CIÚMES DA NAMORADA
Gerente de facção que planejava matar juízes e policiais agora é condenado por crime passional em Novo Hamburgo
Foragido recebe pena no regime fechado por dar cinco tiros em suposto amante da namorada, que foi encontrada morta
Última atualização: 18/02/2024 19:44
Apontado como membro de organização criminosa que planejava matar juízes e policiais no Vale do Sinos, o traficante Luiz Valdair Dias Chaves, o Mineiro, 41 anos, foi condenado na última sexta-feira por um crime passional em Novo Hamburgo. Ele não compareceu ao júri. Está há três meses foragido do regime semiaberto.
A sessão, que começou por volta das 9 horas, terminou às 14h50 no fórum da cidade. Os jurados consideraram Chaves culpado da tentativa de homicídio contra o filho de um primo. O crime aconteceu às 18h20 de 12 de agosto de 2011, na frente de um bar na Rua Albano Guilherme Konrath, bairro Lomba Grande.
Segundo Polícia Civil e Ministério Público, o ataque foi motivado por vingança. A conclusão é que o réu suspeitava de uma traição da então namorada de 17 anos com o parente. O autor e até a vítima, no entanto, negam a tese de acusação.
O baleado, que sobreviveu aos cinco tiros com várias cirurgias, afirmou que não saía com a menor. Também disse que não viu quem atirou. Para ele, não foi o réu, que disse conhecer apenas “de vista”. Admitiu, porém, ter medo do acusado.
Já Chaves, no interrogatório na fase processual, afirmou que não conhecia a vítima, apesar do grau de parentesco, nem a jovem que o teria traído. Declarou ainda que nunca teve um Golf, veículo usado pelo atirador. Narrou que era casado com outra mulher.
Adolescente morta
Depois do ataque em Lomba Grande, a suposta namorada foi assassinada em Gravataí. Ninguém foi condenado pela morte da adolescente. A mãe dela contou que a jovem chegou a fugir de casa, em Lomba Grande. Disse que não ficou sabendo quem matou a filha. Lembra que apenas foi comunicada do encontro do corpo. Evitou falar do relacionamento da filha com o réu e afirmou que não conhecia o suposto amante.
Vítima e testemunhas admitiram o medo
No entendimento dos jurados, a vítima desconversou sobre a autoria porque tem medo do réu. Além disso, testemunhas confirmaram o relacionamento amoroso, a suposta traição e a fuga do réu em um Golf após os tiros. Também falaram do medo que o baleado e familiares têm do acusado.
A juíza Rosângela Maria Vieira da Silva determinou pena de oito anos e nove meses, no regime fechado, pelo crime de homicídio tentado. Na sentença, a magistrada citou outras condenações, como a resultante de posse de revólver com numeração raspada, no bairro Feitoria, em São Leopoldo, em 2009, quando Chaves também estava foragido.
A magistrada concedeu o direito de recorrer em liberdade. “O réu poderá aguardar em liberdade o trânsito em julgado da presente decisão, se por outro motivo não estiver segregado, uma vez que já respondeu a todo processo nesta condição, estando ausentes os requisitos para decretação de prisão cautelar”, despachou. Ou seja, o benefício não invalida o fato de ser procurado desde novembro de 2023, quando rompeu a tornozeleira eletrônica. Se for pego na rua, deve voltar à prisão.
Conforme investigações, acusado prestava contas a líder de facção
Segundo a Polícia e o Ministério Público, Chaves atuava como gerente do tráfico no bairro Santo André, em São Leopoldo, para a facção originada no Vale do Sinos que se tornou a maior do Estado. É nascido em Novo Hamburgo e tem longo histórico criminal.
Em maio do ano passado, foi condenado com outros 11 membros da quadrilha pela 2ª Vara Estadual de Processo e Julgamento dos Crimes de Organização Criminosa e Lavagem de Dinheiro, de Porto Alegre. Recebeu cinco anos e dez meses em regime fechado. Está recorrendo. A defesa alega a ilegalidade da extração e análise do conteúdo dos celulares apreendidos. Nas mensagens, o réu aparece em negociações do tráfico.
Para a investigação, Chaves tinha importância intermediária no grupo e se reportava diretamente a um dos líderes da facção, Márcio Fabiano de Carvalho, o Márcio Gordo, 44. No processo, aberto em 2018, são mencionadas articulações do grupo para executar um delegado, um comissário de Polícia e pelo menos dois juízes de Direito, todos do Vale do Sinos, que passaram a andar com escolta. O caso foi revelado na época pela reportagem do Grupo Sinos.
Segundo a investigação, a facção também preparava o resgate de Márcio Gordo durante transporte do presídio para audiência que ocorreria no fórum de São Leopoldo. A quadrilha atacaria a escolta da Susepe. Os planos foram frustrados, conforme o processo, pela prisão preventiva de mais de 20 integrantes do grupo. Márcio Gordo já foi transferido três vezes para penitenciárias federais.