fugindo de bicicleta da cena do crime. O jovem já estava morto quando a Brigada Militar chegou ao local.

Em meio a nova onda de violência que se instaurou em Canoas desde o início do ano, o bairro Guajuviras já concentra a metade dos 30 homicídios registrados na cidade, conforme os números da Secretaria Estadual de Segurança.

Um dos bairros mais carentes de Canoas, o Guajuviras é o mais populoso do Rio Grande do Sul, conforme um estudo recente divulgado pelo IBGE. Tem uma população estimada de 4.703 moradores, que estão em 2.090 domicílios e 2,6 moradores em média por residência, apontou o censo.

Já batizado de “Território da Paz”, hoje é considerado um dos principais mercados para o tráfico de drogas e entorpecentes na região metropolitana, segundo a polícia. Não à toa, são quatro facções criminosas lutando por espaço no local.

Há no bairro os integrantes da facção dos Manos, Bala na Cara, V7 – que surgiu em oposição aos Bala na Cara na capital Porto Alegre -, e ainda criminosos oriundos da Família Mathias Velho. O adolescente assassinado estaria em um ponto pertencente a um dos grupos.

“Recebemos algumas informações, mas ainda não é possível dizer que ele pertencia à facção X ou Y com certeza”, observa o delgado Arthur Hermes Reguse, titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

Na avaliação do delegado, a alta dos homicídios acaba mascarando o que está por trás da cada morte. Isso porque ao tratar da generalização de “guerra entre facções”, se dá a dimensão única de disputa por espaços, o que não é verdade.

“Observamos que este contexto da alta de homicídios abre margem para vários tipos de mortes e não apenas a guerra entre facções”, explica. “Há desde tomada de território de X contra Y, mas também acertos de contas de uma pessoa contra outra dentro da própria organização criminosa”.

Reguse diz que ainda não há suspeitos para o homicídio cometido neste domingo, já que a investigação ainda procura por imagens de câmeras de segurança possam levar até a identificação de um suspeito.

“Sabemos que a vítima tinha antecedentes criminais por tráfico de entorpecentes”, frisa. “Porém, a investigação ainda é preliminar e não há suspeitos para o assassinato”, conclui.

Policiamento reforçado

O 15º Batalhão da Polícia Militar (BPM) segue concentrado em pontos estratégicos do bairro Guajuviras. Segundo o tenente-coronel Clóvis Ivan Alves, há barreiras e operações pontuais durante o dia e também à noite.

“Canoas sofre o mesmo problema que acontece em Porto Alegre que é o racha de facções e disputas. Há união entre grupos, a separação posterior e o consequente conflito entre as organizações”, salienta.

O coronel confirma a presença das facções Manos, Bala na Cara, V7 e Família Mathias Velho, mas ressalta que a corporação observa a todos os grupos como um único bloco formado por bandidos.

“Na visão da Brigada, não existe essa coisa de facção. O que existem são bandidos. Enxergamos como um bloco de bandidos que estão minando a comunidade. Então nossas ações não são mirando facção X ou Y. Miramos os bandidos que vivem na comunidade”.

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