VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
"Espero que seja feita justiça": Filho fala sobre pai que agrediu esposa a marretadas e colocou fogo na casa
Filho do casal relembra que acordou com os gritos da mãe e a socorreu; crime aconteceu em 2018
Última atualização: 06/02/2024 10:13
Um comerciante de 57 anos vai a júri, na quinta-feira (8), por agredir a esposa com marretadas na cabeça e depois incendiar a casa da família, no bairro Canudos, em Novo Hamburgo.
“Espero que seja feita justiça”, declara o filho do casal, um analista de sistemas de 33 anos, que socorreu a mãe, uma dona de casa de 64 anos, do ataque insano do pai na manhã de 16 de dezembro de 2018. É mais um caso de alcoolismo na violência doméstica.
Ao definir a data do júri, em despacho no último dia 17, o juiz Guilherme Machado da Silva expediu a intimação do réu com a observação de que está “em lugar incerto e não sabido”. O comerciante será julgado pelos crimes de homicídio tentado e incêndio criminoso. A sessão está marcada para as 9h30 e deve terminar à noite.
O filho recorda das agressões na casa dos fundos na Rua Curitibanos, por volta das 10h30. “Era um domingo. Acordei com os gritos da minha mãe pedindo socorro, dizendo que ele iria matá-la. Quando saí do quarto, ela sangrava muito, com a mão na cabeça, e ele estava na porta com uma marreta na mão. Deu tempo de pegar ela e sair para a rua buscar ajuda de vizinhos. Em menos de cinco minutos, começou a fumaça.”
O último contato
Quando o Corpo de Bombeiros chegou, a casa mista - de madeira e alvenaria - já estava destruída. A construção da frente, onde funcionava a lancheria da família anexa a outra casa, foi salva pelos bombeiros. Foi o último contato com o pai. “Ele se escondeu por alguns dias para não ser preso em flagrante e minha mãe foi hospitalizada. Perdemos tudo. Ficamos só com a roupa do corpo.”
Como o terreno é propriedade da família do agressor, ele voltou para lá. “Eu fui para casa de amigos e minha mãe conseguiu abrigo com uma irmã. Recomeçamos do zero”, conta o analista de sistemas, que hoje mora com a mãe.
O reencontro com tristes lembranças
Em audiência no ano passado, mãe e filho se reencontram com o acusado no corredor do fórum. Mas não se falaram. Os depoimentos foram tomados em separado. Assim deve ser no salão do júri. O analista de sistemas aguarda a condenação do pai. “Acordar e ver que perdemos tudo o que havia sido construído é difícil de descrever. Espero pelo mínimo de justiça, pois isso não pode passar impune.”
Ao mesmo tempo, há um sentimento de tristeza pelo pai. “Sempre vi trabalhando e o alcoolismo destruindo o que construía. É triste. Até hoje não gosto de falar.” Os pais estavam juntos há 30 anos. “Desde pequeno eu via brigas, mas não a esse extremo. Não sei ele entrou em surto.”
Conforme relato da mãe, ela estava sentada à mesa esperando o então marido para o café da manhã, quando ele veio por trás e bateu com uma marreta na cabeça dela duas vezes. Até hoje ela não sabe o porquê do ataque. Uma hipótese é síndrome de abstinência. O homem estava há um período sem beber por insistência da esposa. Ela recorda que foi socorrida pelo filho e que precisou fazer pontos na cabeça.