POLÍCIA
Feminicídios em sequência acendem alerta sobre violência contra a mulher na região
No mês de ações de prevenção a este crime, duas mulheres foram mortas pelos maridos em São Leopoldo
Última atualização: 26/08/2024 08:53
Agosto, o mês que recebe a cor lilás em alusão à campanha pelo fim da violência contra a mulher e que marca o aniversário de sanção da Lei Maria da Penha, será lembrado, em 2024, por dois casos bárbaros de feminicídios em São Leopoldo.
Num intervalo de quatro dias, duas mulheres foram mortas pelos seus companheiros, deixando órfãos filhos que são frutos dos relacionamentos dessas vítimas com seus algozes.
Fernanda Nunes da Silva, 34 anos, morta esganada dentro de casa no bairro Santos Dumont e Cleonice Pacheco dos Santos, 48, que morreu após ser atingida com um tiro no rosto, também dentro de casa, no bairro Feitoria, são os novos nomes que entram para uma triste estatística, que de 2012 até agora ceifou as vidas de 25 mulheres na cidade.
Ocorrências
Em São Leopoldo, desde 2019, casos de violência doméstica são atendidos pela Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam). Em quatro anos, de dezembro de 2019 a dezembro de 2023, foram mais de 10 mil ocorrências registradas na delegacia. Por conta da greve de silêncio dos delegados, a reportagem não conseguiu contato com a titular da Deam para coletar números deste ano.
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Além da delegacia, a cidade conta com a Patrulha Maria da Penha, da Brigada Militar, que neste ano tem 613 vítimas em atendimento e 1.840 visitas realizadas e a Ronda Lilás, da Guarda Civil Municipal, que em quatro meses de atuação, já atendeu 95 mulheres.
Para a titular da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Comunitária, Giselda Matheus, o maior desafio é o de salvar vidas de mulheres com ações preventivas. "Prever que crimes assim aconteçam não é possível, mas podemos sim melhorar o alcance das instituições de segurança, investindo em estrutura e treinamento qualificado sobre o assunto para os agentes, e isso a GCM está fazendo".
Autores dos crimes em São Leopoldo estão presos
O caso mais recente em São Leopoldo aconteceu na noite do último dia 21. Cleonice Pacheco dos Santos, 48, morreu depois de ser atingida por um tiro no rosto dentro de casa, no bairro Feitoria. Ela ainda chegou a ser socorrida com vida ao Hospital Centenário, mas faleceu horas depois na casa de saúde. O autor do disparo, marido de Cleonice, um homem de 50 anos acabou se apresentando na delegacia de polícia na noite do dia 22, entregando a arma usada no crime.
Conforme a Polícia Civil, ele não teria aceitado o fim do relacionamento. O casal tinha dois filhos. Em março deste ano, Cleonice já havia registrado boletim de ocorrência contra o marido, por lesão corporal. Quatro dias antes, na madrugada do dia 18, Fernanda Nunes da Silva, 34, havia sido morta estrangulada dentro de casa, no bairro Santos Dumont. O autor, um homem de 40 anos, com quem Fernanda se relacionava há 20 anos, se entregou no posto da PRF em Porto Alegre, confessando o crime.
Segundo a Polícia, ele não aceitava o fim do relacionamento. Fernanda não possuía medida protetiva contra o ex, e o casal também não tinha histórico de violência doméstica. O primeiro ocorreu no dia 30 de março, também no bairro Santos Dumont. Uma mulher morreu após ser jogada do segundo andar da residência pelo irmão. O homem segue preso.
São 5 feminicídios consumados na região neste ano
Nas cinco cidades da região de cobertura do Jornal VS, já são cinco feminicídios consumados em 2024. Além dos três casos registrados em São Leopoldo, ocorreram, ainda, um em Portão, em fevereiro, e um em Sapucaia do Sul no mês de maio. Em todo o ano passado, foram três feminicídios na região: dois em Sapucaia e um em São Leopoldo, segundo dados da Secretaria da Segurança Pública do Estado (SSP/RS). No Rio Grande do Sul, de janeiro a julho deste ano foram registrados 34 feminicídios consumados. Em 2023, de janeiro a dezembro, foram 85 ocorrências deste tipo.
Centro integrado já é realidade em Sapucaia do Sul
Sapucaia do Sul conta desde o começo de julho com o Centro Integrado de Proteção à Mulher “Guardiã Maria da Penha”. O serviço, prestado pela Guarda Municipal em parceria com o Poder Judiciário, funciona por meio de visitas a mulheres com medidas protetivas ativas na cidade. De acordo com a supervisora da Guarda sapucaiense e autora do projeto, Cinara Woiczekoski, o Centro Integrado já atuou em alguns flagrantes e segue atendendo a 50 medidas protetivas.
“Porém, a previsão ainda para esse ano é chegarmos a 180 atendimentos pela patrulha”, explica Cinara. Segundo ela, dentro da programação do Agosto Lilás na cidade, a guarda municipal tem realizado palestras nas escolas e uma blitz na área central do município.
Outra ação prevista para este mês é a entrega da base móvel do Centro. Um furgão que será utilizado para o sistema de prevenção à violência doméstica nas comunidades mais carentes e em eventos.
Botão do pânico e delegacia especializada devem ser implementados em Esteio
Em Esteio, o mês tem sido de programação intensa com palestras nas escolas, rodas de conversa e distribuição de material informativo. Na cidade, há, ainda, a expectativa de implantação de dois importantes equipamentos de segurança: uma delegacia especializada e o botão do pânico, um aparelho que será dado a mulheres com medida protetiva ativa. De acordo com a primeira-dama, Andrea Schneider Pascoal, a aquisição do botão do pânico está em processo de licitação.
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“Paralelamente estamos avaliando junto a Polícia Civil e Poder Judiciário a ordem de entrega do botão, começando pelas vítimas de casos mais graves”, destaca. Além disso, segundo ela, a Prefeitura está em processo de locação do espaço onde será instalada a delegacia especializada. “E alinhando a programação da mudança/ocupação que está prevista para o mês de setembro”, completa Andrea.