O Rio Grande do Sul fecha o ano com milhares de desaparecimentos registrados. Foram mais de 7,4 mil boletins de ocorrência, sendo 7,3 mil pessoas localizadas com vida. Pelo menos 155 pessoas foram encontradas mortas.
CLIQUE AQUI PARA RECEBER NOSSA NEWSLETTER
Os dados são da Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Estado até o dia 30 de novembro. No ano anterior, 7,5 mil boletins de ocorrência foram registrados, sendo que 7,3 mil pessoas foram achadas vivas e 167, mortas.
ENTRE NA COMUNIDADE DO JORNAL NH NO WHATSAPP
Neste ano, as cidades com mais registros no Vale do Sinos foram Canoas (340), Novo Hamburgo (177), Sapucaia do Sul (81), Esteio (39) e Sapiranga (33). Já no Paranhana/Encosta da Serra, os municípios com mais desaparecimentos que chegaram às mãos da Polícia são Taquara (39), Igrejinha (12), Rolante (9), Riozinho (6) e Presidente Lucena (4). Por fim, no Vale do Caí, Montenegro (52), Capela de Santana (9), Salvador do Sul (4) e Harmonia (1).
Desdobramentos
Dois casos emblemáticos de desaparecimentos na região chegaram aos últimos capítulos em 2024. No dia 7 de junho, uma ossada feminina foi encontrada em área de mata de Sapucaia do Sul. Cerca de 10 dias depois, a Polícia Civil confirmou que se tratava dos restos mortais da advogada Alessandra Dellatorre, que desapareceu em julho de 2022 após sair para caminhar em São Leopoldo. A investigação concluiu que ela não foi vítima de crime.
Outro caso que está próximo do fim e teve desdobramentos neste ano é do casal de Cachoeirinha Rubem Heger, 85 anos, e Marlene Stafford Heger, 53, que sumiu em fevereiro de 2022. A filha e o neto do idoso, Cláudia de Almeida Heger, 53, e Andrew Heger Ribas, 30, foram presos em maio daquele mesmo ano por suspeita de matar os moradores da região metropolitana.
Em 2024, em delação premiada, o neto contou ao Ministério Público como Heger e Marlene foram mortos. De acordo com ele, os corpos foram queimados com lenha e carvão em uma churrasqueira na casa onde vivia com a mãe em Canoas. Vizinhos confirmaram à Justiça que a churrasqueira permaneceu acesa por três dias. Os dois irão a julgamento.
Diferentemente destes casos que tiveram desfechos ou revelações neste ano – embora os desaparecimentos sejam de anos anteriores –, outros sumiços pela região continuam sem respostas. Relembre:
Novo Hamburgo
Caso Jéssica
Uma família de Sapucaia do Sul convive com a angústia e a dúvida do que aconteceu com Jéssica de Oliveira, 30, desde 1º de fevereiro deste ano. Naquele dia, ela saiu para um encontro em Novo Hamburgo e, desde então, o paradeiro dela é desconhecido. Antes de sumir, Jéssica fez uma vídeo chamada com a sua irmã de 16 anos, que estava do lado do seu filho de 5 anos. Esse foi seu último contato com a família.
Na ligação, Jéssica teria dito que estava no bairro Lomba Grande, em Novo Hamburgo. Ela parecia preocupada e estava dentro do próprio carro, um Polo Branco. No banco do carona, aparecia um homem de braço tatuado. No fim daquela tarde, o boletim de ocorrência foi registrado após a família não conseguir mais contato com ela. O Polo foi captado por imagens de segurança na Rua Guia Lopes, perto do Porto Seco, no bairro Santo Afonso.
Por volta das 21h30 do dia seguinte, o veículo de Jéssica foi encontrado incendiado em mata de difícil acesso à margem da Rua Presidente Lucena, no bairro Primavera, sem vestígios da proprietária. Uma das suspeitas é que a vítima teria sido contratada para um programa sexual por meio de um site de acompanhante, momento em que teria sido alvo de uma emboscada feita pela esposa de um traficante, a quem Jéssica teria feito visitas íntimas no presídio de Charqueadas.
