INVESTIGAÇÃO
CASO JÉSSICA: Mulher de traficante é a nova suspeita pelo desaparecimento de jovem em Novo Hamburgo
Sumiço completa dois meses nesta segunda-feira com desdobramentos que aumentam angústia da família
Última atualização: 31/03/2024 20:43
O desaparecimento em Novo Hamburgo da moradora de Sapucaia do Sul Jéssica de Oliveira, 30 anos, completa dois meses nesta segunda-feira (1º) com a notícia da suposta mandante e desdobramentos que aumentam a angústia da família. As redes sociais da vítima, que subitamente começaram a ser usadas para curtir fotos do filho, de cinco anos, caíram na inatividade na semana passada.
A mais nova suspeita é a mulher de um traficante do Vale do Sinos, que teria ido passar um período no litoral norte na época do desaparecimento. Ela seria a mentora do crime, por motivo passional e financeiro. É companheira de um apenado de Charqueadas que contratava programas sexuais de Jéssica na forma de visitas íntimas. "Ela estava incomodada não só por ciúmes. Ficou sabendo que o traficante vinha repassando muito dinheiro para a Jéssica", relata uma testemunha da investigação.
As elevadas quantias não eram só como pagamento pelos programas. Aos poucos, a garota entrava nos negócios do tráfico. "É só uns corre", disse ela a uma pessoa próxima, na semana do desaparecimento, para justificar o trânsito com sacolas de dinheiro e drogas pela região. Balança de precisão e documentos apreendidos no apartamento dela reforçam os indícios.
Emboscada
Informada sobre a concorrente em potencial, a companheira teria ido ao presídio e pressionado o traficante a romper relações com a "amante". O perdão estaria condicionado a eliminar Jéssica. Dependente da mulher, que seria a responsável pelas finanças da quadrilha vinculada à facção do Vale do Sinos, o condenado aceitou. E uma emboscada foi armada para a garota de programa, com emprego de membros do grupo criminoso.
O detento é o traficante que já vinha fazendo ameaças a Jéssica, conforme revelado pela reportagem. A vítima fazia visitas íntimas a pelo menos outros dois presos e trabalhava como acompanhante de luxo. Tinha perfil em uma plataforma digital que anuncia mulheres, onde se identificava como Andressa.
"Meu neto acha que foi abandonado pela mãe"
Para a mãe, a cozinheira Rita de Cássia Oliveira, 46, são remotas as chances de encontrar Jéssica viva. "É muito difícil para uma mãe dizer isso, mas a verdade é que a Jéssica se envolveu com gente pesada. Nos passaram recado, esses dias, que o corpo foi jogado no rio, enterrado ou queimado."
Conformada com a perda, ela diz que a maior preocupação é com o filho de Jéssica. De acordo com amigos e parentes, a jovem era muito apegada à criança. "Meu neto acha que foi abandonado pela mãe. Está sendo levado à igreja e à psicóloga para entender que a mãe foi para o céu."
Rita comenta que tinha reacendido as esperanças no fim de fevereiro, quando repentinamente o perfil de Jéssica no Instagram e Facebook curtiu fotos do filho e parentes próximos. "Fiquei arrepiada. Só ela tinha a senha. O telefone dela se mostrava ativo, mas nos últimos dias voltou a ficar sem sinal e ninguém mais se manifesta nas redes dela. Era alguém se passando por minha filha. Esperamos que a Polícia tenha rastreado."
A família cobra respostas da investigação, que está com a 2ª Delegacia de Polícia de Sapucaia do Sul. "A gente não recebe qualquer informação. Isso só aumenta nosso sofrimento." O órgão não se manifesta.
O caso
Jéssica é contratada para um programa, por meio de um site de acompanhantes, e sai de casa, no bairro Bela Vista, em Sapucaia do Sul, no início da tarde de 1ª de fevereiro
Às 14h41, em chamada de vídeo para o filho e a irmã, diz que está no bairro Lomba Grande, em Novo Hamburgo. Parece preocupada, dentro do carro dela, um Polo branco. No banco do carona, aparece um homem de braço tatuado.
Preocupada, a irmã adolescente tenta novo contato, mas o celular de Jéssica já está sem sinal. Pelo rastreamento, a Polícia sabe que o local é em área isolada de Lomba Grande.
Às 17h40, com a ocorrência de desaparecimento recém registrada, o Polo é captado por câmeras na Rua Guia Lopes, perto do Porto Seco, na altura do bairro Santo Afonso, mas sem definição de imagem para ver quem está dirigindo ou quantas pessoas há no veículo.
Por volta das 21h30 do dia seguinte, o carro é encontrado incendiado em mata de difícil acesso à margem da Rua Presidente Lucena, bairro Primavera, sem vestígios de vítima. Foi necessário uma retroescavadeira para a remoção.