VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Em choque e muito machucada, mulher torturada por 8 horas não consegue prestar depoimento; veja o que diz delegada
Investigação iniciada pela Delegacia da Mulher aponta que a vítima apanhou durante muito tempo antes de conseguir pedir socorro aos vizinhos
Última atualização: 20/12/2023 11:52
A violência contra mulher voltou à tona, de modo assustador em Canoas, após o surgimento do caso em que a vítima foi torturada e mantida em cárcere durante horas, em uma pequena casa, no bairro Rio Branco, na terça-feira (19).
O crime é apurado pela Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) de Canoas desde a noite de terça, segundo a delegada Angélica Giovanella Marques, que assumiu a apuração.
Segundo a delegada, a vítima apanhou durante horas até conseguir enfim pedir socorro e chamar a atenção dos vizinhos para o que estava acontecendo na casa, razão pelo qual foi encontrada muito machucada.
“Ela conseguiu pedir socorro só depois de apanhar durante muito tempo”, explica. “Isso começou de manhã e se estendeu por horas até que a Brigada Militar chegasse na casa.”
Conforme a delegada, a ocorrência foi registrada inicialmente como “lesão corporal” devido aos ferimentos na vítima de 27 anos, contudo a investigação deve garantir indiciamento por tortura, cárcere, etc.
“Inicialmente ele foi preso em flagrante por lesão corporal, porque preliminarmente é o que se tinha, mas vamos começar a ouvir testemunhas e isso deve garantir ao inquérito acusações contra o suspeito”, esclarece.
A vítima foi ouvida, porém, estava tão desorientada que precisará prestar depoimento mais uma vez para esclarecer os fatos. Ela acabou sendo hospitalizada após o atendimento de urgência, aponta a delegada.
“Ela deve ser ouvida somente quando tiver condições de falar”, frisa. “Foi muito grave o que aconteceu e precisamos ter toda a cautela necessária ao lidar com a vítima. Nada justifica tamanha violência”, acrescenta.
Também não está claro ainda a presença do idoso que estava na casa. O homem aparentando entre 60 e 70 anos estava em aparente estado de desnutrição, o que indicaria maus-tratos.
“Não sabemos se aquele idoso era cuidado por eles, porque ele também não disse nada aos policiais. Foi achado desnutrido e bastante desidratado, precisando de auxílio médico.”
As crianças de 4 e 5 anos foram encaminhadas aos cuidados do Conselho Tutelar, permanecendo em segurança, confirma Angélica. Elas serão importantes para esclarecer o que aconteceu na casa.
“Vamos ouvir todos”, avisa. “Ele não quis dizer nada em depoimento, mas pelo que soubemos até agora, os dois eram companheiros e estavam há algum tempo. Não sabemos quanto, mas é algo que as crianças vão conseguir esclarecer”.
Entenda o caso
Por volta de 18h30 desta terça-feira, o 15º Batalhão da Polícia Militar (BPM) recebeu uma denúncia anônima por meio do 190 apontando um caso de violência doméstica no bairro Rio Branco.
Os PMs chegaram ao endereço e, ao baterem na porta, quem atendeu foi uma criança de 5 anos, visivelmente assustada, que pediu socorro.
A situação encontrada foi assustadora: a vítima de 27 anos estava no sofá com ferimentos em todo o corpo, além de estar em estado de choque.
Os policiais descobriram então que ela foi espancada com um cabo de vassoura, um cabo de aço e um pedaço de madeira durante as oito horas.
As crianças de 4 e 5 anos, que permaneciam na casa, também estavam em choque. Aos PMs, as crianças contaram que o pai disse que "tocaria fogo na sua mãe".
A mulher foi socorrida e encaminhada com urgência para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Rio Branco, sendo posteriormente encaminhada para o Hospital de Pronto Socorro de Canoas (HPSC).
Já as crianças ficaram sob a guarda do Conselho Tutelar. Um idoso que estava na casa, em aparente estado de desnutrição, também foi levado para cuidados médicos até a UPA Rio Branco.
Mulher decapitada
O caso registrado nesta terça-feira faz lembrar um crime de violência doméstica atroz cometido há um ano também no bairro Rio Branco, quanto uma mulher foi decapitada pelo marido com uma faca de cozinha.
O feminicídio foi registrado na noite do dia 9 de dezembro, após a Brigada Militar ser acionada ao ouvir os gritos de uma mulher. Ao chegarem no local, os PMs encontraram a vítima de 49 na cama e sem a cabeça.
O marido de 36 anos foi preso em flagrante pelo crime. Não havia histórico de violência entre o casal ou medida protetiva pedida pela vítima até então, razão pelo qual o caso chocou a comunidade na época.