CRIME ORGANIZADO

FRAUDE NOS CACS: Até presos ligados a facções compravam armas e munições com autorização do Exército

Operação do Ministério Público combate fraudes em 35 cidades, cinco delas do Vale do Sinos

Publicado em: 17/12/2024 19:58
Última atualização: 17/12/2024 21:17

Criminosos de alta periculosidade, entre eles presos ligados a facções, estavam conseguindo comprar armas e munições de forma legal no Estado. Ou seja, com autorização do Exército. O caminho era fraudar documentos para receber o título de Colecionador, Atirador e Caçador (CAC). Assim, conquistavam o registro e manutenção da licença. O esquema veio à tona nesta terça-feira (17) pela Operação Desarme do Ministério Público em 35 cidades, entre elas cinco do Vale do Sinos.

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O objetivo, segundo o MP, é coibir uma fraude na concessão e manutenção de registros para Colecionador, Atirador e Caçador (CAC) no EstadoGAECO/Divulgação
Fraude nos CACs é investigadaMPRS
Fraude nos CACs é investigadaMPRS
Fraude nos CACs é investigadaMPRS
Fraude nos CACs é investigadaMPRS

Traficantes, homicidas, assaltantes, sequestradores, estupradores e estelionatários, alguns já condenados, omitiram antecedentes criminais ao Exército e se tornaram CACs. Entre eles, dois estão em presídios, dois usam tornozeleira eletrônica e um tem 23 ocorrências contra si por golpes.

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Há ainda o homem que chegou a trocar tiros com policiais penais dentro do Hospital Vila Nova, em Porto Alegre, na madrugada de 19 de março de 2015. Tinha ido lá, junto com comparsas, para matar um apenado em custódia durante atendimento médico.

Clubes de tiro

O promotor João Afonso Beltrame, coordenador do 8º Núcleo Regional do Grupo de Ações Especiais de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP, revelou outro caminho para facções terem acesso facilitado ao material bélico. Elas compravam armas e munições de CACs sem antecedentes criminais. Empreendedores ligados a clubes de tiro estão entre os 32 investigados.

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“Hoje, com parceria do Ministério Público Militar, demos início à retirada de circulação de centenas de armas que se encontram irregulares no nosso Estado”, declarou Beltrame. Conforme o órgão, a primeira fase da investigação detectou 141 armas irregulares.

Balanço será divulgado nesta quarta-feira

Diante da quantidade de alvos, o balanço da operação será divulgado nesta quarta-feira (18). A contagem parcial dava conta da apreensão de mais de 60 armas, cerca de 90 munições, um drone, em torno de 60 celulares e diversos documentos. Um homem foi preso em flagrante por porte ilegal de armas em cidade não informada.

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Os lugares

Foram cumpridos 82 mandados de busca, dos quais quatro em presídios, com auxílio de cão farejador do Gaeco. Apenas um lugar é fora do Rio Grande do Sul: Bombinhas, no litoral catarinense. No Vale do Sinos, as buscas foram feitas em São Leopoldo, Sapiranga, Canoas, Campo Bom e Sapucaia do Sul. Igrejinha, no Vale do Paranhana, teve um alvo.

As outras cidades são Porto Alegre, Santa Maria, Júlio de Castilhos, Jaguari, Canguçu, Pinheiro Machado, Rosário do Sul, Três de Maio, Santa Rosa, Santo Antônio das Missões, Não-Me-Toque, Giruá, São Luiz Gonzaga, Sananduva, Passo Fundo, Bento Gonçalves, Antônio Prado, Caxias do Sul, Vacaria, Gravataí, Viamão, Cachoeira do Sul, Osório, Xangri-lá, Arroio do Sal, Capão da Canoa, Charqueadas e Santo Antônio da Patrulha.


Mandados de busca contaram com auxílio de cão farejador Foto: MPRS

Coronel afirma que Exército apura casos

De acordo com o chefe do Serviço de Fiscalização de Produtos Controlados (SFPC) do Exército, coronel Nei Altieri, o material apreendido foi levado para quartéis, onde ficarão armazenados à disposição do Ministério Público. “Esses fatos já haviam sido apurados pelo Exército. Desde o início do ano estamos trabalhando nesses casos.”

Ele comenta as fraudes detectadas. “São alvos que tiveram registro em legislações anteriores, mais simplificadas.” E exemplifica: “Não se exigia certidões, apenas declaração de idoneidade”.

O coronel também fala salienta a integração. “O Exército atua em estreita colaboração com os órgãos policiais e com o Ministério Público, de forma que haja ampla troca de informações. Quando são detectadas irregularidades relacionadas à idoneidade do registrado, os certificados são cancelados.”

Tiroteio em Novo Hamburgo escancarou o descontrole

O maior tiroteio da história de Novo Hamburgo, que ganhou repercussão internacional, foi provocado por um CAC com diagnóstico de esquizofrenia. O Ministério Público apura como um homem com diagnóstico de transtorno mental obteve aval psicológico para o registro, que permitia comprar armas e munições.

Atirador experiente e habilidoso, Edson Fernando Crippa, 45 anos, matou o pai, um irmão e dois policiais militares durante surto psicótico no fim da noite de 22 de outubro, em casa e no pátio, no bairro Ouro Branco. Também baleou a mãe e uma cunhada.

Feriu outros seis policiais durante duelo de quase nove horas, no terceiro andar da residência, na Rua Adolfo Jaeger, e chegou a derrubar dois drones de órgãos de segurança. Foi morto somente pela manhã, após centenas de disparos, e ainda tinha mais de 300 munições na peça onde estava. Também possuía quatro armas registradas.

A tragédia ensejou manifestação do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski. “Lamentável o que aconteceu em Novo Hamburgo”, salientou ele, ao frisar que todos os registros de CACs passarão reavaliação e uma triagem mais rigorosa será adotada a partir de 2025.

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