Uma advogada trabalhou pela soltura de um cliente para ele ser morto e ainda participou diretamente do homicídio. O insólito plano, executado no início do ano no Vale do Caí, resultou na prisão de uma criminalista de 44 anos na manhã desta terça-feira (12). Ela mora e tem escritório em Canoas. Outros 15 investigados foram capturados na Operação 5º Mandamento, que apura onda de assassinatos na Serra motivada por uma guerra do tráfico.
A advogada foi surpreendida às 7 horas em casa, no bairro Estância Velha, com um mandado de prisão preventiva. Segundo o delegado de Bom Princípio, Marcos Pepe, a criminalista foi pivô da morte do cliente Bruno Minozzo da Silva, 33, apontado como um dos líderes do tráfico na Serra.
Na manhã de 6 de janeiro, ela foi buscar o apenado no Presídio Regional de Caxias do Sul. Havia conseguido a progressão do cliente para o regime semiaberto. Com uma tornozeleira eletrônica recém-instalada, Minozzo entrou no carro da defensora, um Gol preto, que o levaria a Porto Alegre.
Emboscada na hora do almoço
Os dois pararam para almoçar em um restaurante à margem da RS-122, em Bom Princípio. Foi só o carro estacionar e a advogada descer, que três homens armados desceram de uma caminhonete SUV dourada. O apenado levou mais de dez tiros de fuzil no banco do carona.
A advogada não se feriu. “Ela forneceu informações privilegiadas e acompanhou a soltura do preso para possibilitar a execução dele”, declara o delegado.
Minozzo tinha extenso histórico criminal. Além de tráfico, respondia por homicídios, porte ilegal de arma, roubo, ameaça e lesão corporal. Pepe revela que bens e contas bancárias da advogada foram bloqueados. Um telefone celular foi apreendido para a sequência das investigações. O nome da indiciada não é informado por conta da Lei de Abuso de Autoridade.
Mulher estaria ligada a líder preso no Rio de Janeiro
Três dias após a execução em Bom Princípio, um dos principais traficantes da Serra gaúcha foi capturado na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. Osni da Conceição, o Dudu, 42, vivia em um apartamento perto do mar com nome falso desde que saiu do presídio de Caxias do Sul e rompeu a tornozeleira eletrônica, em fevereiro de 2020.
A advogada investigada teria relação com o foragido, já condenado por homicídios e denunciado por pelo menos outros dois. Ele também possui indiciamentos por tráfico, corrupção de menores e outros crimes. Segundo a Polícia, durante o período em Copacabana, Dudu seguiu coordenando o tráfico de drogas e determinando a execução de rivais.
Pelos elos que deixou no esconderijo, mandados de busca e apreensão foram cumpridos nesta terça no Rio de Janeiro pela Operação 5º Mandamento, da Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DPHPP) de Caxias do Sul e DP de Bom Princípio.
Droga, dinheiro e armas de grosso calibre
Durante as 16 prisões, a maioria em Caxias do Sul, foram apreendidos dinheiro, crack, cocaína, dez automóveis, duas motos e armas de grosso calibre, como um fuzil calibre 556 e duas espingardas. Um dos grupos envolvidos na guerra do tráfico tem ligação com a facção do Vale do Sinos que comanda o tráfico em presídios na maior parte do Estado.
Os investigados responderão pela prática dos crimes de homicídio, tráfico de drogas, associação para o tráfico, organização criminosa e lavagem de dinheiro, com penas previstas que podem ultrapassar 50 anos de reclusão.
Mais de 60 policiais civis foram mobilizados. Também foram executadas 24 ordens de bloqueio de contas bancárias e sequestro de bens, avaliados em mais de meio milhão de reais. O nome da operação diz respeito ao mandamento bíblico “não matarás”.
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