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OPERAÇÃO DUBAI

"Fala, galera": Influenciamento digital volta a virar caso de polícia na Grande Porto Alegre

Presos pela manhã e soltos à tarde sob fiança de R$ 100 mil, investigados afirmam que rifas virtuais são legalizadas

Publicado em: 06/08/2024 às 21h:45 Última atualização: 06/08/2024 às 21h:46
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O universo do influenciamento digital volta a virar caso de polícia na Grande Porto Alegre. Desta vez, um casal de Canoas é suspeito de golpes em todo o País. Com mais de 2 milhões de seguidores em quatro perfis de rifas virtuais no Instagram, Gladison Pieri e Pamela Pavão são investigados por exploração de jogos de azar, crime contra a economia popular, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Eles afirmam que o negócio é legalizado.

Gladison e Pamela | abc+



Gladison e Pamela

Foto: Reprodução/Instagram

A Operação Dubai, deflagrada no início da manhã desta terça-feira (6) pela Polícia Civil, chegou a prender a dupla em casa, no bairro Igara, durante cumprimento de uma das 65 medidas judiciais. O flagrante foi por posse irregular de arma de fogo, pois havia uma pistola calibre 380 munições na residência. O casal pagou fiança de aproximadamente R$ 100 mil e foi liberado à tarde.

Apreensão milionária

No Rio Grande do Sul, os outros mandados foram cumpridos em Novo Hamburgo e Campo Bom. Também houve apreensões em São Paulo, na capital, e em Balneário Camboriú, no litoral catarinense, onde Gladison e Pamela compraram apartamento de alto padrão. Mais de 30 automóveis de luxo foram recolhidos, além de motos aquáticas, barcos, 600 mil em dinheiro, joias, passaportes, celulares e outros objetos.

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Em uma revenda no bairro Pátria Nova, em Novo Hamburgo, foram apreendidos sete automóveis, avaliados em R$ 2 milhões. Entre os veículos, estão dois Porsches, um BYD Seal, um Honda Civic, uma Range Rover Evoque, um Golf e um Up. O dono, que acompanhou os policiais, não quis falar. Ele deve ser interrogado no decorrer do inquérito.

Até casas eram sorteadas por 10 centavos

Conforme a 3ª Delegacia de Polícia de Canoas e a Delegacia de Repressão ao Crime de Lavagem de Dinheiro do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), o casal sorteava casas, apartamentos, motos, motos aquáticas, carros de luxo e dinheiro por cotas de valores irrisórios. Tinha rifa que custava 10 centavos.

Ainda segundo a Polícia, apesar de serem entregues, os prêmios muitas vezes acabavam nas mãos de pessoas próximas aos suspeitos. “A apuração também aponta para clara lavagem de dinheiro, com movimentações milionárias nas contas dos investigados. Esses valores seriam misturados com outros, faturados por empresas dos suspeitos, que prestam serviços ou vendem produtos paralelos”, observa a instituição.

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Além disso, foi apurado que os bens não estão registrados em nome de Gladison e Pamela. “Com a mescla do capital e a ocultação dos ativos provenientes de infrações penais, os investigados lavariam o dinheiro ilícito”, acrescenta a Polícia, em nota, já que os delegados estão em greve de silêncio por aumento de salário.

“Me dei mal”, declara vítima

O inquérito vem ouvindo vítimas do esquema. “Eu não perdi muito, mas conheci gente que perdeu mais. Tinha vários perfis divulgando as rifas. Aproveitei para fazer uma fezinha, mas me dei mal”, comenta um motorista de 40 anos, morador de Canoas. Ele diz que acabou caindo no golpe após compartilhamentos nas redes sociais.

O perfil principal no Instagram tem 1,1 milhão de seguidores, de todas as classes sociais, entre empresários, políticos, jornalistas, comerciantes, industriários e até policiais. Gladison se identifica como “CEO” (diretor) da plataforma. A conta pessoal tem 313 mil seguidores. Ele possui mais um perfil, do ramo automotivo, com outros 282 mil. Na outra plataforma de rifas, há 299 mil seguidores. Pamela, com 373 mil, é mencionada como “CEO”. Ela divulga ainda que atua no ramo de cosméticos.

Ostentação até com cirurgias estéticas

As redes sociais do casal são uma ostentação do luxo. As postagens mostram viagens para destinos como Dubai e Paris. Também apresentam passeios suntuosos ao Rio de Janeiro e Gramado, com fotos em carros de luxo, iates, motos aquáticas e restaurantes requintados. A jovem mostra até os resultados de cirurgias estéticas.

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Além da venda de rifas, eles promovem sorteios. O público precisa marcar amigos nos comentários e compartilhar nos stories, fazendo com que a dupla ganhe mais seguidores. “Tá liberado. 50K na conta de um de vocês por apenas 18 centavos”, diz a influencer em um vídeo publicado no dia 4 de julho. Na gravação, ela segura uma mala transparente cheia de notas de 100 reais, que seriam os R$ 50 mil prometidos a quem participasse do jogo de azar.

“A gente não deve nem teme”

Após quase dez horas na delegacia, o casal chegou em casa no fim da tarde. Gravou um vídeo em alto astral e postou nas redes sociais. “Fala, galera, muito boa tarde. Passando aqui só pra dar um alô pra vocês. Muita gente preocupada, mandando mensagem para a gente, né?”, diz Gladison.

Pamela, ao lado, também sorridente, emenda: “Muita gente falando muita coisa que não tem ciência. A gente só está passando pra avisar que já estamos em casa. Já prestamos o nosso depoimento. E como vocês sabem, a gente é 100% regularizado. A gente não deve nem teme. A polícia veio fazer o trabalho deles. A gente foi lá prestar esclarecimento. E fica a dica: não prestem muita atenção em gente que fala o que não sabe”.

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O companheiro conclui: “Então é isso, galera. Tá tudo certo. Tudo que foi pedido a gente esclareceu pra gente ajudar na investigação, pra ser mais rápido ainda o desenrolar. E vamos meter marcha nos trampos, trabalhar, afinal a gente é 100% regulamentado. Não tem o que temer.” A postagem recebeu mais de quatro mil comentários, a maioria de apoio ao casal.

Caso Nego Di também estourou em Canoas

O humorista gaúcho e ex-participante do programa televisivo Big Brother Brasil (BBB) Dilson Alves da Silva Neto, 30 anos, conhecido como Nego Di, foi preso no dia 14 do mês passado, em uma casa na praia de Jurerê Internacional, em Florianópolis, por golpes milionários contra centenas de pessoas pelo País. A prisão dele foi desencadeada pela acusação de fazer 16 vítimas em Canoas.

Por meio de empresa registrada na cidade, o influenciador é acusado de se valer da confiança de mais de 10 milhões de seguidores nas redes sociais para vender produtos diversos, como televisores, celulares e eletrodomésticos, e não entregá-los. Mais de 370 pessoas teriam sido lesadas pelo site que a dupla manteve entre março e julho de 2022.

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