Segurança

Brigada Militar dá início a um curso de prevenção a ataques em escolas

Diretor do Departamento de Ensino da corporação, o coronel Jorge Dirceu Abreu Silva Filho esclarece o trabalho que será desenvolvido com as instituições

Publicado em: 28/02/2024 13:13
Última atualização: 28/02/2024 13:14

Na manhã do dia 5 de abril de 2023, um homem de 25 anos invadiu uma creche e matou cinco crianças, ferindo outras cinco com uma machadinha, em uma creche, em Blumenau, Santa Catarina.

Coronel Dirceu no curso que está capacitando PMs no enfrentamento à violência Foto: BRIGADA MILITAR/DIVULGAÇÃO

O autor não tinha nenhuma relação com a creche. Ele teve um surto psicótico e atacou as crianças 4 a 7 anos sem razão aparente. Se entregou minutos depois à polícia. O caso chocou o Brasil.

Pensando no impacto causado por esse tipo de atentado, a Brigada Militar (BM), por incentivo do comando da corporação, e com o apoio da Secretaria Estadual de Segurança, deu início a um trabalho de pesquisa visando desenvolver uma metodologia que garantisse a prevenção ao crime.

O resultado do trabalho de campo foi a elaboração de um curso, que começou no dia 21, capacitando, em um primeiro momento, oficiais da corporação para se tornarem multiplicadores do programa que será inserido nas instituições.

Responsável por elaborar o projeto, o diretor do Departamento de Ensino da corporação, o coronel Jorge Dirceu Abreu Silva Filho, explica que o curso é desenvolvido em duas frentes.

Há o trabalho de policiamento ostensivo, prevenção e resposta por parte dos Policiais Militares (PMs) e também a implementação de uma metodologia em parceria com as escolas que queiram estar preparadas para qualquer adversidade.

Para desenvolver o curso, a Brigada partiu de modelos de prevenção já estabelecidos pela polícia em outros estados, além de adotar técnicas já conhecida pela polícia norte-americana.

Houve integração com a Secretaria Estadual de Educação para estabelecer parâmetros que pudessem ser seguidos em conjunto.

“Nós não inventamos nada”, esclarece. “O curso foi desenvolvido baseado em modelos sólidos, que já existem em outros estados, visando o alerta e a prevenção a qualquer crime”, acrescenta.

Treinamento

O coronel aponta que a formação capacitou inicialmente mentores e instrutores do Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd) para a prevenção e enfrentamento a ataques.

Eles serão os multiplicadores que vão levar conhecimento e instruções a diretores, professores e funcionários das escolas que queiram receber o treinamento a partir de agora, explica o oficial.

“O projeto foi criado pensando em escolas públicas e particulares”, avisa. “Queremos qualificar a prevenção e antecipar qualquer tipo de comportamento que possa ser considerado suspeito e mereça mais atenção”.

A aula inaugural do curso contou com a palestra do 1º Sargento do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Paraná (Bope PR) Valdines Rietow, que abordou o tema: “Agressores ativos: panorama no Estado do Paraná”.

“Buscamos contar com a experiência de expertise de profissionais que buscaram qualificação até mesmo nos Estados Unidos”, frisa. “E então adaptamos os protocolos à nossa realidade no Rio Grande do Sul”, conclui.

Preparação começa em março, informa a Secretaria Estadual de Educação

Coordenador da Assessoria de Integridade e Atendimento ao Cidadão da Secretaria Estadual de Educação, Guilherme Corte explica que o assunto violência nas escolas foi pauta no encontro pedagógico da Seduc com a rede escolar no último dia 9 de fevereiro.

Foi quando a Secretaria de Educação apresentou uma série de protocolos que fazem parte do projeto “Paz e Segurança nas Escolas”. Entre os elementos apresentados, está o primeiro protocolo que trata das formas de violência observadas dentro e fora das salas de aula.

“É um processo que vai seguir várias etapas”, explica. “Inicialmente, a rede escolar tomou conhecimento dos protocolos e irá difundi-los nas instituições do Estado”, continua. “A partir da metade de março, será iniciada a preparação com treinamentos nas instituições”.

A pauta violência deve seguir firme ao longo do ano letivo, diz o coordenador. A meta da Secretaria de Educação é aprofundar o assunto e tornar cada protocolo de segurança um orientador de como agir ao perceber qualquer tipo de violência na instituição.

“Haverá treinamentos específicos em que vamos aprofundar as questões relativas à violência”, frisa. “Brigada Militar, Polícia Civil, Secretaria de Segurança estão inseridas. Cada uma tem um papel bem definido de atuação”.

Histeria

Embora sempre um choque à população, os ataques a escolas americanas são registrados desde a década de 70. Se tornaram mais comuns devido à cobertura da mídia a partir dos anos 90.

“Eu lembro do caso de um cidadão que abriu fogo em um cinema de São Paulo, mas isso aconteceu lá em 1999”, aponta o coronel. “Porém, essa a realidade se mantinha bastante distante, principalmente dos gaúchos”, diz.

Logo após o caso em Santa Catarina, contudo, uma série de ameaças de invasões em instituições de Osório deixou a polícia gaúcha em polvorosa. As rondas foram reforçadas na época e houve histeria de pais e mestres.

“O assunto precisa ser tratado com muito cuidado, porque é delicado”, avalia. “Há ameaças vazias que somente causam o terror na população. A criança, afinal de contas, é o bem mais precioso de um pai e de uma mãe”.

Altar para Adolf Hitler

Foi em outubro de 2019 que Polícia Civil e Brigada Militar frustraram um suposto ataque a uma instituição em Nova Santa Rita, levando à cadeia um jovem que ameaçava matar colegas e professores com um atentado.

O ataque estava marcado para ocorrer em outubro daquele ano. A investigação conduzida pela polícia revelou que o suspeito pretendia usar uma arma branca para cometer o crime.

A apuração começou quando o jovem passou a ameaçar pelo WhatsApp colegas e professores da instituição. A denúncia levou a polícia até a casa do suspeito, onde havia até um altar para adoração de Adolf Hitler.

“O autor do ataque vinha pesquisando muito sobre as mortes que aconteceram em São Paulo, que aconteceram naquele mesmo ano, meses antes, em uma escola de Suzano”, esclareceu na época o delegado Mario Souza.

Gostou desta matéria? Compartilhe!
CategoriasCanoasPolícia
Matérias Relacionadas