ESTÂNCIA VELHA
Assassinato em festa de som automotivo foi por causa de ciúmes
Polícia desvenda insólita execução de jovem, que teve corpo desovado em Dois Irmãos
Última atualização: 08/07/2024 21:10
Um traficante de 23 anos, conhecido como Índio, chega de moto a uma festa de som automotivo, desce da carona e executa a tiros um jovem em meio ao público. Vai embora. Sai todo mundo às pressas. O evento acaba. As batidas de funk dão lugar ao silêncio. O corpo é desovado em outra cidade. A Polícia Civil descobre que o motivo do homicídio não está relacionado a droga, como inicialmente cogitado. Conclui que se trata de crime passional e consegue a prisão do autor.
O morador de Novo Hamburgo Vítor Marcelo Parede de Oliveira, o Lepe, 20, ajudava na organização de encontros de som automotivo. Foi atacado sem chance de defesa quando se divertia com amigos, no fim da noite de 26 de agosto do ano passado, um sábado, em um sítio perto da BR-116, no bairro Rincão Gaúcho, em Estância Velha.
Os estampidos se misturaram ao funk. Baleado, Vitor conseguiu correr por 50 metros até cair morto. Ninguém teve coragem de parar o atirador, por ser conhecido membro de facção. Ele ainda foi até a vítima, de arma em punho, para ter a certeza que estava sem vida. Voltou à carona da moto e fugiu. Não ficaram testemunhas. Nem o cadáver.
Vestígios
Avisados sobre os tiros, policiais militares ainda receberam o vídeo de um homem caído, com uma poça de sangue na altura da cabeça. Mas não encontraram vítima alguma na área, a não ser vestígios de saída às pressas de um grupo numeroso de carros. Muita bebida foi deixada para trás. Havia gelo despejado no chão na tentativa de ocultar o sangue.
Até então, a informação oficial era de uma pessoa supostamente morta em uma “rave” no limite com Ivoti. A localização de um corpo pela manhã, por volta das 7 horas, uniu os pontos. Foi avistado por uma mulher que havia saído para caminhar, à margem da BR-116, no bairro Travessão, em Dois Irmãos. A perícia confirmou que a vítima era Vítor.
“O autor não teve medo de se expor”, declara delegado
Para o delegado de Estância Velha, Rafael Sauthier, a forma espalhafatosa como o traficante cometeu o crime denota a despreocupação com as consequências e demonstra a determinação em matar. “Alheio à presença de várias outras pessoas colocadas em risco, ele foi à festa para cometer o homicídio. O autor não teve medo de se expor”, observa.
A vida do matador, que estava em liberdade provisória por tráfico, e a da vítima, também envolvida com droga, levantavam a suspeita de execução por rixa ou dívida no submundo do crime. Mas não era por isso.
Vitor tinha um filho de 1 ano com a então companheira de Índio. “O autor nutria ciúmes pela forma como sua mulher se relacionava com o ex. Então decidiu eliminá-lo”, relata o delegado. Segundo Sauthier, o homicídio foi elucidado já no ano passado.
“Nesse período, representamos pela prisão preventiva do autor, que foi decretada pelo Poder Judiciário. Ele se escondia entre o Vale do Sinos e Caçapava do Sul. Quando foi capturado, no mês passado, pela Brigada Militar, concluímos o inquérito e o indiciamos por homicídio duplamente qualificado.” As qualificadoras são motivo fútil e emboscada ou outro recurso que dificulte a defesa da vítima.
Índio foi capturado na noite de 13 de junho, na carona de um Fiat Uno que circulava pelo bairro Rincão, em Novo Hamburgo. O nome não é publicado por conta da Lei de Abuso de Autoridade.
Um crime “maquiado”
Quando os brigadianos chegaram, cerca de duas horas depois dos tiros, não havia corpo. A dona da propriedade afirmou não ter visto nada, mas relatou que estranhou a festa ter terminado antes do horário de costume. Os carros tinham saído juntos por volta da meia-noite. Ela alugava o local, em antiga área de pedreira, com frequência para o mesmo grupo de som automotivo.
“Os organizadores da festa ou frequentadores agiram para maquiar o homicídio, tanto na tentativa de ocultar vestígios de sangue como na desova do cadáver em Dois Irmãos”, comenta o delegado.
Para Sauthier, a então companheira do matador tentou protegê-lo no período em que esteve foragido, apesar de ter matado o pai do filho dela. Ela havia deixado o menino com Vitor no fim de semana do crime. Para ir à festa, o jovem pediu para a mãe dele cuidar da criança.
A possível proteção da companheira teria acabado há dois meses, quando a jovem denunciou que ela e o filho foram agredidos por Índio no bairro Roselândia, em Novo Hamburgo. O motivo: ciúmes. A mulher pediu medida protetiva de urgência.