A morte de Arildo da Silva, de 22 anos, completa um mês nesta terça-feira (16). Ele morreu após ser baleado por um policial da Brigada Militar durante uma ocorrência no fim da tarde de 16 de dezembro de 2023, no bairro Vila Jardim, em Parobé, no Vale do Paranhana. A vítima estava em surto de esquizofrenia.
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Na residência onde tudo aconteceu ainda tem marca do primeiro disparo, que atravessou a porta. A bala ficou alojada no sofá da família. O segundo tiro foi fatal, no tórax de Arildo, que tinha um facão na mão. O pai dele, seu Anildo da Silva, 63, mostra respingos de sangue na cadeira onde o filho caiu e se escorou antes de ser levado para o Hospital São Francisco de Assis. Segundo a casa de saúde, o jovem faleceu instantes após dar entrada na unidade.
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“É muito difícil olhar para a porta e ver a marca do tiro”, conta emocionado. “O sofá também traz lembrança, ainda mais sabendo que a bala ainda está alojada nele”, completa o idoso. “Todo esse tempo e não veio ninguém. Nenhuma perícia, nada”, lamenta.
“Só queremos justiça e que os fatos sejam esclarecidos”, afirma Alex da Silva, 24, irmão do jovem morto. O caso é investigado pela Polícia Civil, que já ouviu a família, os brigadianos e a equipe do Samu. “Para nós está estranho. Eles [PC] nem quiseram ouvir outras testemunhas, tem vizinhos que presenciaram tudo”, desabafa Alex.
Para o irmão da vítima, a ação dos policiais não foi adequada. “Eles alegaram que o último recurso era atirar, mas havia outras possibilidades. Meu irmão havia recuado, não oferecia o perigo que eles falam. Poderiam tentar usar outros recursos que não esse, talvez chamar reforço”, pontua.
Alex lembra que a vítima não queria ser internada e que em outras ocasiões a BM e o Samu já auxiliaram a família durante surtos de Arildo. “Um dos policiais não era a primeira vez, acho que já tinha vindo duas vezes, então já conhecia o caso. O que atirou foi a primeira vez”, relata. Ainda conforme o irmão da vítima, o seu parente estava com um facão, mas após ser atingido pelo disparo de arma de choque, que não fez efeito, ele teria recuado e ingressado para dentro da casa onde residia com os pais.
De acordo com ele, os parentes da vítima, socorristas e policiais estavam todos do lado de fora do pátio, onde Arildo não poderia ferir ninguém. “Não precisava atirar nele, poderiam tentar outras formas de dialogar, como sugerir ir fazer medicação e não internar, que era o que ele não queria. Nem deixaram a gente tentar”, lamenta.
O escritório de advocacia Masau e Castro, que representa a família de Arildo, também questiona o fato de outras testemunhas não serem chamadas para depor. Para os defensores, são esses relatos que podem esclarecer tudo o que aconteceu no fim daquela tarde de sábado. “As testemunhas que não tem relação direta com o fato, que são só testemunhas, que não estão sendo acusadas ou são vítimas, a delegada não ouviu”, dizem os advogados. Os representantes entraram com um requerimento para que a Polícia Civil colha o depoimento de quatro testemunhas. “Aguardamos o resultado.”
A delegada Cibelle Savi, responsável pela investigação, afirma que as oitivas estão sendo dentro dos limites permitidos por lei. “Temos bastantes elementos nos procedimentos decorrentes de registros anteriores e também dos responsáveis pelo atendimento da ocorrência, em especial da Samu”, explica.
Cibelle também esclarece que a perícia não foi realizada na residência onde Arildo foi baleado porque “o local foi desfeito” e que “reconstituição é só para quando há dúvida sobre o fato, como o delito ocorreu ou versão conflitante”.
BM também investiga
O tenente-coronel André Lima da Silva, do 32º Batalhão de Polícia Militar (BPM), apenas reforça que o Inquérito Policial Militar (IPM) foi instaurado para averiguar a conduta dos brigadianos que atenderam a ocorrência. “A investigação está em curso”, afirma. A família de Anildo prestou depoimento à BM na semana passada.
“Nós confiamos que eles farão um bom trabalho e esclarecerão tudo”, diz Alex. Já o pai da vítima cobra medidas severas. “Espero que os dois policiais sejam afastados. Eles não podem ficar nas ruas”, enfatiza.
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