A reportagem busca mais informações sobre o andamento da investigação com a Polícia Civil, mas não teve retorno até a publicação da matéria.
Saiu para trabalhar e não voltou mais
O morador do bairro Roselândia José Evandro Witt, 44, foi visto pela última vez no dia 9 de janeiro, quando saiu de casa para trabalhar. Desde então, a família não tem nenhuma pista sobre a localização dele. Na época que Witt sumiu, os parentes fizeram diversas buscas por conta própria. No entanto, nenhum sinal.
Ele saiu de casa em um Hyundai HB20 Sedan, de cor prata, com placas de Estância Velha. Deveria ter ido ao bairro Rondônia, onde realizaria um trabalho no lar de idosos do cunhado. Mas não apareceu. Witt trabalha como instalador de ar-condicionado.
Em crise, sumiu
Um homem de 29 anos está desaparecido desde 5 de dezembro. A família de Luis Henrique Leite da Silva não tem notícias dele desde que saiu de casa, no bairro Primavera. De acordo com os parentes, ele é diagnosticado com esquizofrenia e estava em surto quando sumiu. Completou 30 anos no dia 20 de dezembro.
Ex-taxista desaparecido
O taxista aposentado Neurides João Gonçalves, 64, também desapareceu no dia 5 de dezembro. Ele saiu de casa no bairro São Jorge, por volta das 7h30, enquanto a esposa se arrumava para ir com ele ao posto de saúde. A família não tem informações do paradeiro dele, que saiu sem levar o telefone celular e documentos. Em agosto deste ano, Gonçalves foi diagnosticado com demência e faz acompanhamento com neurologista.
“Sobre esses casos, estão sendo feitas diligências no sentido de encontrá-los. Contudo, corre sob sigilo pra preservação da investigação”, afirma o delegado Rafael Neves, temporariamente responsável pela Delegacia de Homicídios e Proteção a Pessoa (DHPP) de Novo Hamburgo.
LEIA TAMBÉM
Campo Bom
Veio trabalhar no RS e desapareceu
Eules da Silva dos Santos, 22, veio do nordeste para trabalhar no Rio Grande do Sul. O último contato com a família ocorreu no dia 20 de fevereiro, quando falou com sua mãe por telefone.
A família vive em Joaquim Pires, município que fica a cerca de 239 quilômetros de Teresina, capital do Piauí. Santos trabalhava na área de construção civil e há cerca de cinco anos viajava por diferentes estados. Ele teria chegado na cidade do Vale dos Sinos cerca de um mês antes de desaparecer.
No último contato com a mãe, Santos teria dito que estava com viagem marcada para São Paulo, momento em que ela enviou R$ 350 para ajudá-lo com a passagem. Dez meses após desaparecer, ainda não há informações concretas sobre o paradeiro do jovem.
Sumiu do lar de idosos
Desde o dia 7 de março, a família de Maria de Fátima Silva Ávila, 64, não tem notícias da idosa. Ela desapareceu após ter saído pelo portão do Lar Jardim de Deus, no bairro Quatro Colônias, no limite de Campo Bom com Dois Irmãos. Segundo a investigação, uma pessoa teria deixado o portão aberto no fim daquela tarde e a mulher, diagnosticada com esquizofrenia e demência, saiu.
A Polícia Civil e o Corpo de Bombeiros fizeram buscas nas imediações do lar de repouso que Maria de Fátima residia há cerca de um mês. Cães farejadores treinados para encontrar pessoas vivas e mortas foram usados, mas nenhum vestígio foi encontrado. Nove meses após o sumiço, o caso segue sem respostas.
Sem rastros
A família de Cleverson Weber, 41, não tem notícias dele desde 1º de agosto. Foi a última vez que o viram na casa de parentes no bairro Ipiranga, em Campo Bom. De acordo com a irmã dele, Weber vivia em situação de rua desde janeiro, porém, frequentemente procurava pelos familiares e se alimentava no Centro de Referência Especializado em Assistência Social (Creas) do município. Ele costumava ficar em uma casa abandonada no bairro Porto Blos.
