INVESTIGAÇÃO

GOLPE DOS NUDES: Operação revela quarta morte, desta vez no Vale do Sinos

Um detento e dois comparsas foram presos, acusados de se passar por delegado para extorquir vítimas de falso namoro virtual

Publicado em: 16/01/2025 21:45
Última atualização: 16/01/2025 21:46

O constrangedor golpe dos nudes desencadeou nova operação policial entre esta terça (14) e quinta-feira (16), com uma prisão em Campo Bom, uma em Presidente Lucena e outra na Penitenciária Modulada de Montenegro. Ao divulgar a Operação Täuschen, que significa "enganar" em alemão, o delegado de Dois Irmãos, Felipe Borba, revelou uma morte na cidade provocada por estelionatários gaúchos.


Cinco celulares foram apreendidos na cela de investigado Foto: Polícia Civil

É a quarta vítima do golpe que não aguentou a pressão psicológica da extorsão, com a exigência de pagamentos para não ter imagens íntimas vazadas, e decidiu tirar a própria vida. O delegado prefere não detalhar a idade do homem nem quando ocorreu a morte.

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O golpe dos nudes é considerado uma ramificação dos negócios da maior facção do tráfico do Estado, sediada no Vale do Sinos. Os outros três casos que acabaram em morte são de um agricultor de 48 anos de Caiapônia, em Goiás, em 2023, de um comerciário de 22 anos de Manga, em Minas Gerais, em 2021, e de um morador de 35 anos de Teodoro Sampaio, em São Paulo, também em 2021.

Diferentes investigações apontam mais situações fatais nos últimos anos, não contabilizadas por não terem sido levadas ao conhecimento da Polícia. Agentes de diversos estados já fizeram operações no RS, com ênfase ao Vale do Sinos.

“Crime está entre os de mais difícil investigação”

“É importante que as pessoas que buscam relacionamento por meio da Internet, redes sociais e aplicativos tomem extremo cuidado, pois os golpistas se aproveitam de qualquer vulnerabilidade para angariar recursos ilícitos, e este tipo de crime está entre os de mais difícil investigação atualmente, pois demanda quebra de sigilos telefônicos e bancários, e os criminosos costumam habilitar os telefones utilizados e abrir contas bancárias em nome de terceiros", alerta o delegado Borba.

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Ele destaca a gravidade do esquema. "Em Dois Irmãos já tivemos caso de suicídio atrelado à prática deste tipo de golpe, o que evidencia o elevado potencial negativo que possui e a relevância social de combate qualificado às quadrilhas que lidam com estes delitos." E orienta que, quando desconfiar de golpe, o ideal é que a vítima procure a Polícia e busque atendimento bancário a fim de tentar evitar que o prejuízo se concretize.

Detento fazia o papel de jovem atraente

A operação deflagrada nesta semana, segundo Borba, vem de investigação iniciada em junho de 2024, quando outro morador de Dois Irmãos denunciou a extorsão. O homem, que não teve idade informada, pensava que estava se relacionando virtualmente com uma mulher jovem e atraente, pelo que demonstrava a foto do perfil. Por trás da personagem fictícia estava o preso de Montenegro.

 

Bandidos se passavam por delegado de Polícia para extorquir vítimas (Imagem 1)Reprodução
Bandidos se passavam por delegado de Polícia para extorquir vítimas (Imagem 2)Reprodução
Bandidos se passavam por delegado de Polícia para extorquir vítimas (Imagem 3)Reprodução

Segundo Borba, a vítima bloqueou as conversas quando a falsa jovem disse que tinha 15 anos, mas acabou fazendo pagamentos exigidos com medo de ser preso. Os valores não foram informados.

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Ficou ainda mais nervoso quando passou a receber mensagens de WhatsApp de um golpista se passando pelo delegado de Ivoti, Fábio Motta Lopes, com uso da foto do policial no perfil. Dizia que estava com o advogado da família da "adolescente" e ordenava que fizesse mais transferências em razão do prejuízo que os pais da "menina" estavam arcando com tratamento psicológico em razão do "namoro virtual".

“Ainda faz muitas vítimas”

"Após diversas diligências e análise de dados relacionados aos telefones e contas bancárias utilizadas para a prática do crime, representamos pela decretação da prisão temporária dos suspeitos e pela expedição de mandados de busca", comenta Borba. Na cela do detento, conforme ele, foram apreendidos cinco celulares.

O delegado frisa que a pena pela extorsão pode chegar a dez anos de reclusão. "Esta modalidade ainda faz muitas vítimas, justamente pelo caráter íntimo que possui, sendo poucas as que procuram auxílio policial. Quando procuram, costumam ter como motivo a incapacidade financeira de seguir atendendo às exigências dos criminosos."

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