O empresário de 60 anos sequestrado na semana passada no bairro Scharlau, em São Leopoldo, ficou quatro dias acorrentado, de olhos vendados, amordaçado e com os ouvidos tapados por fones. Quando libertado do cativeiro, em Taquari, estava debilitado a ponto de precisar de atendimento médico urgente. Segundo a Polícia Civil, não foi pago resgate. Os sequestradores chegaram a exigir R$ 22 milhões.
Dono de empresa de plásticos e embalagens, o homem teve o carro bloqueado ao sair de casa, por volta das 12h30 do último dia 19, segunda-feira. Dois homens, com uniformes falsos da Polícia Civil, armados de fuzil e pistola, retiraram o empresário à força do veículo e o colocaram em um Cobalt equipado com giroflash, para parecer uma viatura discreta.
Vigiado por cães
O leopoldense foi levado em outro veículo ao cativeiro, a quase 100 quilômetros de distância, na área central da cidade do Vale do Taquari. Era o porão de um prédio comercial, sujo e sem luz solar, vigiado por cães. Familiares logo receberam o primeiro contato dos sequestradores, que começaram a fazer exigências milionárias de resgate. O Cobalt foi abandonado em Alvorada. No mesmo dia, o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) passou a acompanhar o caso e identificou outros carros usados pela quadrilha.
Uma mulher e dois homens foram presos
Na quinta-feira, os agentes encontraram um dos veículos, de modelo não informado. Estava com uma mulher de 20 anos em Xangri-Lá, no litoral norte. A suspeita, dona de loja de móveis no bairro Mathias Velho, em Canoas, foi autuada em flagrante por extorsão mediante sequestro. Ela teve a preventiva decretada pelo Judiciário.
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As principais prisões aconteceram no início da tarde de sexta. Dois homens tentaram fugir dos policiais na BR-116, em Canoas, e acabaram sendo interceptados. Transitavam em um Kia Cerato usado no sequestro. Com a dupla, os agentes apreenderam drogas, uma pistola e um revólver.
Foragido tinha rompido tornozeleira
Um dos presos no Cerato é Vanderlei Luciano Machado, apontado como membro do Primeiro Comando da Capital, o PCC, a maior facção criminosa do País sediada em São Paulo. O foragido tentou enganar os policiais com um nome falso, mas foi logo identificado.
Com condenações por homicídio, roubos e tráfico, Machado liderava ousadas fugas em presídios gaúchos até 2017, quando foi transferido para a Penitenciária Federal de Porto Velho, em Rondônia. No início de 2024, voltou ao Rio Grande do Sul e recebeu prisão domiciliar com monitoramento eletrônico. No mês passado, rompeu a tornozeleira.
Condição degradante impactou policiais
Por volta das 15h30 de sexta, os policiais estouraram o cativeiro. A movimentação de policiais de preto, com toucas ninjas e armas de grosso calibre, assustaram moradores de Taquari. Os agentes entraram pela lateral de um pequeno prédio comercial, até chegar ao porão. Os cães não avançaram nos agentes.
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Ao arrombar a porta, os policiais se depararam com o empresário acorrentado pelas pernas. Quando libertado, sequer conseguia ficar em pé. “Estava muito debilitado, hipoglicêmico, devido à situação extrema de estresse.
Apresentava sinais claros, como nervosismo, ansiedade, confusão mental e até delírio”, relata um agente que participou da operação, impactado com a condição degradante. “No começo, fazia as necessidades no colchão. Depois, deram um balde.” Na sede do Deic, em Porto Alegre, o empresário teve um reencontro emocionado com familiares.
Na propriedade, foi apreendido um Creta roubado, com placas clonadas, usado no transporte da vítima ao cativeiro. Uma arma de fogo e mais drogas foram encontrados. A área passou por perícia. Nenhum sequestrador foi encontrado no local.
Facção paulista avança no Sul
A Polícia apura os elos entre os vales do Sinos e Taquari, além de tentar identificar outros envolvidos. Há indícios de que o PCC tenha participação no sequestro. O grau de tortura à vítima e o nível de ameaças aos familiares são práticas da facção paulista, que vem se alastrando para o sul do País. Indícios apontam aliança com a maior facção gaúcha, sediada no Vale do Sinos.
Na noite de 19 de junho, um grupo com armas de guerra roubou R$ 30 milhões que recém tinham chegado de avião ao Aeroporto Hugo Cantergiani, em Caxias do Sul. Houve confronto entre policiais e assaltantes. Morreram o sargento da Brigada Militar Fabiano Oliveira, 47, com um tiro que atravessou o colete balístico, e o quadrilheiro Silvio Wilton da Costa, o Bin Laden, 37, membro ativo do PCC. Com ele, em uma caminhonete, foi recuperada a metade do dinheiro roubado.
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