Antes de sumir, Weber teria falado para uma empresa de sucata onde fazia “bicos” que iria para uma clínica de reabilitação. Desde então, não foi mais visto.
O delegado Rodrigo Camara, titular da Delegacia de Polícia de Campo Bom, disse que o caso de Santos, Maria de Fátima e Weber seguem sendo investigados.
São Leopoldo
Desde a enchente
Carlos Eduardo Lassakoski dos Santos, 22, está desaparecido desde as enchentes de maio. O último contato da família com o morador do bairro Vicentina foi no dia 3 de maio, quando o prefeito Ary Vanazzi reforçava o alerta para que moradores saíssem das suas casas. O jovem é o único leopoldense que consta na lista de desaparecidos da catástrofe que atingiu o Estado. Além dele, segundo a Defesa Civil gaúcha, outras 26 pessoas ainda não forem encontradas.
Apenas desapareceu
Jeferson Isbarrola de Oliveira, 34, está desaparecido desde o dia 20 de junho. Parentes relatam que ele saiu de casa por volta das 18 horas daquele dia sem dizer para onde iria. O celular está desligado. Nesta semana, completa 6 meses que Isbarrola sumiu.
A delegada Graziela Zinella, que responde temporariamente pela Delegacia de Homicídios e Proteção a Pessoa (DHPP) de São Leopoldo, disse que os Lassakoski e Isbarrola seguem desaparecidos, mas que as investigações continuam. “Ainda não se teve êxito em nenhuma linha de investigação, que por enquanto estão mantidas em sigilo”, afirma.
Serra gaúcha
Os moradores de Canela e Gramado, Luceni Borges e Henrique Lammel, de 42 e 31 anos, respectivamente, estão desaparecidos desde julho. Eles sumiram entre o fim da noite do dia 16 e início da madrugada do dia 17 daquele mês. As últimas informações que deram aos familiares seria uma ida para São Leopoldo para buscar encomendas de compras realizadas pela internet.
Para a Polícia Civil, o desaparecimento deles pode estar ligado ao tráfico de drogas e facções que atuam na região. Cerca de cinco meses após o sumiço, não há pistas do paradeiro de Luceni e Lammel. O delegado Vladimir Medeiros afirma que a Polícia Civil segue investigando o caso.
Ivoti
A família de Pedro da Rosa, 73, convive com a angústia de não saber do paradeiro dele desde a manhã de 18 de outubro. O idoso desapareceu após ir para a roça que fica na Rua do Grotão, no bairro 48 Alta. Ele foi de carro à lavoura, nos fundos da casa onde mora com a esposa e dois sobrinhos.
Segundo a família, Pedro usava o veículo para ir até o local por conta de limitações de locomoção. Após notar o sumiço, a esposa encontrou apenas o carro com celular, a carteira e os óculos de Rosa. Cães farejadores e drone com infravermelho foram utilizados nas ações.
“Por ora, sem evolução. As investigações seguem em andamento. No momento, porém, nenhum indicativo de onde possa estar. Também não há, até agora, qualquer indicativo de crime”, salienta o delegado Fábio Motta Lopes, titular da Delegacia de Polícia de Ivoti.
Desapareceu no fim de dezembro
Para além dos dados de novembro, o caso do morador de Novo Hamburgo Karl Hans Kovar, 61, foi noticiado pela reportagem na penúltima semana de dezembro, mas já teve desfecho. O idoso desapareceu na segunda-feira da semana passada (23). Ele saiu de casa para fazer negócios em Ivoti. O carro foi encontrado dois dias depois, em Estância Velha.
O corpo da vítima foi localizado no último sábado (28), na antiga Pousada Robson, abandonada às margens da VRS-865, no bairro Nova Vila, em Ivoti. Ele foi sepultado um dia após o aniversário de 62 anos. O caso está a cargo da DPHPP de Novo Hamburgo.
Como ajudar
Em todos os casos, qualquer pessoa pode contribuir com informações do paradeiro das pessoas desaparecidas. Os relatos podem ser repassados à Polícia Civil, anonimamente, pelo telefone 197 ou pelo site do órgão, onde também é possível consultar a lista de todos os registros de desaparecimentos no RS.