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ENVENENAMENTO

EXCLUSIVO: "Começaram a passar mal na mesa", viúvo narra o dia em que perdeu esposa e filha ao comerem bolo envenenado

João Joaquim dos Anjos, 70 anos, não comeu o bolo, mas perdeu a mulher, Neuza Denize, e filha, Tatiana, durante trágico episódio em Torres

Publicado em: 07/01/2025 às 13h:26 Última atualização: 07/01/2025 às 13h:55
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Uma pequena loja de artigos esportivos na Universidade La Salle, em Canoas, era administrada durante anos por uma mulher gentil e simpática a quem todos tratavam com enorme carinho. Eis o choque de colegas e amigos quando Neuza Denize da Silva dos Anjos, de 65 anos, morreu devido ao envenenamento causado por um bolo servido durante uma reunião em Torres na antevéspera do Natal, no dia 23 de dezembro do ano passado.

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Por circunstâncias do luto, a loja permanecia fechada desde a tragédia que vitimou Neuza, a filha Tatiana Denize Silva dos Santos, 43, e a irmã de Neuza, Maida Berenice Flores da Silva, 58.

Porém, o endereço acabou reaberto por João Joaquim dos Anjos. Marido de Neuza, o homem de 70 anos voltou ao local para tentar aliviar o luto da perda da mulher, da filha e da cunhada antes das comemorações de fim de ano. Aguarda para rever o neto de 10 anos, que permanece no litoral norte com o pai após sobreviver ao envenenamento e ser liberado do Hospital Nossa Senhora dos Navegantes na semana passada.

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À reportagem, ele lembrou do trágico episódio no litoral norte e disse ter dificuldade em entender o que teria motivado alguém causar mal à família. “Eu não consigo entender por que uma criatura faria uma coisa assim”, desabafa. Veja entrevista completa abaixo:

João Joaquim dos Anjos, 70 anos, perdeu a mulher e a filha envenenadas em Torres



João Joaquim dos Anjos, 70 anos, perdeu a mulher e a filha envenenadas em Torres

Foto: LEANDRO DOMINGOS/GES-ESPECIAL

ABCmais – O que levou o senhor a querer retomar o trabalho?

João Joaquim – Abri a loja porque precisava sair um pouco e pensar em outra coisa. Meus irmãos estão na minha volta dando força, mas dói e estou sentindo demais. Perdi as pessoas que mais amo, assim, do nada.

ABCmais – Durante o sepultamento da sua esposa, ouvimos comentários de que ela estava muito feliz com o encontro com as irmãs em Torres. É isso mesmo?

João Joaquim – É claro, pois estavam sempre grudadas. Quando não estavam reunidas lá, estavam reunidas aqui. A gente mora no Mathias Velho e teve que sair quando a casa ficou debaixo d’água no ano passado. Mas nem isso conseguiu separar o amor entre elas. Então se reencontrar seria aquela coisa gostosa de sempre. Ninguém poderia imaginar que a família seria destruída em Torres.

ABCmais – O que permanece mais vivo em sua memória sobre o episódio?

João Joaquim – Lembro que a gente sentou para tomar café e repartiram o bolo. Eu gosto de bolos, mas não comi só porque, naquela hora, não estava com vontade. Comeria depois. Servi uma xícara de café preto e fiquei ali. Estava todo mundo conversando. Eu nem tinha terminado o cafezinho e começaram a passar mal na mesa.

ABCmais – Então o efeito foi muito rápido?

João Joaquim – Foram minutos. Tudo muito rápido. Corremos para o hospital [Nossa Senhora dos Navegantes] com todo mundo passando mal. Logo disseram que era alguma bactéria, mas quando pioraram e a primeira morreu [Maida] já não souberam dizer mais nada no hospital. Estavam perdidos. Fiquei ali acompanhando a tudo. Não podia fazer nada.

ABCmais – Logo após o que aconteceu, o senhor ouviu falarem sobre um possível envenenamento? O que pensou sobre isso?

João Joaquim – A gente sabia o que andavam falando, mas quem é que iria querer matar alguém da nossa família? A gente não faz mal para ninguém. Por que iriam querer o mal? Não dava para entender uma coisa assim. Por que destruir uma família assim?

ABCmais – Imagino que o senhor soube a respeito da prisão de Deise Moura dos Anjos. O que pensou de imediato?

João Joaquim – Olha, quem conhece, não dá para dizer nada. Ela estava sempre com a gente, rindo e brincando. Mas se prenderam, deve ter algum cabimento, porque a polícia lacrou a casa de todo mundo. Ninguém entrava ou saía. Só para eles acharem alguma coisa que pudesse esclarecer o que aconteceuSe prenderam, imagino que é porque acharam alguma coisa. Mas é difícil acreditar.

ABCmais – Imagino que o senhor já prestou depoimento. O que disse a eles? Suspeitava de alguma coisa?

João Joaquim – Conversei, mas é claro que não suspeitava de nada. Falei o que sabia e sinto. A gente estava muito bem. Minha filha estava morando com a gente de novo. Estava tudo se ajeitando. Não tinha por que suspeitar de nada porque não tinha nada para suspeitar.

ABCmais – E quanto a seu neto?

João Joaquim – Meu neto está com o pai no litoral. Só que ele vai ter que voltar, porque estuda aqui. Imagina a situação? Porque agora ele está aceitando como se fosse um adulto, mas, com o passar do tempo, imagina o estrago nesta criança? O impacto vai ser muito grande. Ele perdeu a mãe, a avó que fazia tudo por ele e a tia que era professora e ensinava de tudo para ele. Perdeu tudo em um golpe só.

ABCmais – O senhor guarda rancor ou sentimento de revolta contra a pessoa que causou as mortes?

João Joaquim – Nada que eu diga ou faça irá trazer elas de volta. Não há nada. Então, por enquanto, continuo só sobrevivendo.

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