Uma mulher de 31 anos simpática e educada com os vizinhos. A filha, uma menina de 7 anos sorridente, que cumprimentava os moradores do prédio com abanos, palavras carinhosas e olhar meigo. A descrição dos condôminos não condiz com a brutalidade testemunhada nesta sexta-feira (9) na Galeria Central, no Centro de Novo Hamburgo.
“Ninguém aqui poderia imaginar uma tragédia dessas. Está todo mundo consternado. Eram benquistas por todos. Essa menininha querida veio para cá bebê e cresceu aqui no prédio”, relata um dos moradores mais antigos, sobre a morte da criança a facadas. A mãe foi presa em surto, no início da noite, e segue hospitalizada.
O Grupo Sinos teve acesso ao local do crime e ouviu relatos estarrecedores. As luvas dos peritos ainda estavam sobre o sangue, no corredor do terceiro andar, perto da escada. Os gritos ainda ecoavam na memória das pessoas, assim como não saía da mente a cena impactante de uma criança assassinada, nos braços da acusada, a própria mãe.
Testemunhas do socorro contam o que viram
O prédio da Rua Joaquim Nabuco, conhecido pelas galerias comerciais no térreo, é formado por apartamentos nos dois pavimentos superiores. Foi no terceiro andar, às 18h15, que pedidos de socorro apavoraram a parte residencial.
Moradores saíram correndo de casa para ver o que era e se depararam com uma vizinha deitada no chão do corredor, abraçada à filha. As duas estavam ensanguentadas, com um rastro que vinha do apartamento delas. “Socorro. Alguém me ajuda”, repetia a mulher.
“Eram gritos muito altos”, conta a primeira vizinha a chegar. Ela faz um relato com informações cruciais sobre o crime: “Eu peguei no pulso da criança. Estava gelado. O corpo já estava rígido. O sangue estava seco nas roupas”. Ou seja, a menina não teria sido morta naquele momento. No entanto, nada de anormal foi percebido no apartamento no decorrer da tarde.
Mãe também tinha lesão no corpo
Com mais moradores no entorno, chamando Samu e Polícia ao mesmo tempo, a mãe tentava explicar a morte da filha: “Ela caiu da escada”. Quando os socorristas chegaram, todos viram que a versão da mulher, até então duvidosa pela quantidade de sangue, era impossível. Os profissionais de saúde constataram perfurações profundas na criança, principalmente no tórax e abdômen. A mãe também tinha pelo menos uma lesão de faca, no meio do peito.
“A porta do apartamento estava entreaberta. Vimos que estava tomado de sangue, no chão, na cama e até no pegador da geladeira”, acrescenta a vizinha. O pai da menina, um argentino de 42 anos, foi avisado. Chegou em seguida e entrou em desespero. “Não pode ser!”, dizia, com as mãos na cabeça. Segundo ele, estava separado da mulher há pouco tempo.
O corpo da menina foi levado ao Instituto Médico-Legal, em Porto Alegre, e a mãe, ao Hospital Municipal de Novo Hamburgo. Autuada em flagrante como suspeita do homicídio, ela teria tentado o suicídio após matar a filha. A possível faca do crime foi apreendida. Estava sobre a cama.
As duas viviam sozinhas no apartamento. O ex-marido da acusada e pai da criança, conforme testemunhas, fazia visitas frequentes. Um irmão da mulher, morador de São Leopoldo, ficou abrigado por um período no imóvel por causa da enchente de maio.
“Era uma relação normal”, diz vizinha sobre convívio entre mãe a filha
O caso é investigado pela Delegacia de Homicídios, que tenta esclarecer como e quando o crime aconteceu. O pai da menina declarou ainda que não tem conhecimento sobre uso de entorpecentes ou de doenças mentais por parte da ex. Afirma apenas que ela já teve surtos, mas nunca contra a filha.
Vizinhos reiteram que nunca viram ou ouviram qualquer atitude violenta da mãe. “Elas andavam de mãos dadas nas áreas comuns. Do apartamento delas, não se percebia gritos ou situações de maus-tratos. Era uma relação normal, que sempre pareceu de muito amor, entre mãe e filha”, descreve uma moradora do mesmo andar.
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