VIOLÊNCIA

Guru espiritual pregava "cura gay" e obrigava vítimas a ter relações com sexo oposto; veja o que delegada revela

Vítimas eram submetidas a castigos físicos e tortura psicológica; homem era líder de comunidade alternativa em Viamão

Publicado em: 13/12/2024 17:58
Última atualização: 13/12/2024 18:48

Detalhes chocantes de tortura física e psicológica foram revelados por vítimas do guru espiritual que liderava uma comunidade em Viamão, na região metropolitana. Na quarta (11), Adir Aliatti, de 69 anos, foi alvo de mandados de busca e apreensão durante a Operação Namastê, deflagrada pela Polícia Civil, que investiga, entre os crimes, o desvio de uma quantia milionária que deveria ser destinada ao local alternativo no bairro Cantagalo, no limite com Porto Alegre.

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Seita de guru espiritual é alvo de operação da Polícia Civil no RS Foto: Polícia Civil

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Em entrevista à reportagem nesta sexta-feira (13), a delegada Jeiselaure de Souza explica que a investigação começou quando ex-integrantes da comunidade Osho Rachana procuraram as autoridades e narraram uma série de crimes praticados por Aliatti, desde estelionato e extorsão a agressões físicas e verbais, configuradas como "uma verdadeira tortura psicológica".

Pelo menos mais uma pessoa é investigada no caso, mas a relação dela com o guru e a comunidade não foi revelada pela Polícia Civil.

Manipulava pessoas que já estavam fragilizadas

Além dos crimes, o guru, que oferecia, entre as terapias, rituais de sexo livre, é investigado por curandeirismo. Aliatti oferecia curas a partir de terapias alternativas bioenergéticas, motivo que atraia vítimas a imersões caras, que variavam entre R$ 8 mil e R$ 12 mil. "Ele descobria coisas muito íntimas dessas pessoas", conta a delegada.

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Como o investigado é considerado "bastante envolvente", característica, para Jeiselaure, muito comum de indivíduos que praticam esse tipo de crime, conseguia convencer os clientes a integrarem a comunidade, momento em que começavam a pagar uma mensalidade para viver no local. "A partir disso, envolvia as vítimas em uma verdadeira tortura mesmo, coagia com base nas informações que obtinha durante as imersões, convencia-as de que precisavam doar dinheiro, fazer empréstimo, estourar cartão de crédito, entregar carros", exemplifica.

Estima-se que, ao longo dos anos, mais de R$ 30 milhões foram obtidos pelo guru. Ele revertia o valor na compra de imóveis, em viagens luxuosas e apostas em cassinos e jogos on-line. Caso alguém manifestasse oposição aos pedidos de Aliatti ou o desejo de sair da comunidade, o guru fazia terror psicológico e dizia coisas como, por exemplo: "se você sair daqui, não vai ganhar nada na vida".

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No decorrer da pandemia, teria instigado as vítimas a fazerem empréstimos de altíssimos valores com o pretexto de que precisava reverter tudo para a comunidade. Contudo, tirava proveito próprio.

Ainda de acordo com Jeiselaure, na metade de 2024, as vítimas começaram a perceber que havia algum problema financeiro no espaço e constataram um prejuízo na casa dos R$ 4 milhões apenas no último ano. Ele teria gastado o montante com dívidas, apostas on-line e viagens, entre outros.

As vítimas procuraram as autoridades a partir do prejuízo financeiro, mas os relatos desenrolaram para investigação de tortura psicológica, estelionato, curandeirismo, além da apuração de exposição de crianças. "Houve uma denúncia de crianças sendo expostas às práticas, aos rituais praticados nessa seita. Tudo isso nós estamos investigando aí na sequência dessa operação."

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"Cura gay" entre os absurdos

Durante atividades em grupos, como meditações, Aliatti teria humilhado os integrantes publicamente, inclusive com castigos físicos. Há relatos de pessoas que foram arrastadas pelos cabelos, que apanharam com soco e empurrões e foram submetidas a terapias altamente invasivas, como ozonioterapia retal, obrigatório para todos os integrantes da comunidade.

No âmbito do curanderismo, o guru chegou a métodos abusivos para uma suposta "cura gay". "Obrigou algumas mulheres [homossexuais] a manterem relações sexuais com vários homens na comunidade, porque ele disse 'que tinha que curar aquilo porque era um problema', ou seja, a questão é bastante grave sob esse aspecto também."

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Mulheres grávidas também teriam sido submetidas "a um intenso processo de violência", bem como as crianças. Esses crimes, contudo, não foram detalhados pela delegada. 

Nesta semana, desde o dia da operação, foram adotadas medidas para proteção do patrimônio e eventual ressarcimento dessas vítimas. Embora a Polícia Civil tenha representado pela prisão preventiva, foi determinado pelo Poder Judiciário que o guru e outro investigado coloquem tornozeleira eletrônica, mantenham distância da comunidade, onde ainda residem vítimas de Aliatti, e a suspensão do passaporte de ambos. Eles também estão proibidos de fazer contato com vítimas e familiares delas.

Despedida

Os moradores da comunidade vendiam alimentos naturais, pães, cadernos e agendas, entre outros produtos. Em 1º de dezembro, enviaram uma mensagem de despedida aos consumidores, espalhados pela região metropolitana.

No texto, relataram que as atividades foram encerradas porque "a liderança que deveria cuidar e fortalecer o sonho coletivo escolheu esbanjar e enriquecer às custas de todos nós que acreditávamos nesse propósito". "Anos de dedicação, trabalho e alma foram deixados de lado pela ganância de poucos."

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"Número de pessoas que fizeram imersões é superior a mil", diz delegada

Desde que o caso foi divulgado, outras vítimas já procuraram a Delegacia de Viamão. A delegada acredita que o total de lesados pelo guru é bem maior do que aqueles que já depuseram às autoridades, visto que mais de uma centena de pessoas já morou na comunidade ao longo dos anos.

"E o número de pessoas que fizeram as imersões é superior a mil, certamente. Nós temos certeza que outras pessoas foram de alguma forma lesadas por este falso líder espiritual, por este falso guru, mas ainda não procuraram a delegacia", expõe. 

A orientação é de que aqueles que foram de alguma forma vitimizadas, procurem a Polícia Civil.

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O que diz a defesa

A defesa de Aliatti, representada pelo advogado Rodrigo Oliveira de Camargo, se manifestou por meio de nota e informou que "refuta a hipótese levantada pelos denunciantes e já se colocou à disposição das autoridades".

"Aliatti confia na justiça e não se furtará de prestar todos os esclarecimentos devidos nos foros e momentos adequados. Até onde teve conhecimento dos fatos investigados, a materialidade na narrativa não se sustenta por falta de elementos", afirmou.

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CategoriasPolíciaViamão
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