AÇÃO PENAL
Famoso cantor fez propaganda para empresa que motivou assassinato de ex-vice-prefeito da região; assista
Em vídeo descontraído com o acusado de ordenar morte, sertanejo come e recomenda carne do frigorífico vendido pela vítima
Última atualização: 22/03/2024 06:48
Apontado como negócio motivador do assassinato do empresário Adélcio Haubert, 65 anos, ex-vice-prefeito de Santa Maria do Herval, o frigorífico Boa Vista era anunciado de forma peculiar. Acusado de ser mandante do homicídio, o empresário catarinense Cristiano de Bem Cardoso, 44, divulgava o empreendimento ao lado do cantor Fernando Fakri de Assis, o Sorocaba, 43, um dos artistas sertanejos de maior sucesso do País, da dupla Fernando e Sorocaba.
Ao comprar o frigorífico de Haubert, em maio de 2018, Cardoso se apresentava como sócio de Sorocaba. Em dezembro do mesmo ano, o perfil oficial da empresa de Santa Maria do Herval divulgou um vídeo com o novo dono e o cantor. A gravação ocorre em tom descontraído, durante almoço.
“Aos melhores vendedores de carnes bovina do Brasil, nossa equipe do Boa Vista tem uma pessoa aqui que vai mandar um recado para vocês”, introduz Cardoso. A câmera é voltada para Sorocaba, que prontamente fala: “Abraço aos amigos do frigorífico Boa Vista. Que Deus abençoe vocês. Nós estamos aqui degustando um bom churrasco, carne de primeira, é carne boa demais”. A empresa parou de funcionar cerca de dois anos depois, no auge da pandemia.
Construção e cavalos
Empreendimentos da construção civil e voltados à criação de cavalos de raça, na Grande Florianópolis, eram em sociedade com o cantor, segundo Cardoso. Há fotos e declarações dos dois sobre os negócios nas redes sociais e na imprensa. Sorocaba, em seu Instagram, publica foto sorridente com Cardoso em janeiro de 2020. Ambos abraçam um filhote de cavalo branco. Ao lado está outro cantor: Wesley Safadão. Há vários outros registros parecidos no haras catarinense.
O sertanejo, porém, nega investimentos com Cardoso. “Sorocaba nunca foi sócio! Apenas prestou serviço para ele há mais de cinco anos e não tem nem contato mais”, afirma a assessoria de imprensa do artista à reportagem.
Catarinense e outros dois réus devem ir a júri
O empresário catarinense foi denunciado nesta segunda-feira (18) como mandante da morte de Haubert, ocorrida há quase quatro anos. No dia seguinte, o juiz de Dois Irmãos, Miguel Carpi Nejar, aceitou a tese do Ministério Público e Cardoso virou réu. Ele e dois comparsas devem ir a júri. Vão responder também pela tentativa de homicídio contra a esposa de Haubert.
Vice-prefeito de Santa Maria do Herval de 1993 a 1996, Haubert foi o maior empregador e gerador de receita para a cidade da Encosta da Serra durante muitos anos. Quando vendeu o frigorífico para Cardoso, já estava em recuperação judicial. A transação foi feita por R$ 10 milhões, parcelados. Conforme a investigação, nada foi pago.
Incomodado com as cobranças de Haubert, segundo o Ministério Público, Cardoso mandou matá-lo. De acordo com a denúncia, o empresário delegou o assassinato ao funcionário de confiança Silvio Soares das Chagas, 48, que recrutou Jôni André Haubert, 34, e outro homem, não identificado, para a excução. Jôni era primo de segundo grau da vítima.
“É absurda a acusação”
Nesta quinta-feira (21), quando a reportagem revelou a decisão judicial, o advogado Fábio Adams, defensor de Jôni, aponta erros na investigação. “É absurda a acusação em relação a ele. E tem muita prova que direciona para outras pessoas que tinham motivação para cometer o crime. Durante a instrução do processo, com certeza essas situações serão demonstradas, principalmente uma prova que passou incrivelmente despercebida na investigação.”
Chagas se manifestou por mensagem na quarta (20). “Sou inocente e vou provar”, resumiu. A reportagem não conseguiu contato com Cardoso. O telefone dele está sem sinal.
Haubert e a esposa foram atingidos
Haubert e a esposa Flávia, na época com 64 anos, assistiam televisão na sala de casa, na Rua Beno Zimmer, bairro Boa Vista do Herval, às 19h52 de 21 de outubro de 2020. Os tiros passaram pelos vidros.
Um acertou a cabeça de Haubert, que morreu cinco dias depois no Hospital Unimed, em Novo Hamburgo. A esposa, ferida por fragmentos da bala que atingiu o marido, precisou reconstruir o rosto. Eles estavam sozinhos. Os dois filhos e três netos moram em outras cidades da região.