Sérgio Alberto Seewald, de 66 anos, conhecido como o “mago do leite” ou “alquimista”, voltou ao centro das atenções em mais uma fase da Operação Leite Compen$ado, deflagrada nesta quarta-feira (11). Natural de Ivoti, no Vale dos Sinos, Seewald tem formação como químico industrial e um histórico de envolvimento em fraudes no setor lácteo que remonta há mais de uma década.
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O “mago do leite” já havia sido preso em maio de 2014 durante a quinta fase da Operação Leite Compen$ado, no município de Imigrante, no Vale do Taquari. Na ocasião, ele foi identificado como peça-chave em um esquema que utilizava soda cáustica, bicarbonato de sódio e água oxigenada para adulterar o leite na indústria de laticínios Hollmann. Essas substâncias eram usadas para mascarar a deterioração do produto e ajustar seu pH, tornando-o aparentemente apto para consumo, mas representando graves riscos à saúde dos consumidores.
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Após a prisão naquela época, ele foi submetido a processos judiciais que se arrastaram por anos, sem uma condenação definitiva. Na Comarca de Teutônia, onde tramita o processo em razão da prisão em 2014, medidas cautelares foram impostas ao químico industrial, como a proibição de trabalhar no setor de laticínios, mas isso não impediu que ele continuasse a atuar de forma clandestina.
A conexão com a Dielat e a exportação para a Venezuela
A investigação que culminou na operação desta quarta-feira começou após o Ministério Público do Rio Grande do Sul receber uma denúncia formal contra Seewald. A partir disso, os investigadores rastrearam sua ligação com a Dielat, de Taquara. Tudo começou após os promotores descobrirem que, em 2022, o mago do leite transferiu sua Carteira Nacional de Habilitação (CNH) para o estado do Amazonas. Ele também habilitou um telefone com DDD de Manaus.
Logo, os investigadores identificaram que a Dielat possui atividades em Manaus, tanto que realiza a exportação de produtos lácteos para a Venezuela. Essa conexão levantou suspeitas e motivou o aprofundamento da investigação, até que os agentes conseguiram comprovar que Seewald prestava serviços à empresa de Taquara há, pelo menos, três anos.
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Ousadia do “alquimista” irrita promotor
O “mago do leite” é descrito pelos promotores como o cérebro técnico das operações fraudulentas. Ele se posiciona como o “criador” da fórmula de adulteração de produtos lácteos, utilizando quantidades precisas de soda cáustica e outras substâncias de modo a dificultar sua detecção em exames laboratoriais. “É como se ele tivesse patenteado essa fraude: Ele sabe exatamente como contornar as análises de qualidade”, destaca o promotor Mauro Rockenbach.
Seewald foi preso na manhã desta quarta-feira em sua casa, no município de Imbé, no litoral norte gaúcho. “Ele não se mostrou surpreso com a nova prisão, e não apresentou qualquer alteração de sentimentos. Pelo menos, desta vez, não pediu para colocar gravata antes de sair de casa”, afirma Rockenbach.
Essa é a terceira vez que Seewald é preso pelo Ministério Público. “Se vocês me perguntarem até quando esse cidadão vai continuar fraudando leite, trabalhando como alquimista da fraude do leite, eu não tenho resposta para isso. Essa já é a terceira vez que o Ministério Público põe a mão nesse cidadão”, desabafa o representante do MPRS.
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Conforme o promotor, o químico industrial foi condenado em 2005, quando era sócio da Nutrilat, em Estrela, por fraude no leite, mas conseguiu a absolvição em segunda instância. Voltou a ser preso em 2014, quando era sócio da laticínios Hollmann, e foi colocado em liberdade.
“O processo perdura há dez anos. Dez anos. E ele continua fraudando leite. Eu não tenho essa resposta para dar de até quando ele vai continuar. Mas afirmo que vou continuar investigando ele, em nome da sociedade, até o meu último dia de atuação no Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul. Mas o que o Judiciário vai fazer com ele, eu não sei”, conclui Rockenbach.
A defesa de Sérgio Alberto Seewald foi procurada e disse que o cliente não tem relação formal ou informal com a empresa Dielat. “Trata-se, pois, de uma criação de fatos por parte do Ministério Público, que não enseja a verdade. Todas as medidas necessárias para a sua soltura estão sendo tomadas, desde já”, afirma o advogado Nicholas Horn.
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