O caso envolvendo a recém-nascida encontrada morta na tarde desta segunda-feira (24), na lixeira de um prédio de luxo em Canoas, foi classificado pela Polícia Civil como o mais triste episódio dos últimos dois anos.
A apuração que levou à prisão da mãe em flagrante, horas depois da localização do cadáver, foi detalhada em uma coletiva organizada pelo Departamento Estadual de Homicídios na manhã desta terça-feira (25).
Diretor do Departamento Estadual de Homicídios, o delegado Mario Souza revela que a suspeita de 40 anos trabalhou normalmente após ter asfixiado a filha com fita adesiva no nariz e na boca para matá-la.
“Quando o caso chegou sobre um feto abandonado no lixo de Canoas, a gente já sabia que seria uma situação difícil, mas ninguém imaginava encontrar a criança enrolada em um cobertor e morta com as vias respiratórias obstruídas com fita”, desabafa. “Todo mundo é pai e mãe e matar uma criança assim é uma coisa impensável.”
Segundo a investigação, a bebê teria nascido cerca de 10 horas antes da morte. O Instituto-Geral de Perícias (IGP) comprovou que a bebê até foi amamentada antes de morrer. A mãe teria saído de casa com ela escondida na bolsa.
“Ela saiu de casa para trabalhar com a criança provavelmente já morta enrolada no cobertor e escondida em uma bolsa preta”, conta. “Pegou um ônibus e quilômetros depois chegou ao prédio, e quando questionaram sobre o volume que carregava, ela disse que era boneca”, completa.
Outro aspecto que impressionou a Polícia Civil foi que a mulher prosseguiu trabalhando ao longo do dia, ignorando o que havia acontecido e sendo vista saindo, horas mais tarde, do local de trabalho, como se nada tivesse acontecido.
“Foi conduzida uma rápida investigação para chegarmos até o paradeiro da suspeita”, frisa. “Conversamos com colegas de trabalho e parentes que observaram que o comportamento dela não demonstrava nenhum tipo de alteração. Era como se nada tivesse acontecido.”
Inabalada
À frente da investigação da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Canoas, o delegado Arthur Hermes Reguse confirmou que a suspeita não estava fora de si e aparentava tranquilidade ao ser presa.
“Ela até comentou assuntos absolutamente triviais durante o período em que estava no carro de polícia”, explica. “Não parecia psicologicamente abalada com nada do que aconteceu.”
Mãe de outros dois menores, a mulher presa em flagrante já teve a prisão preventiva pedida pela Justiça, que diz ser um caso ímpar, já que não é habitual se ver uma mãe presa logo após o parto do próprio bebê.
“Descobrimos por meio da investigação que a suspeita tentava esconder a gravidez de qualquer jeito”, esclarece. “Inclusive, não se sabe quem era o pai da criança e não há indício da participação de mais ninguém durante o parto improvisado em casa por ela.”
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Impacto
Responsável pelo 15º Batalhão da Polícia Militar (BPM), o tenente-coronel Clóvis Ivan Alves aponta que a Brigada Militar (BM) chegou primeiro à cena do crime ao ser acionada por seguranças por volta das 13 horas de segunda-feira.
O experiente oficial disse que os policiais mal acreditaram ao constatar que o recém-nascido na lixeira de um banheiro do prédio havia sido asfixiado com fita adesiva transparente.
“Com o tempo, o policial acaba criando uma casca devido ao tipo de coisa que vê em sua rotina policial”, observa. “Porém, tratava-se de um bebê saudável que havia sido descartado com fita transparente tapando o rosto. É muito difícil não ser impactado por uma imagem desta natureza.”