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UMA DÉCADA

Delegado completa dez anos à frente da Polícia de Canela com baixa no índice de crimes

Município está há sete meses sem registro de homicídios, feminicídios ou latrocínios

Fernanda Steigleder Fauth
Publicado em: 19/04/2024 às 10h:26 Última atualização: 05/09/2024 às 11h:45
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Era abril de 2014 quando o delegado Vladimir Medeiros chegava à Delegacia da Polícia Civil de Canela. Passados dez anos frente a DP, solucionou praticamente todos os homicídios e latrocínios que ocorreram no município e ainda liderou a Operação Cáritas, que, ao longo dos últimos três anos, combate crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e irregularidades no poder público.

Vladimir



Vladimir

Foto: Fernanda Fauth/GES-Especial

Vladimir é servidor público há mais de 22 anos, tendo trabalhado dez no Ministério Público, nove na Corregedoria do MP. Na Polícia, atua desde 2010, onde ficou em Santiago, na fronteira do Estado.

O primeiro caso impactante na Serra gaúcha foi assim que chegou, no primeiro semestre. “O primeiro semestre de 2014 em Canela foi fora da curva, com muitos homicídios na cidade. Logo que cheguei, ocorreram uns quatro ou cinco de repercussão, fatos graves, que envolveu muito a comunidade. E um deles, foi o caso de uma mulher, que teve a casa invadida. Ela foi abusada sexualmente, o corpo colocado dentro de um tapete e após incendiado. Então esse talvez tenha sido o primeiro caso de gravidade”, relembra.

Apesar de uma investigação tradicional, foi uma resolução difícil. “Não tínhamos motivo que inicialmente poderia nos indicar quem teria intenção de praticar um crime daqueles. Passávamos noites, final de semana, diligência fora e dentro da cidade, até que semanas após identificamos os autores e prendemos integralmente”, justifica.

As apurações, para Medeiros, são todas vistas como prioridade. “Cada caso para aquela vítima ou família é o mais importante, eu parto dessa perspectiva. Mas existem, claro, aqueles que entendo que são mais graves, que extrapolam o limite do que estamos acostumados, que dão repercussão. Geralmente são casos de latrocínios, feminicídios, essencialmente quando são vítimas que não tem ligação com criminalidade, com tráfico de drogas, que não tem histórico ou inserção em violência. São vítimas puramente vítimas”, explica.

Quase 100% solucionados

Ao longo da década, foram 73 homicídios, latrocínios e feminicídios desde que Vladimir chegou. Praticamente 100% dos casos tiveram resolução. “Temos esclarecimento de 72 deles. Mas ainda estamos trabalhando neste, já temos os autores”, conta.

Para ele, os primeiros anos foram de crescimento da criminalidade. “A curva era ascendente, os índices aumentaram até 2017, 2018. Meus três, quatro primeiros anos, eram de volume crescente de criminalidade. De lá para cá, todos os índices de crimes graves são decrescentes. São mais de sete meses sem homicídio, latrocínio ou feminicídio. Desde 2013 isso não ocorria. Se vão pelo menos dez meses que não ficávamos sete meses sem esses casos”, frisa o delegado.

Diferentes frentes de trabalho explicam a queda da curva. “Nossa estratégia sempre foi de enfrentar todo e qualquer fato grave com absoluta e máxima prioridade, porque sabemos que a impunidade é fator para reiteração criminosa. Outro enfrentamento que fazemos sempre é identificar as lideranças. O trabalho da Polícia é diferenciado porque investigamos e focamos com diligências, quebras de sigilo, técnicas, para chegar nas lideranças e identificar as facções. Não tem nenhum traficante líder que deixou de ser preso ou que está preso. Além de focarmos na parte financeira dos grupos criminosos, retirando patrimônio ilícito, como veículos, imóveis, apreendendo dinheiro.”

Trabalho de prevenção

Vladimir e sua equipe também trabalham com a prevenção, principalmente com idas nas escolas e bairros. “Sabemos que esse trabalho a médio e longo prazo dão resultados efetivos e vemos isso em Canela”, pontua.

Ao longo dos anos, diferentes campanhas solidárias são realizadas, desde arrecadação de materiais escolares para alunos em necessidade, até litros de leite e distribuição de roupas para famílias em situação de vulnerabilidade.

“Sempre tive a intenção de fazer um trabalho social para ajudar quem precisa. Canela, através do trabalho policial, me proporcionou conhecer a cidade e verificar que de fato temos muitas dificuldades. Por conta disso, com a demanda que sei que é enorme e com a equipe policial topando, nós realizamos diversas ações, para tentar minimizar aquele problema”, diz.

Cáritas

Uma das operações policiais que chamam atenção do Estado há três anos é a Cáritas. Secretários e vereador presos, empresários investigados e muito dinheiro apreendido são resultados.

“Grande diferencial da Polícia de Canela é a coragem e capacidade técnica de enfrentar os crimes de corrupção na administração pública e setor privado. A Operação Cáritas é talvez algo que sirva de modelo para equipes de toda a região e exigiu de alguns policiais um trabalho diferenciado, técnico, de muito esforço intelectual, dedicação para apurar números e fatos que as vezes não são do histórico de trabalho de modo geral e que fez que precisássemos ao longo das investigações aprender a como trabalhar esse tipo de questão”, lembra.

“Hoje estamos muito mais preparados que inicialmente, tanto que já vão mais de dez fases, com dezenas de prisões, centenas de medidas judiciais cumpridas, milhões de reais apreendidos ou sequestrados para fazer a devolução aos cofres publicos e fez com que a comunidade tivesse um olhar diferenciado para a polícia, aumentando o grau de confiança e trazendo mais informações para apurarmos.”

Planos para os próximos dez

Vladimir reitera que o desafio para a próxima década é manter e, se possível, avançar em dados e ações. “Eu sei que os índices de Canela se comparado a outros lugares são muito bons, mas claro que tenho que olhar para o que a comunidade precisa e merece aí sim, temos alguns dados que podemos diminuir. Com os parceiros que fizemos no ano podemos avançar em ações sociais, trabalhar ainda mais a prevenção e gostaria de projetar anos que tivéssemos mais conexões de pessoas do bem para trabalhar pela cidade”, argumenta.

A ideia, ainda, é permanecer aqui em Canela. “Não tenho sonhos pessoais, meu sonho na carreira sempre foi poder ter uma atividade que a comunidade reconhecesse como efetiva. Saber que o que estou fazendo não é em vão, entender que tem dedicação, seriedade e que fazemos ao máximo. E Canela me proporciona esse reconhecimento”, conclui. 

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