INSEGURANÇA
CATÁSTROFE NO RS: Desalojados agora deparam com as casas saqueadas no Vale do Sinos; veja vídeo
"Como pode haver gente tão ruim?", questiona desabrigada que teve a residência invadida por ladrões
Última atualização: 09/05/2024 22:52
Desde que foi resgatado de casa com a família por voluntários, no início da tarde de sábado (4), o comerciante Alexsander Anselma, 44 anos, vivia a aflição de saber a situação da propriedade, no bairro Rio dos Sinos, em São Leopoldo. Na manhã desta quinta-feira (9), ele conseguiu voltar de barco e constatou o que temia. O imóvel, ainda inundado, foi saqueado. É a realidade de milhares de desalojados na região metropolitana, já traumatizados pelos momentos de pânico na enchente.
"É um misto de tristeza, desespero e raiva. Parece que estamos num filme de terror. Me sinto anestesiada, e acho que só vai cair de vez a ficha quando eu mesma ver tudo aquilo", declara a esposa do comerciante, Alexandra Rommel, 48. Com o marido, o filho do casal, seis gatos e dois cachorros, está abrigada na casa de um cunhado no bairro Scharlau.
Na carona de uma embarcação por volta das 8h30, o comerciante finalmente pôde verificar a casa que comprou há nove meses. Em vídeo, ele mostra o carro dele, uma picape Saveiro, completamente submersa na garagem. "Conseguimos entrar no pátio com água pela cintura. O pior não é a perda para a natureza. O pior é chegar e ver a porta arrombada."
Ele mostra que, entre os três televisores furtados, um foi arrancado da parede com o suporte. Os ladrões levaram eletrodomésticos e eletrônicos colocados pelas vítimas sobre móveis mais altos, para não molharem, além de outros objetos, como botijão de gás. "Mas vamos buscar de volta. É trabalhando que vamos conseguir", salientou.
A esposa não se conforma. "Como pode haver gente tão ruim, que se aproveita de uma tragédia coletiva para tirar de quem já perdeu tanto?" Alexandra acrescenta que itens pessoais, como roupas, também foram furtados. "Não foi possível ver tudo o que nos roubaram, pois há muita coisa revirada debaixo da água, e meu marido não podia ficar muito tempo, porque o barqueiro voltou logo para buscá-lo."
Vítimas organizam “patrulhas civis”
Enquanto as águas baixam lentamente, aumenta a preocupação com a segurança das propriedades. "Os bandidos só conseguiam chegar de barco e visavam casas com segundo piso. Com água agora na altura do peito em alguns lugares, já podem circular a pé no meio do abandono, mas continuamos nos revezando, entre vizinhos, para vigílias de barco", conta um morador de 37 anos do bairro Scharlau, em São Leopoldo.
Desabrigados de várias cidades se organizam em grupos de WhatsApp. Em um deles, com vítimas entre os bairros Santo Afonso, em Novo Hamburgo, e Santos Dumont, em São Leopoldo, também há a articulação do que chamam de "patrulhas civis". Relatos e imagens de moradores agredindo ladrões se disseminam. "Pelo menos temos o alento dessa união do pessoal se ajudando no que pode. Se nada for feito, vai ser muito pior", diz um comerciante de 44 anos.