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PORTO ALEGRE

Defesa de motoboy negro preso pela BM após ser agredido quer acesso às filmagens do dia

Medida é considerada fundamental para comprovar que o profissional foi vítima e não o agressor

Eduardo Amaral
Publicado em: 21/02/2024 às 11h:55
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A defesa do motoboy Éverton Goandete segue esperando o acesso às imagens do dia em que o profissional foi preso em Porto Alegre. O homem negro foi detido pela Brigada Militar (BM) no último sábado (17) após ser agredido com uma faca por um morador do bairro Rio Branco, um dos mais nobres da capital gaúcha.

Foto feita por testemunha mostra Éverton Goandete sendo preso após ter sido agredido e acionado a BM no sábado | abc+



Foto feita por testemunha mostra Éverton Goandete sendo preso após ter sido agredido e acionado a BM no sábado

Foto: Renato Judz/@nietzsche4speed

Segundo o advogado Ramiro Goulart, que representa Goandete, as imagens seriam utilizadas para confirmar que o motoboy foi a vítima e não autor da agressão. “As imagens do dia dos fatos são fundamentais para desfazer a narrativa que seu cliente agrediu o seu agressor. Everton foi atacado de surpresa por um homem armado. E quem deixará isso claro serão as imagens que estão na mão da Polícia.”

Goulart garante que o pedido de acesso às filmagens foi feito ainda no sábado, mas até o fim da terça (20), não teria sido atendido.

Ao mesmo tempo, a defesa de dois dos quatro policiais militares envolvidos na prisão garante já ter imagens da ocorrência em seu poder. “Nós temos fotos e filmagens, algumas, as feitas pelos brigadianos”, relata Andrea Ferrari, que defende um homem e uma mulher que participaram da abordagem. Ambos preferem não ser identificados enquanto correm os processos interno e a investigação da Polícia Civil.

O advogado Fabio Silveira Rodrigues, que representa os outros dois brigadianos, se manifestou por nota dizendo que irá acompanhar as investigações. (Confira abaixo)

A força das imagens

Tanto o advogado de Goandete quanto a defesa dos policiais militares depositam nas imagens feitas no dia a estratégia para provar seus pontos de vista.

“A gente sabe que determinadas situações acabam se modificando, dependendo das pessoas não aceitarem as abordagens. Então, eu não poderia te dizer o que aconteceu que chegou nessa situação, e principalmente com essas divulgações”, avalia Andrea, se referindo aos vídeos feitos por testemunhas durante a ação dos brigadianos.

Segundo a advogada, um dos equívocos que ganhou força foi em relação a como os dois envolvidos foram levados pela guarnição. “A alegação de que um foi para o camburão e o outro não, quando, na verdade, foram duas viaturas para atender a ocorrência, e uma não tinha o camburão”, afirma.

Já Goulart espera que as imagens mostrem que seu cliente foi a vítima e não o agressor. “Não é uma agressão, foi uma tentativa de homicídio e meu compromisso é comprovar isso.”

Depoimentos

Todos os policiais envolvidos prestaram depoimento à Polícia Civil na tarde de terça-feira. Além da dupla representada por Andrea, também se apresentaram em Porto Alegre os dois soldados representados por Rodrigues.

De acordo com Andrea, os seus clientes alegam que a abordagem realizada no sábado foi corriqueira. Ambos afirmam que tudo não passou de um procedimento de rotina no qual as duas partes tinham culpa. “Foi uma abordagem a princípio tranquila, onde eles foram chamados com acusações recíprocas, e eles fizeram um atendimento usando toda a técnica necessária”, afirma ela, explicando que o depoimento realizado na terça foi em razão das lesões corporais.

Cada um dos depoimentos durou cerca de uma hora, tendo sido realizados entre 14 e 16 horas. Questionada sobre a informação de que o homem branco teria sido liberado com a faca para ir até o apartamento buscar sua documentação, Andrea negou o fato. “Quando eles chegaram ao local, viram duas partes sem nenhum objeto de agressão, um acusando o outro”, afirma ela, embora reconheça que os brigadianos viram Éverton ensanguentado.

Já a defesa do motoboy refuta veementemente a tese de agressão mútua. “Como seria uma agressão mútua se o agressor desceu de casa armado com um canivete e desferiu um golpe numa pessoa que não estava nem falando com ele? Foi um golpe surpresa por um motivo torpe”, afirma Goulart.

Um novo depoimento dos policiais será prestado nesta quinta-feira (23) no âmbito da investigação interna da corporação.

Nota do advogado Fabio Silveira Rodrigues

“A defesa dos militares envolvidos no incidente do sábado 17/02/24, em Porto Alegre informa que vai acompanhar atentamente a apuração dos fatos, para que a avaliação observe as garantias dos envolvidos, sem que a questão noticiada sobressaia sobre a técnica empregada.

Evidentemente que a corporação precisa proceder essa avaliação com responsabilidade e proporcionalidade, evitando o exacerbamento dos ânimos e apurando com imparcialidade todo o ocorrido.

Temos confiança de que a análise imparcial dará ao fato a dimensão real e faremos todo o esforço probatório nesse sentido na sindicância e no inquérito.”

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