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INVESTIGAÇÃO

GOLPE DO PIX: Cozinheira faz mega hair e deixa salões de beleza no prejuízo no Vale do Sinos

"Meu grande erro foi não conferir se tinha entrado na conta", relata a última vítima, que conseguiu desfecho insólito para o caso

Publicado em: 29/12/2023 às 20h:23 Última atualização: 29/12/2023 às 20h:36
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Uma moradora de Portão de 37 anos, que trabalha como cozinheira em Estância Velha, é investigada por lesar comerciantes e prestadores de serviços do Vale do Sinos com o golpe do pix. A preferência dela, conforme denúncias, é por aplique de cabelo, o mega hair, que custa na faixa de R$ 4 mil. Enganou pelo menos três salões de beleza por meio da falsa transferência bancária. Em dois casos, o desfecho foi inusitado. “Não tenho nada para falar”, declara a mulher, acusada de trapaças também em lojas de roupas e até contra tele-entrega de frango frito.

“Meu grande erro foi não conferir na hora se o pix tinha entrado na minha conta”, lamenta a vítima mais recente, uma cabeleireira de 33 anos com empresa de estética no bairro Canudos, em Novo Hamburgo. Ela vem recebendo mensagens com ameaças de processo por danos morais por ter exposto a suspeita nas redes sociais.

A dona do salão fez o mega hair na cozinheira na manhã de 23 de dezembro. “Ela entrou em contato, pediu foto do cabelo, gostou e marcou hora”, relata a empreendedora. Segundo ela, a desconhecida se comportou como uma cliente cordial durante as quase duas horas do procedimento. O primeiro contratempo veio na hora de registrar o resultado para a divulgação do trabalho do salão. “Não gosto de tirar foto de frente”, disse a cozinheira, sob argumento de que estava com os “cílios feios” e sem maquiagem. Convencida de que a foto seria editada, acabou aceitando.

O comprovante enganoso

“Na hora de pagar, ela mostrou o comprovante de pagamento e conferi que estava tudo certo. O valor (R$ 2,6 mil) e o nome do meu salão.” A esteticista acrescenta que as câmeras do prédio registraram toda a transação. “Além do momento do pix, tenho imagens dela assinando o contrato de autorização de imagem, para divulgarmos o ‘antes e o depois’, mas é claro que eu não pensava que acabaria tendo que publicar o vídeo com outro propósito.”

Câmera registrou quando investigada mostrou comprovante do pix e assinou autorização de uso de imagem | abc+



Câmera registrou quando investigada mostrou comprovante do pix e assinou autorização de uso de imagem

Foto: Reprodução

A cliente foi embora, feliz com o novo visual, e a cabeleireira seguiu com a agenda de clientes. “Passei o Natal com a família e, na volta ao trabalho, notei que o Pix não tinha entrado. Convencida de que eu tinha caído em golpe, publiquei as imagens e ofereci mil reais para quem me dissesse onde essa mulher trabalha. Ela própria me ligou, dizendo que tinha dado problema no aplicativo e que viria de Caxias para me devolver, mas não apareceu.”

A cabeleireira ficou espantada com as mensagens que recebeu. “Muitos comentários, entre eles de outras vítimas, de vários tipos de comércio, até com um vídeo da dona de outro salão tirando o mega hair dessa mulher por não pagamento.” E começou a negociar ressarcimento. “Minha moeda de troca foi dizer que removeria da rede social o vídeo que aparecia o rosto dela. Ela disse que não tinha como vir aqui e combinamos de ser na rua de trás do trabalho dela, porque não queria se prejudicar no serviço.”

E foi assim, na manhã do último dia 27, que a cabeleireira e auxiliares foram ao Centro de Estância para reaver o cabelo. A retirada, também gravada em vídeo, durou cerca de 15 minutos. Na via pública. “Não quero ‘postação’, tá”, avisou a ex-cliente, ao perceber que era filmada.

“Fiz com calma, sem machucá-la. Pelo menos recuperei o material, que é caro, mas perdi muito tempo. Peguei o cabelo e fui fazer ocorrência.” O registro foi feito no plantão da Central de Polícia de Novo Hamburgo. A 3ª Delegacia de Polícia já abriu inquérito.

Procurada pela reportagem, a acusada foi sucinta. “Não tenho nada para falar. O que eu tinha que conversar era com a dona do salão e já foi resolvido.” O nome não é informado porque a investigação está no início. 

Outra vítima pegou a golpista de surpresa e também tirou o cabelo

Um mês antes de aplicar o golpe em Novo Hamburgo, a cozinheira tinha feito o mesmo em um salão de beleza no Centro de Estância Velha. Inconformada com o prejuízo de R$ 4 mil, a dona descobriu onde a golpista trabalha, foi lá e pegou o cabelo de volta.

“O serviço foi feito no dia 18. Ela mentiu que trabalhava em Campo Bom, mas, por sorte do destino, com os dados dela, vi que trabalhava na lancheria de um compadre aqui perto do salão. No dia 26, esperei ela chegar ao serviço e pedi o valor do Pix. Como ela disse que não tinha, sugeri que sentasse para eu remover o cabelo, se não chamaria a polícia. Ele concordou e, como eu já tinha ido com os instrumentos, peguei o material de volta”, relata a cabeleireira de 35 anos.

A cozinheira foi demitida e passou a trabalhar em uma lancheria próxima. A vítima não levou o caso à Polícia. “Infelizmente a ocorrência não devolveria o cabelo nem resultaria em algo contra ela. Quem sairia perdendo R$ 4 mil era eu e continuaria trabalhando para sustentar minha família.”

Investigada age há pelo menos um ano

A cozinheira adotou o golpe do pix para fazer vítimas há pelo menos um ano. No fim de 2022, ela lesou outro salão de beleza na área central de Estância e tentou, mas não conseguiu, aplicar em outro no Centro de Novo Hamburgo. Tudo pelo mega hair.

É acusada de usar transferência bancária fraudulenta também para comprar roupas e calçados. Na manhã de 18 de outubro deste ano, levou R$ 1.314,00 em mercadorias de uma loja no Centro de Portão. No mesmo mês, a vítima foi uma tele-entrega de frango frito de São Leopoldo, entre várias outras denúncias que vão surgindo.

Tenha cuidado

Em vigor desde novembro de 2020, o Pix popularizou as transferências e pagamentos bancários. Ao facilitar a vida das pessoas e crescer vertiginosamente no uso, passou a ser estudado pela indústria do crime, que foi criando golpes para se apoderar de parte dos trilhões já movimentados na plataforma do Banco Central.

A modalidade de golpe mais usada no comércio se vale do Pix agendado. Em vez de fazer a transferência imediata, o vigarista programa o pagamento e apresenta o comprovante para receber a mercadoria. Depois cancela.

O Serasa, referência no País em serviços de análises e decisões de crédito, dá dicas para não cair em golpes do Pix:

• Entregue a mercadoria somente após ter o dinheiro em conta. O agendamento não garante o pagamento. O Pix agendado pode aparecer no extrato bancário como lançamento futuro, mas isso não é pagamento.
• Cadastre o consumidor com comprovantes de residência e outras informações de referência antes de aceitar Pix parcelado ou agendado.
• Evite compartilhar CPF ou outro dado pessoal, como chave Pix, com estranhos. Prefira o número do celular ou e-mail.
• Consulte o extrato bancário para confirmar o pagamento do Pix e peça para a pessoa aguardar a conferência.
• Verifique se o comprovante da transação contém número de ID ou da transação, valor transferido, data e hora, descrição da compra, informações do destinatário, informações do pagador.

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